18/03/14

D. PEDRO AFONSO, VIRTUOSO MONGE IRMÃO DE D. AFONSO HENRIQUES (II)

(continuação da I parte)

Reforça ainda mais esta suspeita com a advertência de que, usando-se, quase geralmente naqueles dias, os Soberanos Patronímicos, não era de crer que um filho do Senhor D. Henrique abandonasse o nome de seu Augusto Pai, a fim de obsequiar Irmão, principalmente quando vemos que um filho deste Soberano se chama D. Pedro Afonso, o que encontraria visivelmente o nome de seu Tio, e produziria algumas equivocações, de que os antigos se costumavam guardar, por serem mais cautelosos do que nós somos em tais matérias. Se lhe opõem o exemplo do Senhor D. Afonso Dinis, que tomou o apelido de seu Irmão, deixando o nome do Senhor D. Afonso III, responde que havia mais liberdade nos fins do séc. XIII, relativamente ao uso dos apelidos; e que no séc. XII se observava como religiosamente o uso dos Patronímicos. Ora: como a letra do Epitáfio gravado sobre a Sepultura do Monge Fr. Pedro Afonso em 1293 só põem a letra F., que é indiferente para exprimir filius, ou frater, e por outra parte achou cópia de notícias de um D. Pedro Afonso, filho do Senhor D. Afonso Henriques, que em 1183 assina na 2ª Doação daquele Soberano ao Mosteiro de Alcobaça; e que, dando mostras de singular afeição aos Monges, põem as balisas dos Coutos por suas próprias mãos; e que em 1206 faz doação do que possuía no Termo de Tomar ao Mosteiro de Alcobaça, assinando-se "Patrus Alfonsus filius magni Regis Alfonsi", no que também mostra subir de ponto a sua antiga afeição aos Monges, conclui que é este filho do Senhor D. Afonso I, o que no último quartel na sua vida se recolheu ao Mosteiro de Alcobaça, para melhor segurar a eterna felicidade.

Mosteiro de Alcobaça
Confesso que, sem me deixar prevenir de minha predilecção pelo mais crítico dos nossos Historiadores, eu abraçaria sem hesitar a sua opinião, se não achasse outra coisa mais do que as autoridades domésticas de Fr. Bernardo de Brito, e Fr. Manuel de Figueiredo em contradição com ele. Faz-me todavia grande peso a Carta de meu Pai S. Bernardo a ElRei D. Afonso Henriques, e que nas edições do doutíssimo Pe. Mabillon é a 308, e sobre cuja autenticidade não me consta haver a menor dúvida. Nesta Carta se lê: "Petrus Celsitudinis vestrae frater, er omni gloria dignus" e à vista de tais palavras, e de tão autorizada testemunha, quem poderá negar que o Senhor D. Afonso Henriques tivesse um irmão chamado D. Pedro? Alude imediatamente à profissão das armas, que seguia este D. Pedro: "Et Gallia armis pervagata in Lotharingiam militat, proxime militaturus Domino exercituum". Daqui se tiram duas espécies, que muito dizem para o meu caso:

1ª - Este D. Pedro Afonso, talvez esperando melhor gasalhado em seus parentes franceses, do que em sua pátria, no meio das bem sabidas alterações entre o Senhor D. Afonso Henriques, e a Senhora D. Teresa, viúva do Conde D. Henriques, passou a França, e aí se demorou no serviço dos Reis Franceses, entrando em várias campanhas, e obrando grandes gentilezas de valor; e, como tudo isto levaria seu tempo, não é de admirar que ele não assinasse as Escrituras, e Doações dos primeiros anos, em que o Senhor D. Afonso Henriques governou este Reino; e à objecção de que ele não assine nas Doações de deu Pai o Senhor D. Henrique, facilmente se acode, pela reflexão de que poderia nascer nos últimos anos de vida de seu Pai; o que é mais natural, considerando-se o ano de seu falecimento em Alcobaça, se é que não sucedeu alguma equivocação, que não é de admirar nos Epitáfios, mormente gravados muitos anos depois daquele, em que mais convinha se gravassem.
2ª - Este Príncipe, irmão do Senhor D. Afonso Henriques, é o próprio, que, no entender do Santo Padre, militará cedo em obséquio do Senhor dos exércitos, no que se envolve uma profecia bem clara da sua mudança dos trajes de Soldado pelos de Monge; e eu só por este indício, se mais nenhum tivera, certo e mui certo ficaria de que D. Pedro irmão do Senhor D. Afonso Henriques é o Monge Converso de Alcobaça; pois creio mais em meu Pai S. Bernardo, contando os futuros, do que nos mais críticos Historiadores contando estes o passado; e a quem notar de fraqueza este meu pensar, também respondo que me gloriarei sempre em nosso Senhor, que me deixa ser fraco em tais assuntos.

(a continuar)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES