11/05/13

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (IV)

(continuação da III parte)

No mais alto de cada uma destas duas inscrições está uma pequena Cruz; e no centro das outras faces da Pedra uma Cruz maior.

Benzeu S. Emª a Pedra, preparou a cal, que devia servir na sua imposição, e se ordenou a Procissão, na qual seguiam a Cruz Patriarcal três Moços Fidalgos, cada um com uma vassoura tecida de fio de ouro, a cal em um coze, um balde prateado com água e a trolha e camartelo, foram transportados pelos Grandes do Reino, e a colher que tinha servido à preparação da cal por um Acólito; ElRey e o Príncipe pegaram nas primeiras varas de Andor, em que estava a pedra, assistindo-lhes dos lados os Ex.mos Conde da Ponte, e Vila Flor, e os Duques de Lafões, e Cadaval nas outras varas, e acompanhando Sua Em.ª com os seus assistentes, e toda a Corte se dirigiu à Procissão para o sítio destinado, que era o do lado do Evangelho, ficando nos seus lugares os Ex.mos Príncipes.

No sítio em que devia ser colocada a primeira Pedra, estava posto um Sepulcro, ou cavidade também de pedra, no fundo da qual pôs Sua Emª uma caixa de prata dourada quadrilonga, que recebeu da mão de ElRey, na qual se incluíam os seguintes instrumentos: Primeiro o Alvará Régio, para alienação do terreno: segundo a Escritura da Doação do mesmo terreno, que se fez na Nota do Tabelião Lucas Evangelista de Sousa Pereira Valente, assinada pelo desembargador do paço José Ricalde Pereira de Castro, como Procurador de ElRey, pelos poderes que lhe concedeu no Alvará de Procuração, que nela ia incluso, e pelo Pe. Fr. Carlos dos Santos, Procurador Geral dos Religiosos Carmelitas Descalços, que a aceitou em nome da Religião [Ordem]pelos padres que lhe deu o Difinitório na sua Patente copiada também na mesma Escritura: terceiro a Escritura de Doação da Igreja e Convento incerta, ou indicada num Alvará Régio: quarto, declaração de quem benzeu a Cruz, e de quem benzeu e colocou a pedra, e dos dias em que estas Funções foram feitas.

Sua Magestade recebeu mais do Esmoler Mor, e entregou a Sua Emª para pôr no mesmo lugar, duas caixas redondas também de prata dourada, cada uma delas continha seis medalhas de maior lote: Duas de ouro no valor de 40.[?]; duas de prata de 2.[?]; e duas de cobre.

As primeiras 6 que também tinham sido bentas por Sua Emª tinham todas esculpida a Imagem do Smº Coração de Jesus, com esta letra em volta "Ipsi cultus Gloria, et Imperium". E da outra parte a seguinte inscrição:

CUI BENEFICIUM ACCEPTAE PROLIS DEBETUR AD IMPERII LUSITANI FIRMIOREM STABILITATEM

Em uma de ouro das outras seis viam-se os Retratos da Rainha Nossa Senhora, e de ElRey, e em roda a seguinte letra:

MARIAE I, ET PEDRO III PORTUGALIAE REGIBUS.

E da outra parte a inscrição seguinte:

SANCTISSIMO CORDI JESUS PRIMUM TEMPLUM
AEDIFICATUR PIO PAPA VI A. D. MDCCLXXIX

Na outra medalha também de oiro, via-se o Frontispício de todo o novo Templo com esta letra:

ACCEPTI BENEFICII, HOC POSSUIT MONUMENTUM

Na outra parte a Planta do mesmo Templo.

As duas de prata, e as duas de cobre tinham os mesmos cunhos das de oiro.

Mandou S. Magestade lavrar outras medalhas de menor valor mas dos mesmos cunhos, para se distribuírem pelas Pessoas da Corte: as de oiro do segundo lote do valor de 26(?), e as do terceiro de 16[?]: as de prata do segundo lote do valor de 1[?]400, e as do terceiro de 700 [?].



