18/01/13

ABRANTES, 1713 - FESTA DA RESSUREIÇÃO (I)

Ainda vem longe a Pascoa, mas antes agora que postar depois o livrinho "Breve Relação da Sumptuosa Festa, que a Sempre Leal, e Muito Nobre Vila de Abrantes Dedica à Gloriosa Ressurreição de Cristo Nosso Redentor, na Igreja Paroquial de S. João Baptista, este ano de 1713" da autoria de António Feio da Maia e Almeida, com o sermão de Fr. João de S. Caetano da Santíssima Trindade:

Igreja de S. João Baptista - Abrantes
"Principia a festa no Sábado Santo, ao aparecer a Aleluia, com várias Danças e músicas que, incessavelmente, irão passando as ruas cantando e dançando, para excitarem os ânimos a prevenirem-se de alegria para ajudarem a celebrar tão alto e soberano mistério.

A noite se desmentira com multiplicadas luminárias, com as quais se lograram diversos festins, que os curiosos e devotos deste mistério farão para aplaudi-lo. Isto durará até além da madrugada do dia de Páscoa.

Neste alegre dia, à hora competente, junto o concurso se principiara a festa pela Missa solenemente cantada com seu Sermão à hora costumada. Acabada a Missa, principiará a triunfante Procissão, da qual se faz aqui antes um breve extracto.

Ao Tabor levou Cristo nosso bem três Discípulos e, transfigurando-se diante deles, apareceram ali Moisés e Elias falando com o mesmo Senhor: Apparuerunt Moyses, et Elias, cum eo loquentes: e disse o Senhor aos Discípulos que não falassem naquela visão até que o filho do homem ressuscitasse: Nemini dixeritis visionem, donec filius hominis a mortuis resurgat. Mathaei 17.

Elias representava a Lei Natural, Moisés a Lei Escrita, e Cristo principiava a Lei da Graça; e, como na Ressurreição de Cristo tiveram estas três leis o seu complemento, por isso estas três Leis formam esta Procissão de Triunfo, porque a lei, como diz Cícero, é a que ordena e manda o que se deve fazer e ordenar: Est autem lex ratio summa, insita in natura, quae jubet ea, quae facienda sunt. Cic. hb. 2 de leg.

Dividir-se-á logo esta procissão em três alas. A primeira dará princípio à Lei Natural, com a Fé e cinco Patriarcas da mesma Lei, e três Sibilas das nove que profetizaram a vida, morte e Ressurreição de Cristo. Por fim desta ala irão três andores, que emblemáticos mostraram a Ressurreição de Cristo.

Dará princípio a segunda ala a Lei Escrita, com a Esperança e cinco figuras de Profetas, Sacerdotes, e Capitães, e três Sibilas. Por fim desta ala irão três andores, que nas visões da Madalena exprimirão a Ressurreição desta madrugada.

Dará princípio à terceira ala, a Lei da Graça, com a Caridade e os quatro Evangelistas, S. Pedro e três Sibilas, e por fim desta ala três andores dos Discípulos de Emaús, que foram os primeiros que publicaram a Ressurreição de Cristo; no fim o Carro triunfal de Cristo Ressuscitado: seguirão três andores, o primeiro é do Menino Deus, que costuma ir todos os anos; o segundo da Virgem n. Senhora; o terceiro de S. João Baptista, por ser o Patrão da igreja donde sai esta procissão e se faz toda a festa.

Entre as mais Danças que irão nesta Procissão, quatro são as principais dos quatro Elementos, e estas farão de cinco figuras cada uma, por que a ímpar é de ser guia que explique no seu título qual é o seu Elemento, e irão nos lugares aqui assinalados. 

Antes que entre a primeira ala das três que formam esta Procissão, principiará por dois Cavaleiros emparelhados, lustrosamente vestidos, com chapéus emplumados, irão tocando dois clarins. Leva o primeiro no braço esquerdo uma Tarja, nela esta letra: In ominem terram exivit sonos corum. Psal. 18 nas costas este letreiro: Jubilum. O segundo leva na Tarja do braço esquerdo esta letra: Buccinate vieomenia tuba in insigm die solemnitatis vestrae. Psalm. 80 nas costas o letreiro, Aplauso.

(terá continuação s.D.q.)

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