11/08/14

DO LIBERALISMO À APOSTASIA - PREFÁCIO (com comentários)

Com submissão à minha actual condição, proponho apresentar o Prefácio do livro "Do Liberalismo à Apostasia" (D. Marcel Lefebvre) com notas explicativas (apresentadas depois do dito prefácio):

"A ideia de escrever este livro surgiu na sequência de algumas conferências sobre o liberalismo, feitas para os seminaristas de Ecône. Estas, tiveram por finalidade o esclarecimento da inteligência dos futuros sacerdotes a respeito do erro mais grave e nocivo dos tempos modernos, e permitir-lhes fazer juízos sobre as consequências e manifestações do liberalismo e do "catolicismo liberal".

Os "católicos liberais" introduzem os erros liberais no interior da Igreja e nas sociedades já pouco católicas. É muito instrutivo reler as declarações dos papa a este respeito e comprovar o vigor das respectivas condenações.

É de grande utilidade relembrar a provação de Pio IX a Louis Veuillot, autor do admirável livro "A Ilusão Liberal", e a do Santo Ofício a D. Felix Sardá e Salvany para "O Liberalismo é Pecado".

Que teriam pensado estes autores se houvessem comprovado, como nós actualmente, que o liberalismo é rei e senhor no Vaticano e nos episcopados?

Destes factos segue a urgente necessidade de que os futuros sacerdotes conhecerem este erro. Pois o "católico liberal" tem uma falsa concepção do acto de Fé, como bem o mostra D. Félix (cap. VII). A Fé não seria mais uma dependência objectiva da autoridade de Deus, mas um sentimento subjectivo, que em consequência, respeita todo o tipo de erros, nomeadamente os religiosos. No seu cap. XXIII, Louis Veuillot mostra que a nota fundamental da Revolução Francesa de 1789 é a independência religiosa, a secularização da sociedade, e em definitivo a liberdade religiosa.

O Padre Tissier de Mallerais, Secretário-geral da FSSPX, encorajado pelo Superior-geral, teve a ideia de completar e organizar este conjunto de conferências e publicá-las, para que possam também ser úteis a outros além dos seminaristas.

Enquanto este trabalho estava em andamento, aconteceu em Assis a mais abominável manifestação do catolicismo liberal, prova visível de que o Papa e aqueles que o aplaudem têm falsa noção de Fé, noção modernista que faz tremer todo o edifício da Igreja. O próprio Papa assim anuncia na sua alocução de 22 de Dezembro de 1986 aos membros da Cúria Romana.

Com o fim de guardar e proteger a Fé católica da peste do liberalismo, parece-me que este livro chega em momento muito oportuno, fazendo eco das palavras de Nosso Senhor: "Aquele que crê será salvo, aquele que não crê se condenará"; é esta a Fé que o Verbo de Deus encarnado exige de todos aqueles que querem ser salvos. A Fé foi causa de sua morte, e seguindo seu caminho todos os mártires e testemunhas que a professam. Com o "liberalismo religioso", não há mais mártires nem missionários, mas somente destruidores da religião reunidos em volta da promessa de um paz meramente discursiva.

Longe de nós tal liberalismo, sepultura da Igreja Católica. Seguindo Nosso Senhor, levamos o estandarte da Cruz, único sinal e única fonte de salvação.

Que Nossa Senhora de Fátima, no 70ª aniversário de sua aparição queira abençoar a difusão deste livro, que faz eco às suas predições."

Ecône, 13 de Janeiro de 1987
Festa do Baptismo de Nosso Senhor.

Um dos momentos mais demolidores na história da Igreja: João Paulo II beijando o Corão.

Notas:

1 - a) "A ideia de escrever este livro surgiu na sequência de algumas conferências sobre o liberalismo, feitas para os seminaristas de Ecône."

