02/11/13

"DEFEZA DE PORTUGAL" (1831) - ORIGEM ... DO MAÇONISMO (II c)

(continuação da parte b)

Há na França, e tem havido sem interrupção, mais, ou menos, uma furiosa agitação, que atormenta os homens chamados "livres", quero dizer, aqueles, que não sujeitam as suas ideias senão aos seus desejos, e os ociosos, ou os que não têm que perder nas concessões do Estado, antes sempre têm a ganhar. Esta agitação cintilou no Reinado de Luís XIV, com a nímia efervescência dos estudos, e das artes; cresceu no Reinado de Luís XV do mesmo passo que decresceram as ciências; e apareceu formá-la em grande corpo no Reinado de Luís XVI. De todos os países, e em todas estas idades se reuniram a estes espíritos fortes, (assim se chamavam a si mesmos esses, que não reconheciam outros limites às suas ideias que os da sua razão, nem outra baliza aos seus desejos que a da força) outros espíritos audazes, e noveleiros, e bem assim essa chusma de ociosos, em que sempre abundam todos os países, e todas as ideias, especialmente em tempo, em que a profissão superficial das ciências se permite a todos,e a artificiosa indústria se exerce livremente com desprezo da necessária agricultura; sem que todavia deixe de dizer que a Prússia, a Suécia, a Inglaterra, e a Áustria davam as mãos ao turbilhão francês. Mas eu não trato hoje abertamente da origem,formação, e progresso do maçonismo.Esta agitação da França, depois que levou ao cadafalso o Monarca mais condescendente, e moderado, (lição, que não deve sair da memória de todos os soberanos) ainda não tem parado, por mais diques, que lhe tenham oposto os diferentes chefes de governo, que tem tido aquele país, à maneira de um rio caudaloso, e precipitado, que por mais que o reprezem, foge impetuosamente, ora por um lado, ora por outro, causando sempre estragos, por onde quer que rompa. Sucede a revolução de Julho de 1830, e a agitação move em turbilhão todos os indivíduos franceses; cada qual segue a sua direcção, e o seu impulso, sem que o Governo possa encaminhá-los a seu salvo pela veresa constitucional, e monárquica, que se adoptaram a seu aprazimento. O número dos espíritos fortes, direi mais claramente, o número dos inquietos, e dos ociosos aumentou-se infinitamente, e por consequência o número dos pobres, e dos indigentes, e por isso mesmo o dos descontentes e excessivo. Neste estado o Governo de França não pode fazer a fortuna de todos esses milhares de milhares de inquietos, ociosos, pobres, e descontentes: Precisa poiso Governo desfazer-se deles, ou lhe sejam aderentes, ou não. Porém como? hoc opus, hic labor. A guerra é o meio mais sumário, e menos conhecido dos que devem ser sacrificados: mas a guerra, ao menos a ofensiva, ou invasiva, não convém actualmente ao Governo da França na concussão furiosa, que de todos os lados abala. Perecerão pois os franceses inquietos, pobres, e descontentes às mãos uns dos outros? Então chegaria a fatal época da dissolução da França, e nenhum francês dormiria tranquilo uma só hora da noite. O Governo francês trata por ora cuidadosamente de evitar a guerra de invasão, e mais que tudo a sua dissolução. Porém a não aquietar-se a actual agitação francesa, seus exércitos, e seu povo devem inundar os outros países da Europa, para poderem subsistir, e fazer as suas fortunas.

A desgraça da Revolução Francesa
Eis o que há mais de um ano forma o objecto das discussões maçónicas da França nos seus ajuntamentos públicos, e ocultos. Os maçons franceses precisam desfazer-se do povo, que o ajudou nas suas empresas, e a quem eles levaram ao sumo grau de inquietação, de furor, de raiva, e de desespero; temem os maçons, e com razão, que esse mesmo povo em mãos de quem meteram as armas, as não volte contra eles, como as têm voltado contra as igrejas, e contra as cruzes sem autorização do Governo. Por isso o voto geral do maçonismo francês é a guerra; e o povo francês inspirado por ele, e mesmo por necessidade de subsistir, e de aumentar as suas fortunas, tem esses mesmos desejos de guerra, e guerra de conquista, ou de invasão. Repito que quando falo do maçonismo, e do povo francês, não falo do Governo da França, nem dos franceses, que respeitam a autoridade constituída; falo sim de maçonismo, que não quer soberano, e desse povo inquieto, que pretende sempre dar as leis ao chefe, que ele mesmo escolheu, e a quem os mesmos chefes têm muitas vezes de submeter-se bem a seu pesar, não sendo impossível que o Governo, se veja constrangido a seguir violentamente os impulsos, e a direcção desse numeroso povo posto em contínua agitação, e desse maçonismo inquieto, que ambiciona arrogar-se a ditadura do orbe inteiro. Eu disse que o maçonismo, e o povo francês desejam a guerra, ambos por necessidade; disse-o sim, porque assim o sei por notícias imparciais, e fidedignas; e as mesmas razões de necessidade, que expedi, mostram a veracidade desta proposição. Mas esta guerra, que os maçons da França desejam para conservarem as suas vidas, e outro sim para generalizar o maçonismo, e que o povo francês apetece para subsistir, e fazer a sua fortuna, se dirige especialmente à Península, quero dizer, à Espanha e a Portugal. Valeroso é o povo francês, eu não nego, ou seja na ofensa, ou na defesa da sua Religião, dos seus soberanos, das suas fortunas, das suas casas , famílias, bens, e propriedades, são leões, são inexpugnáveis, invencíveis, conquistáveis; são superiores a tudo, o que se pode dizer. Que o digam senão os romanos, os sarracenos, e os mesmos franceses comandados pelo maior conquistador, que jamais o universo conheceu. O maçonismo francês, como o de todos os países, é mui velhaco, mas mui tolo; só hábil para as traições; engenhoso para toda a maldade, astuto para toda a qualidade de crimes, ele não conhece o que é fidelidade, brio, honra, virtude, finalmente Realeza. Assim o tem mostrado a experiência em todos os tempos, e em todos os sucessões: jamais os pedreiros conseguiram alguma empresa, que não fossem auxiliados pelo povo, e pela tropa iludidos, fascinados, e corrompidos; porque na arte de enganar são verdadeiramente os pedreiros sagazes; mas logo que o povo, e a tropa perderam a ilusão, eles fogem, desaparecem, miram-se. O símbolo da cobardia, hieroglífico da pusilanimidade, o emblema do medo é um pedreiro livre.

(continuar: parte d)

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