06/12/13

"DEFEZA DE PORTUGAL" (1831) - Que Queriam com a Entrada da Esquadra Francesa (V parte a)

Que pretendiam os pedreiros de Portugal com ocasião da chegada da Esquadra francesa ao Tejo?

D. Pedro, primeiro Imperador do Brasil

Esta pergunta repetidas vezes posta na frente deste periódico já devia estar resolvida, dizem muitos; mas eles não reflectem, que eu tenho caminhado para ela sem descansar, e mais rapidamente do que eu mesmo me imaginaria: acaso neste número a levará ao seu fim, mas sem esquecer o princípio estabelecido, de que os pedreiros nem sabem o que dizem, nem sabem o que querem; e isto se demonstra com evidência pelos seus ditos, e feitos: eu tenho insinuado alguns, que todos seria quase impossível, e esses mesmos com suam velocidade, porque o tempo me leva a outros pontos de mais urgência, sem embargo de que espero recalcitrar sobre ele mais detidamente para segurar a Defesa de Portugal no seu principal baluarte, que é o conhecimento dos pedreiros livres. Mas que é o que eles querem fazer de Portugal pela chegada do Senhor D. Pedro à Europa? Acaso o aclamarão rei? E então a Senhora D. Maria da Glória? Ou pode ser Rei o pai, e Rainha a filha ao mesmo tempo? Dividirão eles a Majestade? Ou foram do pai o Rei honorário, e da filha a Rainha Proprietária? Darão talvez o Portugal ao Senhor D. Pedro, e as ilhas dos Açores, e possessões da Ásia, e da África à Senhora D. Maria da Glória; ou acaso estas àqueles em troco do Império do Brasil de donde eles mesmos, digo os pedreiros, porque os de cá, e de lá são uma só e a mesma coisa, o arrojarão, expulsarão, e desadoptarão? Eu não sei, e aposto que nem eles o sabem. Em 1826, e 1827 ouviam-se no fim do Hino Constitucional, já se sabe, de tarde, e depois de assoprados pelo abundantismo espírito Bacchanal, os gritos de "Viva D. Pedro IV, viva D. Maria II". Ora entendam-se lá com homens tomados de vinho, e do diabo; Então é Pedro, ou Maria? Pedro é, respondiam ele, Maria há de ser. Eu tomo a primeira reposta: o Senhor D. Pedro é: o quê? Imperador do Brasil, e Rei de Portugal: É possível? Nunca tal aconteceu na Monarquia Portuguesa ser Rei de cá, e Imperador de lá. Mas lá será Imperador proprietário, e cá será Rei honorário: a isso respondiam eles "é proprietário em ambos os hemisférios". "Não pode ser", dizia-lhe eu; porque sou pai foi rei proprietário de cá, e Imperador honorário de lá, e o filho não é mais que o pai, "non est filius supra patrem", nem ele consentiu a seu pai ser Imperador proprietário, e o mesmo Brasil assim o quis; pois também Portugal não há de consentir que o filho seja de Portugal mais que rei honorário. Portugal não obra assim em direito, continuavam argumentando-me os pedreiros, porque o Senhor D. Pedro é proprietário dos dois mundos. Apre! Como? "Proprietário de Portugal por herança, e proprietário do Brasil por adopção." Com é que o Senhor D. Pedro, lhes dizia eu, não é proprietário do Brasil por herança? Pois quando ele perdeu, o que seu pai havia por herança de seus pais, e avós? Eu mesmo respondo, porque eles aqui emudeciam, e emudecem: quando ele tomou o Brasil a seu pai; pois então perdeu ele também a herança de Portugal; porque a Monarquia Portuguesa é indivisível, é uma só, não admite partilhas, nem sortes, nem divisão alguma; eu provo esta proposição pelos mesmos princípios constitucionais; pois combater os pedreiros por outras doutrinas, que não sejam as suas, é tempo perdido: eu não sou tão fraco, que não possa desbaratá-los com as suas próprias armas. Vejam os meus leitores esse ridículo folheto que chamam "Constituição Política da Monarquia Portuguesa decretada em 1822". Mas ninguém pense que esse folheto é Constituição; é um livrinho, ou prontuário de definições copiadas, e mal copiadas pelos chamados sábios representantes da nação portuguesa, do Digesto Romano, de Puffendorfio, de Vinnio, e de outros jurisperitos mais ou menos clássicos, e nenhum deles católico, que eu li em latim na idade de catorze anos,e que punha em linguagem melhor que esses toleirões das Necessidades, dos quais a maior parte não sabiam, ou taui mal a língua latina; e poucos a portuguesa. Vejam pois lá esse monumento das ignorâncias do séc. XIX: e aí no título 2º cap. único acharam essa proposição que levou um mês para ser redigida, trabalhando nisso com pés e mãos e assombro das ciências pedreiras; já sabem que falo no filho do boticário, ou compositor de emplastros,que sabia o mesmo que seu pai, (o quid pro quo em todas as matérias, no secretário da Comissão da Constituição). Leiam lá:A Nação portuguesa é a união de todos os portugueses de ambos os hemisférios: o seu território compreende na Europa... na América... na África... na Ásia. Agora a consequência: logo a nação portuguesa é indivisível na Europa, na América, na África, e na Ásia: esta consequência forma a seguinte proposição: o Senhor D. Pedro tomou para si uma parte da nação portuguesa. Mas, replicam os pedreiros que não se pode negar que o Senhor D. Pedro é proprietário do Brasil por adopção, pois que o mesmo soberano, seu pai, da nação portuguesa, reconheceu esta adopção, ou a escolha, que do Senhor D. Pedro fez o Brasil para seu Imperador: digo que o Senhor D. João VI, seguindo os mesmos princípios constitucionais, (vejam os meus leitores o título IV artigo 124, parágrafo 5º dessa brejeira constituição) não podia alienar porção alguma do território português. Ora bem sei que aquele saudoso, e amável monarca não alienou o Brasil, senão que o Brasil foi roubado à nação portuguesa. Instaram ainda os pedreiros: "O Senhor D. João VI não a alienou, abdicou o Brasil, e por isso tomou dele o título de Imperador Honorário: ora agora leiam os pedreiros o que eles mesmos escreveram: "O Rei não pode abdicar da Coroa", diriam outros: nem alienou, nem abdicou; reconheceu a independência brasileira, ou a soberania do Brasil: ora a proposição é a mesma; mas esta é feita pela voz passiva. Direi pois: o Senhor D. João VI foi moralmente coacto a reconhecer a sobernaia popular, que é o princípio destructor de todas as sociedades, e de todas as monarquias, e princípio banido pelas nações, que formam a Santa Aliança. Repliquem-me ainda os pedreiros: os Senhor D. João VI não reconheceu a soberania popular, reconheceu sim a su filho Imperador do Brasil: agora atendam os meus leitores: esta vil canalha de pedreiros, ou constitucionais, não tem cinco réis de lógica, nem de instrução alguma: tudo é um jogo de palavras, e de trocadilhos, enquanto o pensamento é um mesmo, e a ideia uma só, e vem a ser, fazer descer do Trono a todos os soberanos. Ou o Brasil escolhesse ao Senhor D. Pedro para seu soberano, ou escolhesse a outro qualquer, a soberania é popular, porque nenhum país pode eleger-se rei, tendo-o: ora o Brasil tinha soberano, que era o Senhor D. João VI; logo não podia eleger-se outro. Mas, antes prostrar com um jumento, que disputar com pedreiros, que têm menos juízo, e menos discurso que um burro.

(a continuar)

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