20/07/11

SAGRAÇÃO DA REAL BASÍLICA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (Basílica da Estrela) I

RELATO DA SAGRAÇÃO DA REAL BASÍLICA DO MOSTEIRO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (Basílica da Estrela – Lisboa) 

I parte


Segue-se a transcrição do relato da sagração da Real Basílica do Mosteiro do Sagrado Coração de Jesus recentemente desconhecido por “Basílica da Estrela”, retirada do livro “Memórias da Basílica da Estrela – Escritas em 1790 por Manuel Pereira Cidade, capelão da mesma basílica”. Dividi o longo relato por títulos:

Dia 13 (Sexta-feira)

Havendo-se acabado a estrutura do majestoso Templo do S.S. Coração de Jesus, aonde se vê o bom gosto de mãos dadas com a magnificiencia, logo se ordenou a sua Sagração. Para este fim se erigio junto delle hum espaçoso edifício de madeira ricamente adornado, em que havia huma grande casa, aonde se dispoz o Sacello das Reliquias para a Sagração dos Altares; huma vistosa e extendida varanda, por onde circulou a procissão das mesmas Reliquias; e os mais lugares adequados para a accommodação do Emminentissimo Senhor Cardeal Patriarcha, Ecellentissimos Principaes, Illustrissimos Monsenhores, Reverendos Conegos, Beneficiados, e mais Ministros e Serventes de todas as classes da Santa igreja Patriarcal, que havião de officiar em tão solemne função, para a qual vierão da mesma S. I. todos os preparos necessaros, que forão sem numero, e da maior preciosidade.

Dia 14 (Sábado)

Na tarde do dia sabbado 14 do corrente, aelm do Destacamento que de continuo está de guarda ao Mosteiro, concorreu a Real Guarda dos Archeiros, e huma Companhia de Infantaria. Pelas 4 horas Sua Eminecia, o qual assim na função dessa tarde, como na do dia seguinte, teve por príncipes do Sollio os Excellentissimos Conde de Val de reis, e Visconde de Barbacena: e pouco depois acompanhadas de todos os seus criados, chegaram as pessoas Reaes, a quem assistirão os Excellentissimos Visconde Mordomo Mór, Marquez que serve de Estribeiro Mor, quasi todos os Grão Cruzes, Grandes, e fidalgos da Corte, Commendadores, Minsitros, Prelados, e imensos numero de Pessoas de todas as classes: o que igualmente succedeo nos dias seguintes. S. M. e A. A. Logo que se apearão, se conduzirão á Tribuna da Igreja; depois do que o Excellentissimo Principal Decano, assistido de Dous Conegos da Basilica Patriarcal, procedeo na forma do Pontifical a bênção das Cruzes, do Cofre das Reliquias, e dos Paramentos para a nova Basilica. Concluido este acto, o mesmo Excellentissimo Principal foi com os mais ministros em procissão buscar á Capella mor a Cruz, que no pavimento do Presbyterio estava arvorada: foi ella nos braços de Sacerdotes conduzida também processionalmente á Portaria do Convento das Religiosas, que, depois de a receber, cantando o Hymno Vexilla Regis, a forão colocar no Altar d’huma das Capellas do interior do seu Mosteiro. Logo depois.M. e A.A. Passarão á Tribuna do Sacello das Reliquias, e se começou a publica e solemne preparação das dos Apostolos, que no dia seguinte de havião de colocar no Altar Mór da Igreja. Executou este acto Sua Eminencia assistido dos Excellentissimos Principaes, Illustrissimos Monsenhores, e inumeráveis Ministros de todas as Jerarquias inferiores. Acabado que foi, se cantarão as Matinas do Commum dos Apostolos; e depois S.M. e A. A. Voltarão a Palacio. De noite forão as Vigilias prosseguidas pelos Capellães, e Sacristães da mesma Basilica.


Dia 15 (Domingo)

Ao amanhecer do Domingo 15 se virão postados diante do Convento dous Regimentos d’Infantaria, e outras tantas Companhias de Cavallaria. Nesse dia se transferiu Sua Eminencia para alli do seu Palacio da Junqueira com todo seu Estado, bem como o fizera por ocasião da sua solemne entrada pública (descripta no Supplemento Extrarodinario de 27 de novembro de 1788). Chegarão depois as Pessoas Reaes em Estado grande; e logo ás 8 horas, e 10 minutos deo Sua Eminencia Principio á Sagração da Basilica, e do Altar Mór, a qual durou com a Missa até ás 4 horas, e 22 minutos da tarde. Será sempre memorável esta pomposa função pela singular devoção com que a toda ella assistirão S. M. e A. A., pela perfeição com que Sua Eminencia a celebrou, e pela paz, e socego que nela reinarão. Tambem é muito de notar que no acto da Sagração, que teve efeito antes de se entrar na Igreja, depois da admoestração, Seias Frater carissime, que o Pontifical descreve se faça ao Fundador e Padroeiro, se omitisse a Escritura publica, ordenada no mesmo Pontifical: talvez porque S. M. havia d’antemão consignado suficiente renda anual para a fábrica desta nova Basilica. Para este mesmo acto levava Sua Eminencia tecido hum tão erudito, como reverente, e religioso Discurso, que talvez o Publico terá algum dia a satisfação de ver impresso. Concluida esta acção, entrou a Procissão na Igreja, e S. M. e A. A., descendo da Tribuna em que se achavão, acompanharão a Sua Eminencia por algum tempo: depois do que se transferirão a outra Tribuna da igreja, donde estiveram presentes a todo o resto da solemnidade. Logo que depois da Sagração se disse o Benedictus Domine, repicarão os sinos das duas torres desta Basilica; e por hum estrondoso fogo do ar, se fez ao mesmo tempo sinal a todas as torres das Igrejas da Cidade, para que, em observância da ordem que tinhão de Sua Eminencia, concorressem, como em causa comum, a excitar os mais ternos movimentos d’alegria nos ânimos de todosos moradores de Lisboa,e, na pessoa destes, nos de todos os nacionais, que cheios de gratidão devem vir a este Sagrado Templo, tão enobrecido pela sua rara arquitectura e adorno, como pelo copioso e extraordinário numero de Indulgencias que S. S. concede a todasas pessoas que o visitarem em certos dias do anno, para render repetidas graças ao Supremo Arbitro do Universo.

No fim da tarde desse dia o Excellentissimo Bispo Confessor ao mesmo Secello fazer a exposição das Reliquias dos Martyres para o Altar do Sacramento, que Sua Excellencia havia de sagrar no dia seguinte, Esta exposição executou o dito Excellentissimo Prelado, assistindo de dous Conegos da Basilica Patriarcal. Na Tribuna do dito Sacello estiveram S. M. e A. A. Presentes a todo o expressado acto, como igualmente as Matrinas, que logo se começarão a cantar em honra dos Martyres, e do comum deles. Findas que foram, se retirarão S. M. e A. A. E prosseguirão as vigílias, bem como na noite precedente, oficiando em tudo Ministros da S. I. P.

(continuação, II parte)

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