26/06/14

O PUNHAL DOS CORCUNDAS Nº 1 (IV)

(continuação da III parte)


Como devem ser castigados os Pedreiros Mestres de loja aberta.
Não é da minha competência endereçar conselhos aos Reis sobre a linha de procedimento, que devem guardar com os seus figadais, e irreconciliável inimigo os pedreiros. Quem veste púrpura, e cinge uma coroa tem obrigação de exaurir todo os meios de os conhecer, e de os punir logo que sejam conhecidos, sob pena de que cedo ou tarde pagará ou com a vida, ou com a mais insultadora, e afrontosa deposição, toda a condescendência, que tive com eles... e não é este o menor perigo que os ameaça... Um Rei deve ser elemente, e já dizia um filósofo antigo (Séneca) que era tão indecoroso a um Rei o perdoar a todos como o castigar a todos; há porém muitos lances em que uma desmesurada clemência é um crime de que o Rei dos Reis lhe tomará uma estreitíssima conta.

Confundir os bons com os maus, é animar a impunidade, e com ela todos os crimes, poupar cegamente os criminosos é sacrificar os bons, é perturbá-los na fruição dos seus direitos, é pô-los numa perpétua desconfiança de serem outra vez enxovalhados, e perseguidos: o que é tão certo que nestes casos importa mais ao cidadão probo e leal, esconder-se, ou antes mudar de pátria do que viver no meio de tigres que porventura açaimados um só instante pelo irresistível poderio da opinião pública, já estudam, e se afanam por desfazer com seus próprios dentes amordaçam que os refreia, e que apenas conseguirem tirá-la encheram tudo de estragos, de mortes, e de sangue ... E será feliz uma suspirada mudança de coisas visivelmente feita, e concluída pelo "braço omnipotente" se o primeiro e principal cuidado dos que afrontaram o desterro o cárcere, e a morte em obséquio a Fé Católica, e à Dignidade Real, deverá ser a aquisição dos meios indispensáveis para fugirem quanto antes em demanda de algum reino onde os carbonários, e os pedreiros nem subam, nem possam nunca subir aos primeiros lugares do Estado?

E serão acaso estes princípios alheios da Santa religião que nós professamos? Terão acaso o mínimo resabio de desejo de vingança tantas vezes proscrito, e abominado pelo supremo legislador?

Desejará porventura lavar suas mãos no sangue dos pedreiros quem se atreve a insinuar ou lembrar a necessidade do castigo para uma seita que é jurada e implacavelmente inimiga dos tronos, e dos altares do Cristianismo? Que fácil é jogar contra a seita pedreiral esses mesmos princípios fantásticos, e cerberinos com que ainda hoje trata de embair os crédulos, e os ignorantes? Agora é a força armada que cedendo às perfídias sugestões dos corcundas conseguiu ditar a lei ... e a 24 de Agosto de 1820 dia de infausta, e execranda memória nem sombra ou resto de gente armada se viu na Cidade Regeneradora, e talvez que o Regimento Nº 18 que vós tratastes de perverter e desencaminhar, mas que tão gloriosamente volveu ao lugar, que por sua antiga reputação de lealdade, e de valor lhe competia, vos assistisse e apoiasse então só para decência, e formosura do acto. Então foi virtude conceber, e executar o mais nefando acto de desobediência, e rebelião, que por miserando que fosse o estado a que nos chegara a lastimosa ausência Del-Rei nunca seria legítima ou valiosa, porque nós os Cristãos pela graça de Deus respeitamos e seguimos a doutrina do Apóstolo S. Paulo, doutrina verificada nos melhores dias da Igreja, ou nos primeiros séculos, em que aparecendo tantos Neros, não apareceu um só cristão que se revoltasse contra os maiores abusos da autoridade que os regia com vara de ferro, e os esmagava: e agora, que estranha incoerência dos tais pedreiros, e agora depois de tantas infracções, do áureo - rapidamente sistema constitucional, que há mais de dois anos fugira para o globo de Saturno, agora sim que é perjúrio, e um crime irremessível qualquer resistência, por mínima que seja à autoridade pública! Não há coisa melhor que este pau de dois bicos, pois desta maneira tudo se aplana, e justifica.

Então foi um auto de extrema lealdade o grito Viva a Constituição, que devia lançar por terra a Monarquia Portuguesa, e adiantar o império das trevas, o império do maçonismo, e agora é aleivosa é perjúrio, é ser insurgente, e faccioso vindouros de serem todos uns infames adeptos da pedreirada! Então os coronéis eram uns homens dignos da imortalidade, uns heróis merecedores de estátuas, e padrões; e agora um herói, filho de outro herói sim de outro herói ... que apraz de inveja foi um português que verdadeiramente se distinguiu na expulsão dos frades invasores de Portugal em 1809, sim de outro herói que antes queria morrer, que aderir aos planos das sociedades maçónicas, sim de outro herói, que estalou de pena quando soube que ElRei aprovara a constituição; este herói porque lhe servem no peito os sentimentos de lealdade, que seu grande Pai lhe infundira, e tanto lhe recomendara em seus últimos momentos, este herói porque deseja acudir a Fé quase expirante, pois eu mesmo viajando na Província de Trás-os-Montes ouvi, e estremeci de ouvir as mais execrandas blasfémias na própria cadeira da verdade, porque deseja impedir que venham os estrangeiros dar-nos lições de fidelidade aos nossos Reis, porque então os vivas ao Rei como era dantes (Legítimo, e verdadeiro sentido da palavra absoluto) porque lastimando, e enfurecido de ver preza, e desterrada a espora de um Rei, Filha, Mãe, e Irmã de outros Reis, trata de lhe espedaçar os ferros ... é o faccioso e rebelde, e infame Ex-Conde de Amarante!!!

(continuação, v parte)

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