30/04/13

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (III)

(continuação da II parte)

Concluída esta função, foi a Cruz conduzida para a Igreja em Procissão, indo os músicos cantando, e acompanhando o Celebrante Suas Majestades e Altezas com toda a sua comitiva, e se colocou no lugar destinado para o Altar Mor, assistindo toda a Real Família, e em outro troneto que ricamente estava preparado com suas cadeiras ao lado do Evangelho: Suas Majestades e Altezas depois de tornarem a adorar a Santa Cruz, e tendo-se retirado o Excelentíssimo Príncipe Celebrante foram ver o estado do novo edifício, a arquitectura dos corredores, a formosura dos claustros, a grandeza e repartimento das casas, sua armação e ornato, e viram de uma janela a cerca que repartia em largas ruas e grandes tabuleiros, com muitas árvores que tem plantadas, e dois formosos tanques que as regam, ofereciam já então aos olhos um delicioso objecto: cheios finalmente de prazer e consolação por verem os seus desejos em grande parte cumpridos, se tornaram muito satisfeitos a Queluz.

No dia seguinte de manhã, que se contaram 24 de Outubro, tendo sido aviada toda a Corte para assistir, e estando muitos regimentos formados em guarda da Igreja e guarnecendo o grande campo em que ela estava armada, os Timbaleiros Reais da parte de dentro da porta principal da Igreja, e nesta inumerável Povo de todas as classes; o Eminentíssimo Senhor Cardeal patriarca no seu Camarim de falda, os Excelentíssimos Príncipes nos que lhes estavam preparados; e os Ilustríssimos Monsenhores na sala que lhes estava composta: a Rainha Nossa Senhora, Princesa, Senhor Infante e Senhoras Infantas, se dirigiram para a Tribuna, que estava por detrás da Capela Mor, onde estando assentados chegou depois a Rainha Mãe a quem a Rainha Nossa Senhora foi receber beijando com pública edificação a Real Mão de Sua Augusta Mãe, que ocupou o primeiro lugar num dos Camarins da Tribuna; no segundo estava a Camareira Mos, e as Damas, e no outro os Veadores e Camaristas: ElRey e o Príncipe seguidos da Corte, Prelados, Ministros, e muita Nobreza se encaminharam para o Camarim que lhes estava preparado, e Sua Eminência passou do seu Camarim de falda para a Casa dos paramentos, com o acompanhamento de todo o seu Estado.

Paramentado o Eminentíssimo Senhor Patriarca com Pluvial, se dirigiu para a Igreja em Procissão precedida da Cruz Patriarcal, entre duas tochas: iam nelas os músicos e Cantores, os Ilustríssimos Monsenhores, e os Excelentíssimos Príncipes, e acompanhavam a sua Eminência, El Rei, e o Príncipe, os Grandes, e muitas mais Pessoas de distinção, que ali concorreram: no lugar em que estava a Cruz colocada, se tinha erigido um altar com um riquíssimo docel e no lado do Evangelho um Trono com docél de tela vermelha para ElRey, e o Príncipe, e outro para Sua eminência de tela branca, ambos guarnecidos de galeões e franjas de ouro.

Ajoelhados todos nos seus respectivos lugares se fizeram as Preces que determina o Ritual, depois das quais procedeu Sua Eminência à bênção da Pedra que estava num andor dourado sobre uma Cadeira no lado do Evangelho: esta Pedra que era de mármore branco e figura cúbica, de palmo e quarto de largo, estava assinada com uma Cruz, e tinha numa face a inscrição seguinte:

Basílica do Sagrado Coração de Jesus - Estrela, Lisboa.

MARIA I
LUZITANIA REGINA FIDELISSIMA
ET DOMINA
EX VOTO
PRO SUCEPTA PROLE
SANCTISSIMO CORDI JESU
TEMPLUM HOC,
ET
SATIMONIALIBUS B. MARLE DE MONTE CARMELO
MONASTERIUM.
CEDENT REGES PETRO III.
PRO EIS AEDIFICANDIS
SOLUM,
IN TERRITORIO SUO PROPRIO
IN
PERPETUUM ACCEPTI BENEFICII MONUMENTUM
AEDIFICARI FECIT.

Na face oposta se lia a seguinte inscrição:

HUJUS TEMPLI
IN HONOREM DEI, ET SANCTISSIMI CORDIS JESU
DICANDI
LAPIDEM HUNC PRIMARIUM
AB IPSO REGE PETRO DELATUM
BENEDIXIT, AC IMPOSUIT
EMUS D. FERDINANDUS
S.R.E.
PRESEBITER CARDINALIS DA SILVA
PATRIARCHA LISBONENSIS
SUMMO PONTIFICE PIO VI
DIE XXIV OCTOBRIS
ANNO DOMINI MDCCLXXIX
POST TERRAMOTUM XXIV

(continuação, IV parte)

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