Tanto o tema é relevante, que não bastou uma palestra, mas sim uma série de palestras aos seminaristas de Econe. E mais que isso, é tudo reafirmado e reforçado pela decisão posterior de coloca-las em livro. O liberalismo é tema incontornável na formação cristã dos nossos tempos, portanto.

b) "Estas [palestras], tiveram por finalidade o esclarecimento da inteligência dos futuros sacerdotes a respeito do erro mais grave e nocivo dos tempos modernos, e permitir-lhes fazer juízos sobre as consequências e manifestações do liberalismo e do "catolicismo liberal".

Veja-se o peso e gravidade dados para o conhecimento do claro do liberalismo! As palestras não foram uma mera formação, e sim um grande e especial esforço, para capacitar os futuros sacerdotes da FSSPX, face ao escorregadio liberalismo. O liberalismo teve o seu tempo especial no séc. XIX, mas continuou já de forma menos exterior, e convergiu no modernismo.

2- a) "Os "católicos liberais" introduzem os erros liberais no interior da Igreja e nas sociedades já pouco católicas."

Não diz que os liberais se introduziram na Igreja, mas sim que os erros liberais se introduzem por meio de católicos (é importante distinguir). Embora óbvio há que expor que o "católico liberal" é aquele que, não deixando de ser católico tem pensamento liberal, ou mentalidade liberal (culpavelmente, ou não - porque há erros que o liberalismo passou às sociedades à raiz da cultura). A tradução brasileira do livro diz que a introdução de erros é feita nas sociedades "ainda católicas", mas a versão espanhola diz "todavía poco católicas"; com base nas duas traduzo "já pouco católicas". São as sociedades que já estão fragilizadas no seu pensamento as que vão permitindo a introdução do pensamento liberal, e o gradual assentamento deste.

b) "É muito instrutivo reler as declarações dos papas a este respeito e comprovar o vigor das respectivas condenações."

O pensamento da Igreja manifestou-se sempre numa mesma direcção, da qual o liberalismo tende a relativizar ou afastar-se.
3 - "É de grande utilidade relembrar a aprovação de Pio IX a Louis Veuillot, autor do admirável livro "A Ilusão Liberal", e a do Santo Ofício a D. Felix Sardá e Salvany para "O Liberalismo é Pecado"."

Estas obras não são a "Sagrada Escritura" livre de imperfeição, certamente. Mas, nelas a linha tomada é a certa, com boa orientação de leitura. "O Liberalismo é Pecado" tem algumas insuficiências para aquilo que hoje seria necessário  dizer. Alguns católicos mais distraídos, quando tomam o título "O Liberalismo é Pecado", deveriam ter mais presente a distinção entre pecado culpável, e pecado não culpável; mais lhes conviria que o título fosse "O Liberalismo é Pecado culpável, ou não culpável". O liberalismo existe também "culturalmente", e marcou as sociedades no séc. XIX, principalmente, ao ponto de muitos daqueles que se posicionaram publicamente contra o liberalismo também tinham alguma marca dele.

4 - "Que teriam pensado estes autores se houvessem comprovado, como nós actualmente, que o liberalismo é rei e senhor no Vaticano e nos episcopados?"

Sem dúvida! Mas o que pensarão os liberais de hoje a respeito das autorizadíssimas criticas que foram dirigidas ao liberalismo no passado? Roma faz Bispos, os Cardeais elegem um Papas segundo o parecer individual que tenham, e para onde tendem; assim se estrutura uma influência de pensamento que, evidentemente sempre terá os seus polos "direita" "esquerda", ou "conservadores" e "liberais". Liberais dos liberais!? Sim, a tendência é essa, a história o demonstra: em casos como estes apenas a ala mais à "esquerda" fica conotada como "liberal", sendo que todos já o são de maneira menor e com poucas probabilidades de o reconhecerem.

5 - a) "Destes factos segue a urgente necessidade dos futuros sacerdotes conhecerem este erro."

Os futuros sacerdotes desse tempo são agora sacerdotes de meia idade. Para "conhecerem este erro" há que interessar-se também pelos movimentos liberais ocorridos no séc. XIX por todo o mundo cristão; cada Reino seu caso.

b) "Pois o "católico liberal" tem uma falsa concepção do acto de Fé, como bem o mostra D. Félix (cap. VII)."

