06/09/13

LIÇÃO XIII - DA VERDADE (III)

(continuação da II parte)

É tão afirmada a verdade que não há nação, por mais bárbara que seja, que não faça dela o maior apreço. Os atenienses amavam-na tanto que houve lei naquela República pela qual absolviam ao Rei que confessava seu delito, como conta Alexandre (ab Alexandro lib. 3 ca. 5). Os Lacedemónios não queriam vê-la em boca de gente ruim, e assim quando algum homem de mau nome dizia alguma sentença, cuja verdade se assentava, mandavam que a pronunciasse outro de boa fama. O mesmo achamos, segundo Santo Ephrem. tom. I cap. de lingua mala, haver significado a majestade encarnada, quando mandou aos demónios que calassem e não o publicassem por Cristo, para que uma tão grande verdade não se ouvisse por língua sacrílega. Epaminondas nem deveras, nem zombando dizia, ou consentia dizer coisa contrária ao que sentia. Xenócrates pela opinião que tinha de verdadeiro, era crido sem juramento em qualquer caso, que testemunhava. DelRey D. João II escreve Mariz (dialog. 4 cap. 12) que era tão verdadeiro que nunca se lhe ouvira dizer uma coisa por outra, ainda que fosse em matéria leve. De Fr. António Lourenço, franciscano, escreve Barros (decad. 2 lib. 7 cap. 3) que estando cativo em Cambaia, pediu licença para vir a Goa tratar do seu resgate, e por não poder negociar dentro do tempo, que prometeu, se voltou ao cativeiro de que admirado o Rei, lhe deu liberdade, e a todos os mais Portugueses cativos. Semelhante caso conta "Cabreira em A História delRey Filippe II" (lib. 12 cap. 18) do Doutor Baltasar de Amaral, Corregedor da Corte, que estando cativo em batalha delRey D. Sebastião, e vindo com licença dos Mouros a tratar do seu resgate, depois de ter feito o que vinha fazer, tornou ao cativeiro, igualando o que fez Atilo Régulo, que sendo Capitão dos cartagineses, e tendo prometido ao Capitão Xântipo, de tornar, quis mais cumprir uma palavra, tornando para receber a morte, que ficar em Roma salvo, e mentiroso. Estando em Calecute cativos certos portugueses em tempo de Lopo Soares de Albergaria, mandaram um único a pedir ao governador que fizesse pazes para que fossem livres; e por não parecer conveniente a Lopo Soares fazer pazes, disse ao menino, se que se deixasse ficar, mas ele antes quis ir para o cativeiro, que faltar à verdade que tinha prometido. Do nosso Infante D. Fernando diziam os Mouros que fôra santo, por três razões, primeira, porque nunca mentia, segunda, porque sempre orava, terceira, porque era virgem.

(continuação, IV parte)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES