20/04/12

OS BONS COSTUMES - CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO (IV)

(continuação da III parte)

Acabámos de ver como esta matéria sempre foram próprias da civilização católica, um fruto da Santa Religião, uma mostra de como Cristo Reinava na Sociedade e operava por ela até nos modos, e como o Rei e o Estado tinham por obrigação zelar pelos bons costumes. Evidentemente que, depois da Cristandade se retirar o conceito "bons costumes" manteve-se mais pela forma da palavra e bem menos pelo conteúdo dela. E é este um dos efeitos do modernismo, o de conservar as formas mas revolucionando-lhe o conceito.

Nada melhor que dar voz a quem pode testemunhar desde aqueles tempos:


Chronica dos Erémitas da Serra de Ossa...
Tomo II
Fr. Henrique de Sto. António
(Lente Jubilado na Sagrada Teologia, Qualificador do S. Ofício, Examinador das Ordens Militares, Sinodal do Patriarcado, Consultor da Bula da S. Cruzada, Cronista, (...) Geral da Ordem de S. Paulo primeiro Eremita, ..)
LISBOA
1752

"Vencidas pois com pressa, mas sem precipitação, as lendárias, e deicidas do Alpes, e passado o Ducado de Saboya, entrou Victoriano movido de impulso superior pela França, cujos moradores novamente o incitaram para o mais perfeito estudo das virtudes, por meio da pregação Apostólica de uns, das práticas espirituais de outros, e do singular exemplo, que em todo o género de bons costumes dava por estes séculos aos seus hospedes, e peregrinos aquela florentíssima Nação. (...), desassombrado dos combates e perigos em que na sua pátria se via, qual era o amor excessivo de seus pais, a estima dos criados, e a veneração dos Cidadãos, porque tudo isto eram cadeias que o poderiam suspender na estrada das virtudes, ou prender no caminho dos vícios: e sem embargo de lhe ser tão agradável como já acima dissemos, aquele Reino, não deixou de encontrar alguns filhos seus diferentes dos bons costumes dos mais, e por isso dignos de empregar nele os bons ofício da sua caridade." (pág. 251)

"... e para que esta sorte notória a todos (...), e estando numa praça pública, pegou no seu bordão e ordenando da parte do Senhor que dele nascesse uma árvore florida para demonstração da inocente vida e integridade dos bons costumes que resplandeciam na santa Princesa." (pag. 419)

"... Apenas nele se acenderam as primeiras luzes da razão, começou a parecer nos costumes Varão, sendo na idade menino, porque era obediente aos preceitos dos pais, inclinado às virtudes, inimigo dos vícios, e ainda de qualquer lícito divertimento pueril de sorte, que na flor dos anos era já assombro para os bons, e confusão para os maus. Foi seu Mestre um Varão dotado de muitas letras, e virtudes." (pág. 486)

"22. Neste sobredito ano de 715 do Senhor, o mais infausto para Hespanha [entenda-se "Península Ibérica"], sucedeu o muito feliz transito de um seu glorioso aluno. Chamava-se este Fruto, e foi verdadeiramente da bênção divina, e ainda mais o veio a ser das enchentes copiosas da graça, que das limitadas produções da natureza. Era a sua pátria a Cidade de Segóvia, onde na flor dos seus anos respirava, como a rosa, fragrâncias dos bons costumes entre os espinhos dos vícios; e como luz despedia maior resplendor das virtudes entre as trevas das maiores abominações quem que por este tão calamitoso século estava submergida aquela ilustre, e Católica povoação, e todas as mais da Hepanha [não confundir com "Espanha"]. (pág. 720)


"Jornada de África"
Jerónimo Mendoça
(Com licença da Santa Inquisição)
LISBOA
1607

"(...) E no que diz Jerónimo Franqui sobre Deus castigar este Reino, e este Rei [D. Sebastião] pelas muitas delícias e soberba em que os Portugueses então viviam, certo que me parece que com bem de arrogância, ou por melhor dizer blasfémia quis ele julgar dos juízos divinos, como se fossem coisas de que homens pudessem dar testemunho (qual soberbo Elifas Themanites nas misérias de Job) e mais quando neste tempo viviam as gentes em Portugal com tanta moderação assim nos gastos como nos costumes que as senhoras muito principais, e a mesma Rainha andavam em andilhas e os senhores e príncipes nem usavam coches com [sem os quais] que hoje não podemos passar as ruas, nem havia telas, nem brocados, nem outras invenções para as mulheres, que tudo alagaram depois como dilúvio na geral perdição." (pág. 7)


"Sermões do P. António Vieira, da Companhia de Jesu, Prégador de Sua Alteza"
I Parte
LISBOA
1679

"(...) Do Patriarca Pai de tantos Patriarcas S. Bento, estando o Monte Casino por todo o mundo, tomou S. Inácio as escolas e a criação dos moços. Para quê? Para que na prensa das letras se lhes imprimam os bons costumes, e estudando as humanas aprendam a ser homens. O Senhor Arcebispo último de Lisboa, tão grande Português como Prelado, e tão grande Prelado como doutor, dizia que todos os homens grandes, que teve Portugal no século passado, saíram do Pátio de S. Antão..." (pág. 428)

(continuação, V parte)

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