01/11/13

"DEFEZA DE PORTUGAL" (1831) - ORIGEM ... DO MAÇONISMO (II a)

Origem, Formação, e Progresso do Maçonismo

"Nos fuimus fortes;et nos modo sumus; et nos aliquando erimus."

Eu havia prometido no primeiro número desta Defesa de Portugal, ou no ensaio, e projecto deste periódico,tratar da origem do maçonismo, da sua formação, e progressos; e devia agora desempenhar minha palavra, se antes não fosse necessário tratar dos maiores esforços, e do último desespero do maçonismo, que indica, ou o seu fim ou a sua consumação. Havia eu visto a Revolução Francesa de 1830, ponderara bem as suas prosélitas na Polónia, na Itália, nos Estados Pontifícios, e na Bélgica, as duas tentativas na Espanha, e por fim as suas erupções na Irlanda, na Escócia, e no Brasil: o raio não incendeia tão rapidamente um armazém de pólvora, como o maçonismo abrasou as duas partes mais notáveis do mundo, que são a Europa pela sua civilização, e a América pela sua população: não estranharei que as outras duas, a África, e a Ásia sirvam logo de combustíveis a este fogo da mais ímpia, e mais voraz andamento do maçonismo, nem pela imaginação me passava, que ele viesse de novo atear-se em Portugal,acabar de consumir esta nação meio extinta da memória dos homens pelas suas imensas desgraças, e dar-lhe o último golpe na sua existência. Digo que nem me lembrava este novo ataque da Maçonaria, não só porque a rebelião havia deitado todo o resto neste país, e arrojado sobre ele todo o seu veneno, com que o restinguira, e levara ao último grão da sua ruína, não podendo fazê-lo mais miserável do que o havia feito, como porque, assim como as outras potências se esquecem de observar com esta o direito público, que bem pode chamar-se o Direito das Gentes, no reconhecimento dum soberano posto no trono pelo voto unânime dos seus povos, também pensava eu, tem Portugal esquecido aos mações, e já não tem às suas costas os portugueses. Porém enganei-me: não é de se me estranhar, quando os mesmos soberanos, os seus ministros, e os homens mais sábios, e mais experientes de todos os países se têm enganado com eles. O certo é que os pedreiros não perdem de vista um país qualquer, que tenha o seu soberano, nem cidade, vila, ou aldeia onde haja uma igreja, ou um Altar, ou uma Cruz. Soberano havia em França, e com a sua Carta Constitucional; pois nem assim mesmo deixaram de mortificar a Luís XVIII, e de desterrarem a Carlos X; nem os mesmos pedreiros deixaram reinar tranquilo a Luís Filipe, a quem entronizaram, para iludir as outras Monarquias; logo que elas não precisem, eles se desfarão dele. Soberano tem a Inglaterra, e constitucional; pois nem assim mesmo o poupam a inquietações, e a turbulências, ora na Irlanda, ora na Escócia, já na mesma Bretanha, e não se sabe quando aí parará o impulso da Revolução, a qual jamais foi suscitada até agora para de novo se unir à Igreja Católica, da qual depois que se separou, ainda não gozou uma década pacífica. Soberano tinha o Brasil, e tão constitucional como eles quiseram; pois não lhe valeu; puseram-no fora e com ignomínia,até arrancando-lhe os próprios filhos! Barbaridade nunca vista senão desde que há pedreiros. Reinarão pois tranquilos dos soberanos, alistando-se pedreiros? Não falta quem assim os aconselhe, e a isso os exorte, ora com promessas, ora com ameaças. Mas eu desafio a todos os imperantes, a que me digam, se viveram tranquilos um ano? Nem Napoleão na França, nem Frederico na Prússia, nem .... nenhum: esses mesmos veneráveis do maçonismo constituídos em chefes da República eles são assassinados por outros veneráveis.


Devo dizer outro tanto das igrejas, Altares, e Cruzes; ou aí presida Clero Constitucional, e maçon, ou heterodoxo, ou católico, o ódio que os pedreiros lhes têm parece igual nos seus efeitos; tudo se arrasa, tudo se queima, tudo se prostra por terra: nada de soberania, qualquer que seja a sua forma; nada de Culto, qualquer que seja: esta é a dúplice divisa dos pedreiros.

(continuação, aqui)

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