Já vi quem tomasse estas certíssimas palavras como definição de "liberalismo". O "católico liberal" têm também muitas outras falsas concepções, como produto dos pressupostos liberais. A dificuldade do católico liberal, relativamente ao conceito de Fé, por exemplo, reside no posicionamento que tem relativamente à verdade em geral, e liberdade. Na verdade, um liberal tende a achar que há terceira via entre o certo e o errado, que existe um espaço neutro onde gostaria de permanecer, que há uma independência entre as coisas e a realidade (incluindo as religiosas), e assim que incomodado o liberal estará pronto a clamar por "liberdade" contra a dependência que lhe negua as falsas independências e falsas liberdades. Quanto à Fé acontece o mesmo: o "liberal católico" tende a ver a Fé como algo à parte da Verdade.

c) "A Fé não seria mais uma dependência objectiva da autoridade de Deus, mas um sentimento subjectivo, que em consequência, respeita todo o tipo de erros, nomeadamente os religiosos. No seu cap. XXIII, Louis Veuillot mostra que a nota fundamental da Revolução Francesa de 1789 é a independência religiosa, a secularização da sociedade, e em definitivo a liberdade religiosa."

Não se vá pensar que a nota fundamental do liberalismo é a "independência religiosa, a secularização da sociedade, e em definitivo a liberdade religiosa", pois o mesmo se diz da Revolução Francesa, por exemplo. Assim, até nos reinos católicos em que o liberalismo militante tentava dominar, vários católicos tomaram também o partido liberal sem intenção alguma de ferir a Religião. Vemos também o liberalismo militado a não dispensar a Religião (mesmo quando perseguiu o clero "absolutista" e promovendo e provocando o aparecimento de um clero liberal), alguns católicos que apoiaram a revolução liberal pedindo a Deus por isso, vemos também como alguns poetas aclamaram pela falsa liberdade, num verso, e pela Providência Divina, no verso seguinte. Se a Revolução Francesa tem um fundo de laicização, que o tem garantidamente, isso não é tanto por via da intenção geral de boa parte dos seus aderentes de então, e viu-se como o foi a consequência posterior (que veio a desagradar a uma parte desses iniciais participantes). O liberalismo é um outro fenómeno, mas ambos levaram necessariamente às más consequências, como são: a "independência religiosa, a secularização da sociedade, e em definitivo a liberdade religiosa.". Na verdade, o liberalismo antecede a Revolução Francesa e encontra corpo no modelo Inglês de poder (cobiçado por insatisfeitos nobres da França); preparando a França para um sistema de poder liberal, ficaram abertas as portas a todas as maleitas, de tal modo que rolaram as cabeças dos nobres que desejaram tal "poder partilhado". Os ideais de igualdade começaram com o desejo de muitos daqueles nobres quererem ser como reis, logo os seguiu parte do Povo que queria ser como nobres, e assim tal desejo se fez "carne", habitou entre eles, e tomou falso nome de "igualdade". Já a falsa liberdade, na qual assenta mais directamente o movimento liberal, nome e falso conceito que lhe dá nome, encontra-se bem expressa numa crença de que qualquer tipo de governação, pública e privada (mesmo a pessoal), não têm qualquer outra dependência que a vontade dos intervenientes (é na verdade um despotismo partilhado, e não um dever submisso às verdades eternas e às pessoas legítimas). O que o liberalismo politicamente contesta é a Monarquia Tradicional, à qual difama chamando "absolutista", porque ela é MONO e não PLURI: quer ver-se "livre" do poder do legítimo, e quer tomar o poder sem se sujeitar ao que os tradicionais reis se sujeitavam: o poder divino, a Lei divina, a Tradição, os bons-costumes etc etc ... Igualados, gradualmente, haveria de cair toda a ordem da Cristandade: desde os Reis aos Papas; pois a Verdade perdia na terra os seus suportes, o seu corpo social, e ia abandonando o coração do homem e esterilizando o solo às gerações futuras (não fosse a Graça, ter outras regras e fonte).

