05/03/13

LUSITANAS!?... NÃO SE METAM COM ELAS (I)

I - "VIVA A FÉ DE CRISTO, INFIÉIS!"

"Na manhã de 20 de Março de 1714 Gaspar dos Santos, Comandante da nau "Nossa Senhora do Carmo", navegando da Bahia, avista, a quinze léguas ao mar das Berlengas, três navios com cento e trinta bocas de fogo (como depois se soube), em quanto as nossas eram só vinte e oito.

A nau tinha diante de si uma esquadrilha de corsários argelinos.

Às 7 horas o inimigo disparou os primeiros tiros. Respondeu-lhe a nau; e em breve se travou rijo combate.

Logo no princípio levantou-se grande tumulto. Os presos gritavam que era melhor render-se a nau. Viu-se nesse momento aparecer uma moça de dezanove anos, lançar-se no meio do conflito, bradando que a rendição seria morte certa, porque os corsários não davam quartel. Aplaudido o seu brado, ei-la reapareceu dentro em pouco (...), colocando-se entre os combatentes, victoriando uns, animando outros, e chegando mesmo a dar fogo. Quando a noite veio interromper a peleja, passou-a a valorosa rapariga, com as suas pretas e duas judias, a fazer cartuchos, que iam já faltando.

Continuou no segundo dia o fogo; e os nossos, defendendo vida e honra, praticavam proezas próprias de um combate tão desigual. Toma-se de espanto o inimigo quando vê tornar a nau a marear depois de uma granada lhe haver ateado fogo na vela de estai; investe numa abordagem; é repelido; e aos gritos dele "Amaina, canalha!", bradava-lhe a jovem Portuguesa, como eu resposta: "Viva a Fé de Cristo, infiéis!" E ora incitava os combatentes, ora auxiliava o curativo dos que a seu lado caiam feridos.

Salvador da Bahia, séc. XVIII
À noitinha, estrondeavam nos ares as últimas descargas; e quando, ao romper da manhã seguinte, o Comandante começava de novo a manobrar, para resistir até à última, viu-se que a esquadrilha inimiga se havia distanciado, e por fim desaparecido, cedendo o mar e a vitória à nau portuguesa, que na tarde desse dia 22 entrava na barra de Lisboa. Remunerou elRei D. João V o intrépido capitão com o Hábito de Cristo e uma tença.

E quem era aquela moça, que tanto se distinguiu por seu valor e constância? Era D. Maria de Sequeira, mulher de António da Cunha Souto Maior, Desembargador que do Brasil regressava a Portugal."

(continuação, aqui)

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