02/09/12

UMA IMPORTANTÍSSIMA CARTA SECRETA DOS REVOLUCIONÁRIOS



Eis um extracto do projecto de revolução composto pelo Conde de Mirabeu, apanhado em casa de Madame Gai por um doméstico e vendido a Mr. Houle (Oficial no Regimento de Dragões da Rainha). O projecto foi depois impresso com outros escritos do género e levaram o título de “mistérios da Conspiração”. A fonte  é a "Refutação dos Princípios Metafísicos, e Morais dos Pedreiros Livres Iluminados" do Pe. José Agostinho de Macedo, no ano de 1816, pág. 222.

Uma nação junta não se muda. Só tem em vista o interesse comum para o estabelecer. Deve destruir- toda a resistência; e atendei bem para isso. Nada pôde ofender a justiça, quando se trata do bem geral. Eis aqui o princípio. Trata-se agora de saber qual seja o caminho que é preciso tomar para chegar à restauração geral. É preciso destruir toda a ordem, e suprimir todas as leis, anular o poder, e deixar o Povo em Anarquia. As Leis que fizermos, não terão logo todo o vigor, não o terão talvez depois; mas é preciso restituir a força ao Povo; desistirá por sua liberdade, persuadido, que a pode conservar. É preciso lisonjear seu amor próprio, e sua esperança, e prometer-lhe a felicidade depois nossos trabalhos. É preciso iludir seus caprichos, e os sistemas que ele tem feito à sua vontade; porque o Povo Legislador é muito perigoso, so estabelece Leis que coalizam com suas paixões. E como não haja mais que uma alavanca que os Legisladores movem à sua vontade, é preciso que nos sirvamos dele fazendo-lhe odiar tudo o que quisermos destruir. É preciso semear a ilusão em todos os seus passos; comparar todas as penas mercenárias que propagarão os nossos meios, e lhe farão ver que nós não atacamos mais que os seus inimigos.

O Clero sendo na opinião o mais poderoso, não pode ser destruído, senão metendo-se a ridículo a Religião, tornando odiosos seus Ministros, e dando-os a conhecer como outros tantos monstros hipócritas; porque Maomé para estabelecer a sua Religião, começou por infamar o Paganismo que os Árabes, os Sarmatas, e os Seitas professavam. É preciso que todos os instantes os Libelos abram um novo caminho ao ódio contra o Clero: é preciso exagerar suas riquezas, tornar gerais os crimes, e os erros particulares, atribuir-lhe todos os vícios, a calúnia, o assassínio, a irreligião, o sacrilégio. Nada de delicadeza, tudo é permitido nas Revoluções.

Venhamos à Nobreza. É preciso aviltá-la, e dar-lhe uma origem odiosa. É preciso estabelecer um gérmen de igualdade, que não pode existir, mas que lisonjeará o povo. É preciso sacrificar os mais preocupados, incendiar, e destruir suas propriedades para intimidar os outros. Se não podemos destruir inteiramente a preocupação da Nobreza, ao menos a enfraqueceremos, e o povo vingará seu amor próprio e seu crime com todos os excessos, que obrigarão os nobres a fazer o que nós quisermos.

Em quanto à Corte, é preciso eclipsá-la aos olhos do Povo, anulando todas as Leis que a protegem. O Duque de Orleans não omitirá coisa alguma para dar explosão à sua vingança. É preciso degradar a Corte até tal ponto, e com tanto excesso, que em lugar de veneração, o povo não tenha mais que ódio, e aversão a seus Soberanos. É preciso que os considere como seus inimigos, e que esteja pronto a se vingar. É preciso lisonjear o soldado, levantá-lo contra a autoridade legítima, fazer-lhe odiosos seus Oficiais, e os Ministros, aumentar seu soldo, fazendo-o o homem da Nação, e não do Rei; enviar-lhe emissários, que o instruam de nossos projectos, e faze-lo patriota. E não vedes vós que sem isto nossos inimigos iludirão todas as nossas vistas, todas as nossas combinações, todos os nossos meios pela força das armas? Passemos aos Parlamentos.

É preciso representar ao povo sua venalidade, que recaiu sempre sobre o mesmo povo. É preciso mostrar-lhe os Magistrados como Déspotas altivos que vendem até os seus mesmos crimes. O povo ignorante, e bruto, só vê o mal, e não o bem das coisas. Não digo nada dos Financeiros. Será infinitamente fácil convencer o povo, que tudo são abusos na administração da fazenda, e que só merecem indignação os que ela presidem. Notai bem, que o Rei, e os Grandes procurarão frustrar a nossa Revolução com guerras intestinais, ou com os estrangeiros. É preciso pois, para que isso tenha um completo êxito levar o espírito de independência a todos os povos circunvizinhos. Isto não será coisa muito dificultosa. O espanhol é muito inflamável, e geme há muito tempo debaixo do jugo tirânico do Despotismo e da Inquisição. Os italianos são tão arrebatados com os Franceses, e depois que começou a levar entre eles o Espírito Filosófico, desprezarão a Tiara. O alemão é mais difícil de se mover, porém sua escravidão o indigna contra seus Déspotas. É preciso espalhar ouro na Alemanha. Todos os que se deixarem corromper propagarão a insurreição. O brabante se inflamará com o mais leve assopro. A Holanda é toda nossa. A Inglaterra nutrirá, e sustentará nossas desordens. Seu ódio natural contra os franceses, não lhe deixará tomar um partido generoso para defender nossos direitos, se neste partido não devisar se próprio interesse. Quando o Gabinete de S. Jaime nos queira fazer guerra, opor-se-ão os Comuns, porque nós lhes diremos, que o que pretendemos é destruir o Despotismo, e como eles são. A Prússia tem vistas que poderão prejudicar, mas a Rússia a saberá conter. Enquanto à Sardenha, este Reino não nos deve meter medo, não é uma Potência que possa afrontar um grande povo ardente, e impetuoso como são só franceses. É preciso aguerrir este povo. É preciso mais que tudo fixá-lo na defesa das fronteiras, e para isso cumpre nutrir, e acender se furor, alentando suas esperanças com as supressão de impostos: intimar-lhe surdamente a matança, e extermínio dos inimigos da Revolução como um dever útil ao Estado. Nós devemos exigir o juramento a todos aqueles que se juntarem a nossos projectos, e formar diversas sociedades, que em suas sessões tratem o mesmo assunto discordando (para disfarce) de opinião. Enfim, importa admitir o povo aos estabelecimentos que devemos criar, concedendo-lhe a voz deliberativa nas Assembleias gerais; isto é, dará um veículo de honra que lhe fará andar a cabeça à roda. Mas é preciso não deixar às Camaras mais do que um poder limitado. Se lhes deixarmos muita força, seu Despotismo será muito perigoso. Lisonjeemos o povo com uma justiça gratuita; prometamos-lhe uma diminuição de impostos, e uma repartição mais igual. Estas vantagens o hão-de fanatizar e removerão toda a resistência.

“Ah! Que importam as vítimas, o seu número, as espoliações, as destruições, os incêndios e todos os efeitos necessários de uma Revolução? Nada nos deve ser sagrado. Digamos como Maquiavel: Que importam os meios com tanto que se consiga o fim!

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