 6 - "O Padre Tissier de Mallerais, Secretário-geral da FSSPX, encorajado pelo Superior-geral, teve a ideia de completar e organizar este conjunto de conferências e publicá-las, para que possam também ser úteis a outros além dos seminaristas."

O Padre Tissier de Mallerais e hoje Bispo. Este facto reforça ainda mais os reforços apresentados no nosso ponto e alínea "1 - a)". O facto do Superior-geral ter encorajado tal acção é mais outro reforço a juntar aos muitos. A importância do tema, já abordada, relativamente à preparação dos sacerdotes, é agora lançada aos católicos em geral. Isto é reconhecer que o assunto é vital aos católicos, e deve ser conhecido e bem identificado, para possibilitar juízos realistas, evitando grandes males e promovendo bens (e impossibilitando a confusão de uns com outros).

7 - a) "Enquanto este trabalho estava em andamento, aconteceu em Assis a mais abominável manifestação do catolicismo liberal, prova visível de que o Papa e aqueles que o aplaudem têm falsa noção de Fé, noção modernista que faz tremer todo o edifício da Igreja."

O encontro de Assis foi um acontecimento histórico que prova: uma "apostasia ingénua" por parte do Papa João Paulo II, e a falta de potabilidade da actual hierarquia católica. Necessariamente, a sua noção de Fé não é católica; mas pergunto-me se a crença daquelas falsas religiões ali reunidas é a original delas, ou se também para eles este acontecimento de Assis acontecimento representa uma "traição" aos seus fundamentos!

b) "O próprio Papa assim anuncia na sua alocução de 22 de Dezembro de 1986 aos membros da Cúria Romana."

(Quem tiver este documento, diga.)

8 -  a) "Com o fim de guardar e proteger a Fé católica da peste do liberalismo, parece-me que este livro chega em momento muito oportuno, fazendo eco das palavras de Nosso Senhor: "Aquele que crê será salvo, aquele que não crê se condenará"; é esta a Fé que o Verbo de Deus encarnado exige de todos aqueles que querem ser salvos."

Sem a Fé não se é salvo. A Fé é dada por Deus, não a podemos obter apenas por merecimento. Ao olharmos os feitos e os ditos do Papa João Paulo II, quase não podemos considerar de forma diferente: se, nos últimos instantes, este Papa acreditou como tinha acreditado até então, não obteve a salvação, porque não terá recebido a graça necessária para a Fé. Mas ... hoje, João Paulo II está colocado nos altares, como se um não canonizável pudesse ser canonizado apenas por acto de mera formalidade!

b) "A Fé foi causa de sua morte, e seguindo seu caminho todos os mártires e testemunhas que a professam. Com o "liberalismo religioso", não há mais mártires nem missionários, mas somente destruidores da religião reunidos em volta da promessa de um paz meramente discursiva."

O Papa Bento XVI recentemente pediu para rezarmos pela paz. O motivo: terminar com a chacinada de católicos no Médio Oriente. No passado pedia-se para Deus dar fé e coragem aos católicos até ao último momento, para alcançarem a palma do martírio, e para que houvesse conversões. Hoje, pede-que nada disso aconteça, em nome da "paz". Se o sangue dos mártires foi fermento na Igreja, atitudes como as de agora só darão resultados opostos ...

9 - "Longe de nós tal liberalismo, sepultura da Igreja Católica. Seguindo Nosso Senhor, levamos o estandarte da Cruz, único sinal e única fonte de salvação. Que Nossa Senhora de Fátima, no 70ª aniversário de sua aparição queira abençoar a difusão deste livro, que faz eco às suas predições."

É notável como ao combate ao liberalismo Mons. Lefebvre associa Nossa Senhora de Fátima. Depois como se vê, escolhe o dia 13 de Janeiro, dia do Baptismo de Nosso Senhor, para escrever este prefácio.

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