31/10/12

DA OBEDIÊNCIA (II)

(continuação da Iparte)



 


LIÇÃO XIV
Da Obediência

As letras humanas nos oferecem um Eneias que, na descrição de Troya, salvou em seus ombros a seu pai Anchizes. Um Aphinomo um e Anapias, que levaram seus pais em ombros quando, em Sicília, o monte Etna vomitou tais rios de fogo que abrasava os campos e as cidades. Um Simon Atheniense, que se fez cativo e entregou-se ao rigor de uma dura prisão por dar sepultura a seu pai Melquiades, morto no cárcere. Um filho de Manilo, que, com as ameaças de morte, obrigou ao Tribuno Pompónio a jurar não acusar mais ao dito seu pai por haver desterrado sem causa. A um filho de Crésso, que sendo mudo rompeu em palavras, ainda que não vem articuladas, mas bastantes para se entenderem e avisar a seu pai do perigo, e aos que o queriam matar para que soubessem que era Crésso. Aquela romana, que no cárcere sustentou com seus peitos a seu pai condenando à morte de fome. A um Metélo pio, que com lágrimas e rógos impotunos alcançou dos Romanos o perdão para seu pai. Aos filhos do mesmo Metélo, que sendo deserdados de seu pai por testamento público, foram eles tão obedientes que, quando morreu, podendo anulá-lo, quiseram antes ficar sem herança que contradizer a vontade de seu pai. A um António filósofo, que adoptado por Adriano César e feito companheiro no Império, nem por isso se lhe levantaram os pensamentos com a dignidade nova, mas se ficou com a reverência e respeito que tinha a seus maiores. A um Constantino em tudo grande, mas maior que nenhum em reverenciar sua mãe. A uma Donna filha de Pitágoras, que não quis entregar os escritos de seu pai oferecendo-lhe grande soma de dinheiro, de que muito necessitava por ser muito pobre, para não faltar à obediência de seu pai, que lhe havia ordenado que não entregasse nunca os seus escritos. A um D. João II, que tendo começado a reinar por ordem de seu pai, D. Afonso V, no tempo que este foi para França, lhe restituiu o Reino e lhe beijou a mão no regresso, não obstante que seu pai lhe largava o Reino contentando-se só com o do Algarve com a maior modéstia e obediência que somente achamos imitada do Imperador leão II, com Zenon deu pai: e todos estes filhos colheram tantos frutos de sua obediência que, no decurso de toda a sua vida, lhes sobraram felicidades, que deixamos de repetir por serem muito sábias e também por necessitarem de alargar o texto.

(continuação, aqui)

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