11/01/14

"DEFEZA DE PORTUGAL" (1831) - Que Pretendem os Pedreiros com a Chegada de D. Pedro à Europa (VII parte a)

Que é Que Pretendem os Pedreiros na Chegada do Senhor D. Pedro à Europa?

Pretendem fazer em Portugal outra Revolução, em que o nosso augusto Rei, o Senhor D. Miguel, seja destronado, privado da sua natural liberdade, e castigado; depostos dos seus empregos, presos, e mortos todos os que o reconheceram Rei; depostos, presos, e mortos os Procuradores dos Três Braços do Estado, que disseram, e assentaram que o Trono de Portugal pertencia em direito ao Senhor D. Miguel; confiscados os bens de todos os que tomaram parte, comprovam, ou deram conselho, e favor para este legal, junto, santo, e necessário reconhecimento; como igualmente os de todos, que posteriormente fizeram algum contacto demonstrativo de adesão a estes princípios de legitimidade; perseguidos finalmente, e reduzidos à mais miserável pressão todos os que não deram positivas mostras de aderência à rebelião. Pretendem por tanto, assim os malhados soltos, como os malhados presos; os rebeldes, que estão na Ilha Terceira, como os traidores, que se acham alapardados em vários países da Europa; todos estes pedreiros, malhados,constitucionais, e revolucionários pretendem tomar para si, e ocupar todos os cargos, e empregos da nação portuguesa; apropriar-se dos bens, fazendas, e riquezas de todos os que aderiram às antigas leis da Monarquia; cevar enfim livremente a sua vingança em todos os que concorreram para o seu extermínio, castigo, prisão, e perseguição, ou escrevendo, ou falando, ou denunciando, ou testemunhando, ou actuando, ou julgando, ou de qualquer maneira cooperando contra eles. Têm estes malvados decretado três meses de anarquia para, assassinarem por todo o Reino a seu bel-querer! Tremo de o dizer, e a pena dificultosamente se move para publicar neste papel os decretos, planos, e projectos formados nas lojas maçónicas, e nas cadeias. Eu não improviso, nem invento: se não posso apresentar as cópias fieis destes decretos de vingança, e de morte, os pedreiros sabem que eu não minto. Desengano pois a todos os portugueses: podem dar o último adeus às suas fortunas, às suas famílias, aos objectos mais caros do seu coração, e por fim à sua existência, se chegar a estabelecer-se em Portugal o Império da Malhadice, ou seja com o nome do Senhor D. Pedro, ou com o nome da Senhora D. Maria da Glória: nesta espantosa; e horrenda hipotese não há em Portugal quem ponha um termo às paixões dos malhados; não há quem suavise, e mitigue o seu furor, e sede de vingança, de sangue, e de morte: não reservou Deus para este século das discórdias, e das desgraças a uma Santa Isabel, Anjo da Paz, que no seu século fez embainhar a espada dos que ardiam por destruir-se: então ainda não havia pedreiros em Portugal: às discórdias fomentadas por pedreiros não deu Deus outro calmante, outro termo, outro fim, que o acabamento, a extinção, a morte dos mesmos pedreiros. Este século produz somente as Semiramis, as Herodias, as Helenas, as Anas Bolenas, as ... : essas mesmas senhoras malhadas, únicas, que têm cabimento com os pedreiros, e que poderiam mediar com elas a favor da indulgência, do esquecimento, e da humanidade, são as mesmas, que lhes inspirariam maior crueldade, mais vasta carnagem, e matança. Saibam pois os portugueses, e mastiguem bem este aviso, que os malhados, que estão na Ilha Terceira, os que estão dispersos por várias nações, e os que estão presos, têm votado à morte a todos os camaristas, conselheiros, ministros, e criados do nosso Rei, o Senhor D. Miguel I; a todos os excelentíssimos duques, marqueses, condes, viscondes, e barões, que têm feito serviços ao nosso legítimo Rei; a todos os senhores generais, brigadeiros, coronéis, e mais senhores oficiais, que positivamente bateram, e desbarataram os rebeldes do Porto; a todas as tropas, e a todas as classes, que estiveram emigradas na Espanha no começo da grande empresa de colocar no Trono ao nosso augusto Rei; a todos os desembargadores, juízes, e magistrados, que julgaram de morte a algum traidor; a todos os procuradores dos Três Braços do Estado, que pela sua própria letra assinaram o mais glorioso assento, que se lavrou em Côrtes portuguesas, qual foi restituir o Trono, a quem em direito pertencia, e a quem fôra dele esbulhado por uma facção usurpadora de toda a legitimidade; a todas as testemunhas, acusadores, denunciadores, ou que de algum modo correram para morte, degredo,confiscação, ou padecimento de algum rebelde; finalmente a todos os empregados militares, civis, e eclesiásticos, que mais se distinguiram pela sua adesão à legitimidade. Eu sei que, além desta imensa, e honrrosa matança, realmente decretada, e até nominalmente votada pela chamada Regência da Ilha Terceira no ano de 1830, comunicada no mês de Abril do mesmo ano a todo os malhados presos nas cadeias deste Reino, e por eles muito aplaudida, também está decretado um dia de carnagem, e massacre sobre todos os soldados da Guarda Real da Polícia de Lisboa, e do Porto, e sobre uma multidão de regimentos de cavalaria, infantaria, e caçadores, dos quais agora me não lembra o número, se bem que estou certo de que são quase todos, entrando nesta conta muitos corpos de milícias, separando antes dos corpos, dizia o decreto, que eu vi com uma rública do ex-Conde de Vila Flor, os seus oficiais, e fazendo conduzir aos soldados nem armas, como para uma revista de fardamento. Na Ilha Terceira tem-se feito o mapa nominal de todos os votados à morte, o qual mapa se acrescenta quase todos os dias com as notícias, que para aí lhes mandam de Lisboa, e do Porto; eu pude ver, e vi por horas, em Lisboa este imenso livro de mortos, e os ditos decretos, que haviam passado a mãos de um malhadão; e tive a causalidade de faer esta achada entrando em sua casa a ver um seu hóspede, em ocasião que os dois estavam ausentes, estando aí somente uma moça de todo o serviço, que não suspeitou de mim, pelo costume em que eu estava de ver, e examinar livros, e papeis em ar de curiosidade. Soube então como também estava decretado o roubo, e o incêndio de todos os mosteiros, e conventos de Portugal; o roubo de todas as igrejas e capelas, com a proscrição de quase todos os párocos, (notei a relação dos privilegiados, e eram muito poucos) por