Entregou mais S. Magestade ao Exmº Sr. Patriarca outras duas caixas de prata dourada com os vidros dos Santos Óleos do Crisma, e Catecúmenos, e dois Agnus Dei com caixilhos de prata dourada, um do papa actual, e outro de particular devoção: o que tudo S. Em.ª colocou na cavidade destinada a este fim, e em cima se pôs a primeira Pedra, com assistência do Mestre Pedreiro, e de dois Ajudantes, tocando S. Em.ª na mesma com a mão: sobre a Pedra se pôs uma tampa de mármore, que na parte superior tinha aberto um tabuleiro, em que o Esmoler Mor lançou por três cento e quarenta e quatro peças de moeda corrente, cunhada no presente Reinado; a saber doze de 6$400 r.ª; doze de 3§200 r.ª; doze de 1$600 r.ª; doze de 800 r.ª: doze cruzados novos de oiro; doze cruzados novos de prata; doze moedas de 240 r.ª; doze de 120 r.ª doze de 60 r.ª; doze de 10 r.ª; doze de 5 r.ª; e doze de 3 r.ª; cobriu-se o dito tabuleiro com outra pedra, e em todas as juntas, e uniões destas pedras pôs S. Em.ª cal, deitando ElRey antes, e depois a água com uma vassoura de fio de ouro, que ensopava no balde subministrado a este fim.

A Rainha Mãe D. Mariana Victoria
Concluída assim esta Cerimónia, que a Rainha Nossa Senhora com sua Augusta Mãe e Alteza esteve vendo da Tribuna, cheia de júbilo e devoção, se formou de novo a Procissão com todas as mesmas pessoas que acompanharam a da primeira Pedra, e foi em roda de toda a Igreja por cima dos alicerces dela que S. Emª benzeu, fazendo sobre eles a aspersão da água benta; e voltando à Capela cantaram os Músicos da Sta. Igreja Patriarcal o Hino "Veni Crator Spiritus", com seu verso, recitando S. Emª a Oração do costume: ElRey e o Príncipe se retiraram para a Tribuna em que estava a Rainha Nossa Senhora e as mais Pessoas Reais; e S. Emª a mudando de Paramentos, celebrou Missa rezada, e tomando entre tantos os Músicos alguns Motentes: acabada a Missa, e tomando S. Emª o Pluvial, entoou o "Te Deum" que cantaram os Músicos: nesse tempo deram as tropas que estavam formadas ao redor da igreja várias descargas: concluindo o Hino, recitou S. Emª a Oração em acção de Graças: e subindo ao Altar deu a bênção Episcopal, e depois de publicar o Ex.mº Principal, Cabeça da Ordem dos Presbíteros, um ano de Indulgências, que S. Emª concedeu, se retirou este com toda a sua comitiva para a casa dos paramentos.

Desceram logo Suas Magestades e Altezas da Tribuna ao lugar onde se tinha colocado a Pedra, e não satisfeitas em cumprir com a Cerimónia costumada em semelhantes ocasiões, quiseram dar ainda mais raro exemplo da sua ardente devoção, por quanto acompanhadas das pessoas da sua Corte destinadas para os servir neste acto de Piedade, cada um dos Senhores pôs no alicerce com as suas Reais Mãos uma pedra de mármore vermelho sobre a coberta da primeira Pedra, onde o Mestre Pedreiro tinha antes estendido a Cal: A Rainha Mãe foi a primeira; seguiu-se a Rainha Nossa Senhora, ElRey, o Príncipe, e assim as mais Reais Pessoas por sua ordem: as Pedras foram-lhes administradas em cestos dourados; a ElRey pelo Conde da Ponte, e às mais Pessoas pelos seus respectivos criados, Camaristas e Veadores, tendo S. S. Magestades e Altezas edificado a todos na ternura e devoção com que fizeram esta acção, aliás tão própria do seu Católico e Religioso Espírito; ainda se dignaram assistir depois à imposição das pedras miudas, que conduziram em cestos prateados vários grandes do Reino; o Em.mº Cardeal Regedor, Arcebispo de Évora, e o Ex.mº Arcebispo de Teslónica Confessor de S. Magestade lançando as ditas pedras no alicerceaos lados da pedra fundamental.

Concluída finalmente esta Função, tanto do agrado do S.mº Coração de Jesus, com toda a grandeza e boa ordem se retiraram S. S. Magestades e Altezas para Queluz ao som de Trombetas, Timbales, dos Tambores e Instrumentos Bélicos das suas Tropas, deixando edificada toda a Corte, e o grande concurso de Povo que concorreu a esta magnífica e piedosa solenidade, em que a Rainha N. Senhora deu princípio à mais gloriosa Época do seu felicíssimo Reinado, começando por ela a desempenhar o voto que fizera ao Santíssimo Coração de Jesus.

(continuação, V parte)

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