02/06/14

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (VI)

(continuação da V parte)

D. Maria I
À hora aprazada, apareceu na Portaria o Ex.mº Arcebispo de Lacedemonia, o qual em nome de S. Em.ª autorizou também o Rev.mº Pe. G.al. Fr. Paulo de Jesus Maria, para abrir e fechar a Portaria da Clausura, e logo as Religiosas que haviam transportar-se saíram do dito Convento em Corpo de Comunidade cobertas com os seus véus, e sem perturbação alguma do Povo, que em torno as aplaudia: postas nos Reais Choches, acompanhadas dos ditos Ex.mº Arcebispo, e Rev.mº Geral, e de outros Fidalgos parentes como foram os Sobrinhos da Prioresa do novo Mosteiro, os Ex.mº Monteiro Mór do Reino Fernando de Melo, Domingos de Melo, e Francisco de Melo, e os outros Sobrinhos da Casa dos Cunhas de Xabregas, Senhores de Valdigem D. José Maria da Cunha Mendonça e Menezes, e D. Carlos José da Cunha Mendonça e Menezes, então Monsenhor, e hoje Principal da Santa Igreja Patriarcal, o Conde do Redondo Tomé Xavier de Sousa Coutinho, D. Diogo José António de Noronha, o Bispo de Viseu, do qual já fizemos menção, todos os Prelados, e Padres graves da Ordem, e outras muitas pessoas, e por este modo seguiram as Religiosas a estrada, que conduz ao novo Mosteiro, onde as esperavam muitas Fidalgas como foram D. Joana Catarina de Melo, Irmã da Priora, a Montreira Mór do Reino D. Brites José da Cunha, da dita Casa de Xabregas, e sua Irmã D. Catarina da Piedade, hoje Doma da Rainha N. S., e outras: e igualmente as esperavam muitos Fidalgos, e Grandes, e entre esses o Ex.mº Cardeal da Cunha Regedor, e Arcebispo Metropolitano de Évora, o Ex.mº Arcebispo de Tesalónica, o Ex.mº Visconde Ministro, e Secretário de Estado e hoje também Mordomo Mór; os dois Capelães Fidalgos, com exercício neste Mosteiro, e imensas outras Pessoas de todas  as classes, estando todo o largo junto à Portaria livre e guardado pela Tropa, e a Portaria e Igreja pelos Soldados da Guarda Real: e entrando deste modo as Religiosas pela Portaria se conduziram ao Lucutório de fora, onde esperavam Suas Majestades, e Altezas, assistindo-lhes à porta o Ex.mº Arcebispo e Rmº Geral, que as acompanharam até aqui.

Passado pouco tempo, chegaram Suas majestades e Altesas, e logo o Ex.mº Arcebispo de Lacedemónia pediu a Sua Majestade vénia para as Religiosas poderem entrar para o novo Mosteiro; e obtida esta, saíram as Religiosas do Lucutório em Procissão, precedendo-lhes a sua Cruz entre dois Ciriais, e entoando a Madre Vigária na Portaria da Clausura a antífona "Haec requies mea," que prosseguiram as Religiosas, e levantando as Cantoras o salmo "Laetatus sum in his" se encaminharam para o coro da Igreja interina, cantando a Comunidade alternadamente o mesmo salmo, e depois os salmos "Memento Domine David" e "Quam delicta tabernacula tua, Domine" todos com Gloria Patri no fim: Suas Majestades e Altesas acompanharam as Religiosas até ao mesmo lugar, e o Ex.mº Arcebispo, com o Rmº Geral fechou a porta da Clausura.

Depois que as Religiosas entraram no coro ficaram de pé, enquanto cantaram os ditos salmos, e no fim repetiram a antífona "Haec requies mea": depois se puseram de joelhos, enquanto o Celebrante, que foi o Ex.mº Principal Melo, Irmão da Madre Vigária e primeira Fundadora, cantou os Versos e as Orações competentes aos quais responderam os Músicos da Santa Igreja Patriarcal, que na Igreja para isso estavam prontos; e estes mesmos estando as Religiosas, e mais Pessoas de pé, cantaram o Hino do Santíssimo Coração de Jesus, Titular da Igreja, e no fim o Ex.mº Celebrante cantou a Oração do mesmo Santíssimo Coração de Jesus.

Depois passando-se o Ex.mº Celebrante para a Sacristia recebeu os paramentos competentes para celebrar a Missa, na qual um Sacerdote cantor da Patriarcal, o Padre António Pedro, cantou com Cota a Profecia da mesma missa, porque este dia era de jejum das têmporas: na Missa o Celebrante consagrou duas Hóstias, uma para o Santo Sacrifício, e outra para a Exposição de todo o dia: depois da Missa se expôs o Santíssimo Sacramento, com o "Tantum ergo," e logo o Celebrante entoou o "Te Deum" que prosseguiram os Músicos; e no fim cantou o Celebrante os Versos competentes, Oração do Sacramento, e as mais "pro Gratiarum actione:" concluída esta função, se retirou o Ex.mºo Celebrante com os mais Ministros para a Sacristia, e as Religiosas, debaixo da direcção de sua Prelada, foram beijar as Reais Mãos de Suas Majestades.

De tarde, como o Sacramento ficou exposto todo o dia, ficaram na assistência os dois Capelães Fidalgos, cada um em horas diferentes: na mesma tarde continuaram os Músicos a cantar vários Motetes; houve Sermão que pregou o Pe. Mestre Fr. Isidoro de Stª Maria, Religioso Carmelita Descalço; depois se cantou um Motete, e o Hino do Santíssimo Coração de Jesus, com o seu Verso e Oração; antes da Reposição se cantou o "Tantum ergo" e o Ex.mº Celebrante deu, na forma do estilo a Bênção com o mesmo Sacramento; finalizando por este modo esta solene acção, muito do gosto de todos, e por isso ainda do prazer e satisfação de SS. Majestades, por verem aquelas Religiosas vestidas de pobre, e duro saial, mas alentadas do Espírito Santo para estabelecerem uma Casa, na qual a observância primitiva da sua Stª Reforma, e o Amor de Deus, havia de ser só o único cuidado de todas, para poderem ser eternamente dignas Companheiras da Rainha N. S. no agradecimento ao Santíssimo Coração de Jesus, pelo benefício recebido.

(a continuar)

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