se ter cantado, solenisado, e pregado nesses mosteiros, conventos, igrejas, e capelas o desbarato da facção rebelde do Porto. São estes os destinos dos portugueses nas mãos dos pedreiros, escudados com os nomes do Senhor D. Pedro, e da Senhora D. Maria da Glória!!! Reúnam-se pois os Portugueses, que amam os seu Rei, e que nele amam a sua honra, as suas fortunas, a sua segurança, e as suas vidas; e já que não há classe, estado, sexo, e idade, que não esteja votado à morte, à prisão, à desgraça, à pobreza, e à indigência, reunam-se todos, grandes, e pequenos; nobres e plebeus; oficiais, e soldados; empregados civís, e militares; seculares, e eclesiásticos; reunam-se todos, porque estão prescritos todos os que deram algum sinal de adesão ao seu Rei, o Senhor D. Miguel I; e, salva sempre a sua preciosíssima pessoa, se os pedreiros ousarem aparecer em campo, ou venha com eles o Senhor D. Pedro, ou a Senhora D. Maria da Glória, ou ambos dois, respeitando somente estas duas vidas, caiam sobre todos os pedreiros, de qualquer classe, estado, sexo, e idade que eles sejam; e não se ouça jamais outra voz senão união, firmeza, valor, e vamos a eles com unhas, e dentes. Disfarçam-se por uma vez os portugueses dessa cáfila de inimigos do género humano: espatifem-se esses infames revolucionários, se não querem depois perecer às suas mãos, mãos que somente manejam barbáridades; horrores, traições, crueldades, e sacrilégios: um só não escape vivo: não descancem a artilharia, e a fuzilaria de atirar, nem as espadas de cortar, nem o cacete de malhar, em quanto houver um só malhado vivo; não se lhes perdoe, ainda que o peçam, porque os malhados não pedem perdão senão para faerem outra revolução. Vejam bem os portugueses que a coisa não é só com ElRei, o Senhor D. Miguel, é com todos os que o juraram, os que o serviram, com os que lhe obedeceram, com os que fizeram donativos, ou empréstimos para as suas tropas, ou para as urgências do seu Governo; é com todos; a Causa não é entre irmãos, e irmãos; é entre Realistas, e Constitucionais; é entre portugueses não pedreiros, e portugueses pedreiros. Se estes irreconciliáveisinimigos fierem um desembarqueem Portugal,como tentam, e ameaçam faer, vejam bem os portugueses o que faem: escolham, ou matar, ou morrer; ou salvarr-se, ou perecer; ou liberdade, ou escravidão, e escravidão com morte, com desonra, com ignomínia, com pobreza, com miséria, e finalmente com fome. Não há que acreditar em amnistias, em conservação de empregos, de honras, de títulos, e de propriedades; em paz, em perdões, e em esquecimento do passado: eu sei que tudo isto se promete em nome do Senhor D. Pedro, e da Senhora D. Maria da Glória; mas também sei com toda a certea que os malhados têm feito juramento nas lojas, e nas cadeias de exercerem a vingança, a coragem, o massacre, a morte, e o roubo; de desempregar a todos, de perseguir a todos, não ficando isentos desta devastação, desempregação, e perseguição senão os malhados; e todas estas barbaridades têm eles jurado de fazer em nome do Senhor D. Pedro, e da Senhora D. Maria da Glória. À'lerta pois, portugueses! Eu sei que para iludir os povos, os quais se armam espontaneamente ao primeiro grito de "constituição", e ao primeiro toque do "hino constitucional", para degolar a todos os constitucionais, se os chefes lhes não fossem à mão, querem os pedreiros proclamar absoluto o Governo do Senhor D. Pedro, e da Senhora D. maria da Glória: e efectivamente, se esse governo pudesse estabelecer-se, ele seria nos primeiros mees não só absoluto, como tirãnico, e despótico: debaixo desse nobre título de "absoluto" querem os Constitucionais, e pedreiros exercer o roubo, a vingança, e a carnagem; mas passado esse espaço do absoluto império da matamça, a Constituição seria outra ve dada, e seria mais liberal, digo, mais ímpia, e desorganizada, que a de 1820, e a de 1826; mais, hei-de dizer a verdade toda, porque a sei, mais subversiva da sociedade que todas quantas constituições, e projectos da constituições se têm forjado, depois que os pedreiros começaram a levantar as cristas; e tudo seria feito em nome do Senhor D. Pedro, e da Senhora D. Maria da Glória, (desgraçada, e inocente princesa do grandemente infeliz Pará!!!) para o Senhor D. Pedro aparecer nos dois mundos o Príncipe mais inimigo dos Soberanos, mais adversário à Realeza, mais seduzido, e traidor pelos pedreiros. Eu sei que nesta constituição, que pudesse aparecer, depois da devastação dos Realistas, e cristãos portugueses, a Religião de Jesus Cristo Nosso seria proscrita por inimiga do Senhro D. Pedro, ou dos pedreiros, que se acobertam com o seu nome; que a Igreja de Roma, Santa Católica Apostólica, única verdadeira, seria tolerada somente por uma geração; e que o Papa presidente da mesma Santa Igreja Católica, Vigário, e Delegado de Jesus Cristo, seria despresado, e não admitido em Portugal, não valendo a Sua Santidade a sua curial aquiescência aos conselhos dos influentes nos Gabinetes europeus, portugueses, onde pretendem chegar em Portugal os pedreiros de Portugal, em nome do Senhor D. Pedro, para dar começo em Portugal à destruição das monarquias, à extinção da Igreja, e ao império dos ateus. Eu sei que o Senhor D. Pedro, ou em seu nome, se trata de exercer a carnagem sobre os portugueses, não pelo crime de serem Realistas, porque ainda na Europa se não forma crime à massa da Realeza, mas pelo facto de haverem aderido aos sagrados princípios da mais certa legitimidade, da mais notória justiça, e da mais evidente, e urgente necessidade na legal aclamação, e reconhecimento do Senhor D. Miguel em Rei de Portugal. Eu sei que o Senhor D. Pedro, desesperado, e com razão, de ser arrojado do Brasil, e assanhado por outra parte pelos pedreiros de Portugal, tem determinado não perdoar a um só português, que houvesse seguido a voz de "Miguel Rei". Se assim é, dirão muitos que Portugal fica despovoado e que não pode pois ser tanta ameaça; a alguns se há-de perdoar. Fortes credeiros! Eu sei que se tem decretado povoar Portugal dessa imensa chusma de emigrados, transfugas, rebeldes, traidores, e descontentes da Europa, para, depois de soltos, como queria Lord Canning, darem eles cabo de todos os Soberanos da Europa, ou eles sejam, ou não legítimos; e tudo isto quer fazer em nome do Senhor D: Pedro.


