18/12/13

LOUVORES A PORTUGAL - POR OLHOS ESTRANGEIROS (II)

(continuação da I parte)

D. Afonso de Albuquerque

- Em "Anedoctes Espagnoles et Portugauses depuis l'origine de la nation jusqu'a nos jours" (a Paris. Chez Vicent. 1773), descrevem-se factos engraçados da história de Portugal e Espanha. Aqui vai:

"Em 1641 começa a guerra entre os portugueses e espanhóis. Estes [espanhóis] são os primeiros a entrar em campanha, assolam o país [Portugal], saqueiam igrejas, fazem prisioneiros, e retiram-se sem ordem, tocando instrumentos. "Vós cantais cedo de mais", dizia-lhes o comandante, "nunca há certeza da vitória, enquanto se está nas terras dos inimigos". Daí a pouco, avistando os portugueses: "Largais vossas guitarras e flautas: não se trata de cantar, é necessário combater: mostrai-vos bravos e animosos". Não tarda em serem atacados, derrotados e postos em debandada; e para ocultarem sua vergonha, cortando as orelhas aos soldados que tinham perdido, mostraram-nas asseverando serem as dos portugueses que tinham punido. Um Cónego de Badajoz diz-lhes: "era melhor trazer as armas de vossos inimigos, do que suas orelhas; pois não é possível diferenciá-las das dos castelhanos".

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"Imediatamente depois da conclusão de paz com a França, Filipe IV tinha fixado toda a sua atenção sobre Portugal; mas as forças reunidas da Espanha não eram suficientes para executar o que se chamava castigo de um corpo de rebeldes. Uma batalha só parecia dever decidir da sorte dos portugueses: deu-se a 8 de julho. Os castelhanos perderam a victoria, depois de se terem batido de lado a lado com uma fúria quase incrível. Doze mil homens foram mortos ou prisioneiros, e seis grandes de Espanha levados como troféus para Lisboa. Este desastre acabou de alterar a saúde do Rei de Espanha, a quem o receio de um triste futuro para seus povos assustava sobre modo. Mas novas derrotas causadas pelos portugueses, que em vez de se conservarem na defensiva, acometiam à força de armase de intrigas secretas (...)"

- Em "Aperçu Noveau sur les campagnes de François en Portugal, en 1807, 1808, 1810, 1811; ..." (a Paris, Chez Delaunay), a respeito das campanhas dos franceses em Portugal:

"As tentativas infructuosas dos exércitos franceses para se apoderarem de Portugal, foram o mais interessante episódio da guerra peninsular. A primeira, que sem motivo arrogou a si o título de expedição, conduzida e consumada pela perfídia, e não pela força das armas, teve um começo próspero, que dentro em pouco se desvaneceu. As duas outras, tentadas de mão armada por dois generais célebres, à frente das mais belas tropas do exército francês, falharam completamente. A falta de bom resultado destas operações imprudentes contribuiu poderosamente para o livramento da Espanha, se é que não foi ela a única causa eficaz, porém até mesmo atraiu mais tarde o exército anglo-hispano-português às províncias meridionais do este e norte deste império pelas potências aliadas; circunstância, cujo concurso simultâneo trouxe a queda do terrível colosso do poder imperial, que, alguns meses antes dava a lei à maior parte da Europa, e ameaçava a liberdade de todas as nações."

- Adrien Balbi:

"Os portugueses distinguem-se entre todos os outros povos por seus desvelos para com os estrangeiros, e fazem reviver aquela hospitalidade, que os povos antigos punham no número dos deveres e virtudes mais sublimes."

(...)

"Pode-se dizer sem sermos acusados de exageros, que não há talvez um só país na Europa, que conte um maior número de más descrições feitas por estrangeiros, e sobre o qual a ignorância ou a maledicência tenham espalhado mais inexatidões e falsidades. Qual não foi o nosso espanto ao acharmos um país, que nos tinham pintado como mais atrasado do que a Turquia, um balanço geral do comércio feito anualmente desde 1755 até à actualidade por Maurício Teixeira Morais, por um plano e com uma exactidão que dificilmente se encontra nos países mais civilizados da Europa? Que surpresa não foi a nossa ao acharmos espalhados em diferentes secretárias uma grande parte dos materiais necessários para a redacção de uma estatística, e alguns ensaios muito felizes feitos já sobre a província do Minho, sobre a de Traz-os-Montes, sobre o Algarve, e a respeito de algumas comarcas da Estremadura e Alentejo? Não ficámos menos pasmados, quando soubemos que alguns portugueses, dirigidos pelo seu compatriota, o hábil astrónomo Ciera, tinham desde 1793 até 1802 medido duas grandes bases na Estremadura com todo o rigor da geodesia moderna, para determinar com exactidão o comprimento de um grau do meridiano, e tinham feito a triangulação da maior parte de Portugal; que alfuns sábios portugueses tinham viajado por toda a Europa à custa de seu governo com o fim de examinarem os estabelecimentos literários mais importantes, e de se aperfeiçoarem no estudo das ciências naturais; que alguns tinham percorrido em diferentes direcções seus vastos estabelecimentos na América e na África meridionais, e tinham feito recrutar as balizas da mineralogia, da botânica e da zoologia por causa das novas espécies que ali tinham descoberto: que alguns governadores instruidos haviam redigido memórias mais ou menos sábias a respeito das capitanias gerais de Cabo Verde, Angola, Moçambique, e possessões portuguesas na Índia, China, Oceânia? Que o valor só dos produtos das fábricas portuguesas, exportados para além mar,se tinha elevado anualmente de 1795 a 1807 até oito e dez milhões de cruzados? Que esta nação possuía jornais com artigos tão interessantes, e escritos com tanta eloquência, que daria honra aos Malte-Brun, Gentz, Benjamin Costant, e aos mais célebres publicados da Europa.

Todos quanto falaram relativamente a Portugal até este dia, escreveram muito, e citaram poucos factos. É verdade que escrevendo uma época em que a nação é bem diferente do que era outrora, por causa das circunstâncias políticas em que se tem achado,há anos para cá, o quadro que apresentamos deve só para este motivo diferir muito daqueles traçados por Dumouriez, Châtelet, Bourgoing, Carrèr, Robert Southey, Murphy, Link, Costigan, Ruders e Ebeling. As três invasões dos franceses em Portugal, a longa residência das tropas inglesas e o grande número de oficiais desta nação amalgamados no seu exército, as ligações íntimas e multiplicadas destas duas nações entre si, o grande número de jornais políticos e liteterários, publicados desde 1807 em Espanha e Portugal, e principalmente alguns jornais políticos e literários, dados à luz em português fora do país, tem como os sábios trabalhos da Academia Real das Ciências, os dos professores da Universiade de Coimbra, e de algumas escolas especiais, instituidas ultimamente em Lisboa e Porto, contibuiram muito para das aos portugueses o desenvolvimento manifestado nos últimos acontecimentos. Qualquer nação pode ter grandes faladores, porque basta só a natureza para os formar, mas émistér uma longa instrução para ter oradores. Os que brilham actualmente nas Côrtes por sua eloquência e profundo saber nas mais altas teorias da economia política, e nos mais complicados ramos da administração, demonstram victoriosamente aos detractores da nação portuguesa que esta possuia muitas pessoas, que se prparavam no silêncio, ecujo mérito só aguardava a ocasião para se patentear."

[...]

"Nós não hesitamos em dizer, sem receio de sermos acusados de parcialidade, que as ciências matemáticas, em toda a sua extensão, e em todo seu aperfeiçoamento actuais são perfeitamente conhecidas dos portugueses, e muito mais do que seriamos inclinados a acreditar à vista do pequeno número de obras publicadas sobre este assunto há 38 anos.

Todavia, se alguma coisa mais positiva fosse necessária para convencer os incrédulos, pedir-lhe-iamos tão somente que quisessem considerar que todos os matemáticos, que fazem o orgulho e a alegria dos portugueses, se formaram no país: que os 6 volumes das Memórias de Mathematica e Physica da Academia Real das Ciências de Lisboa contêm algumas memórias, que provam, até à evidência, os profundos conhecimentos dos matemáticos portugueses; e que as Ephemerides Astronomicas para uso do observatório da Universidade de Coimbra, e para o da navegação portuguesa disso dão outra prova. Estas efemérides, que se publicam todos os anos desde 1804, bem longe de serem (como diz certo viajante) uma redução, ou uma cópia do Almanack do Observatório de Greenwich, são pelo contrário cálculadas imediatamente sobre as tábuas astronómicas. A distribuição engenhosa de seus numerosos artigos, os novos métodos, que apresentam para o cálculo das longitudes sobre o mar, e para o dos eclipses, bem como vários outros métodos particulares para a formação e verificação de alguns assuntos astronómicos, deram a esta obra uma justa superioridade sobre a maior estima dos matemáticos mais distintos da Europa, que tiveram ocasião de a verem e examinarem.

[...]

Nunca povo algum, apertado por limites tão estreitos, estendeu num mais crutos espaço de tempo seu domínio por paises tão vastos e tão distantes. Desde a gloriosa conquista de Ceuta (1415) até à atrevida expedição de Barreto e Homem (1573) às minas de oiro de Manica e de Botuano Monomatopa, este povo, animado de uma actividade sem exemplo, descobre a Madeira, Açores, Canárias, ilhas de Cabo Verde, e as do golfo de Guiné, e naquelas paragens se estabeleceu. Explora e assenta numerosas feitorias ao longo da costa ocidental da África.Dobra o terrível cabo das Tormentas, e submete a seu domínio, ou faz tributários os principais mouros da costa oriental de África. Arranca das mãos dos árabes a navegação e o comércio da índia e do mar Vermelho, em poder deles havia séculos. E assombrando os povos orientais com prodígios de audácia e de valor, conseguiu estabelecer-se em Ormuz, Dio, Damão, Goa, Bombaim, Cochim, Ceilão, Meliapor, Malaca; e daqui rompe um caminho através do casto arquipélago das Índias para Java, Borneo, Timor, Molucas, China, Japão, ao passo que outros navegantes tão intrépidos como hábeis formam o que se chama actualmente Oceânia."

(continuação, III parte)

2 comentários:

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

boa recolha!

anónimo disse...

Manuel M. P. de Rezende,
obrigado por comentar.

Limitei-me a fazer recortes.

Volte sempre.

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