Ai de ti, Jerusalém! Ai de ti! Ai de ti! gritava em Jerusalém um tido por doido, alguns meses antes desta famosa cidade ser subvertida, e incendiada, e a maior parte dos seus habitantes ser entregue à morte pelos romanos seus inimigos; castigo, que fôra antes profetizado pelo Divino Salvador, pela cruel morte, que aquela cidade havia dado a todos os Profetas, e enviados de Deus. Eu bem sei Portugal, defendido pelas Cinco Sacratíssimas Chagas de Jesus Cristo Nosso Deus, e Senhor, não tem ainda incorrido na execração de um Deus, em que crê, em quem espera, e a quem ama; de um Deus, a quem tem ofendido por fragilidade humana, não por maldade sistemática, mas a quem invoca com fé viva, e verdadeira; eu sei que a totalidade da nação portuguesa se não rebelou jamais contra o seu legítimo Soberano, crime, que impele a Deus a entornar o cálice das desgraças sobre os povos rebeldes; todavia, à vista dessa numerosa horda de ímpios pedreiros, e de malvados traidores, que não tem cessado de conspirar contra Deus, e contra o seu Ungido, que o é em Portugal o augusto, o vitorioso, o católico Senhor D. Miguel, a quem Deus trouxe a Portugal, por mar, e por terra, salvo de tantas armadilhas, como a facção maçónica lhe preparou por mar, e por terra, eu tempo que a ira divina tenha lançado mão do seu flagelo para castigar justos, e pecadores, a estes por ímpios, e àqueles por não terem a estes aquele ódio figadal, que deve sempre ser conservado, nutrido, e aumentado contra os que não querem Deus, nem Miguel: por isso eu não posso deixar de gritar com todas as minhas forças, e praza a Deus que este grito se ouça em todo o Portugal:

(continuação, parte b)

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