13/08/14

Fr. FRANCISCO FOREIRO NO CONCÍLIO DE TRENTO

"Chegado a Trento a 15 de Fevereiro de 1561 ou pouco antes como delegado régio de D. Sebastião e procurador do Bispo de Silves, D. João de Mello, o dominicano português Frei Francisco Foreiro (1522? - 1581) cedo se impôs à consideração dos Padres conciliares. Mal familiarizado com os ares da cidade alpina, logo o nomearam secretário da Junta dos livros a condenar como hostis à Fé (26 de Fevereiro). Interveio em várias congregações dos teólogos menores sobre os sacramentos: Eucaristia (13 e 24 de Julho de 1562), Ordem (25 de Setembro do mesmo ano), Matrimónio (15 de Março de 1563). Apesar da tempestade levantada com a ousada intervenção sobre a Eucaristia como sacrifício (segundo Foreiro, artigo de Fé com base na Tradição mas sem fundamento na Escritura), o teólogo impôs-se de tal modo à consideração dos Padres conciliares que lhe confiaram o sermão do 1º domingo (28 de Novembro) do Advento de 1563, vésperas do encerramento do Concílio.

Ecuménico Concílio de Trento
A riqueza de conteúdo bíblico e teológico levou a que João Baptista Bozola o mandasse imprimir em Brescia no ano seguinte, com uma breve introdução sobre a actividade conciliar e a obra exegética do autor. muito deve ter ressoado o eco do sermão na lusa pátria para Frei Luís de Sousa escrever, a propósito do latim, Grego, e Hebraico por Frei Francisco Foreiro: "E foi fama constante em Portugal que fazendo um sermão aos Cardeais, Legado e mais Padres do Concílio, mandou avisar ao Mestre das Cerimónias, que soubesse de suas ilustríssimas em que língua eram servidos que pregasse". O esmero formal no emprego da língua do Lácio permite duvidar se muitos Padres conciliares do Vaticano II o entenderiam cabalmente. Sobre os méritos do hebraísta é ler o comentário a Isaías e as citações de Job e Habacuc no sermão. Quem sabe se não deixou de lado a sua versão de Isaías só para não ferir ouvidos acostumados à veneranda Vulgata.

O conteúdo teológico centra-se no problema justificação pela Fé e pelas obras. Como base de argumentação o pregador usa de abundante argumentação escriturística, desenvolvida num vasto rol de citações bíblicas (noventa e seis, ao todo) do Antigo e do Novo Testamento. Nos passos do Antigo Testamento dominam os Salmos (16 ocorrências) e os profetas (14, com 6 à conta de Isaías) - seguidos dos sapienciais (Job na dianteira, com 4 ocorrências e em versões próprias do original hebraico), Pentateuco (2) e históricos (só Tobias, uma vez). Ao todo, chama-se o Antigo Testamento 40 vezes à colação.

Mais abundante é o recurso ao Novo Testamento: 56 ocorrências. No confronto com a Reforma nascente, não admira que as Cartas paulinas tenham a parte de leão (28 citações com predomínio da Carta aos Romanos - 11 vezes). Seguem-se os Sinópticos (16 citações, sem Marcos) e a Carta aos Hebreus (5), Actos dos Apóstolos (2) e Apocalipse (1)."

("Sermão de Frei Francisco Foreiro aos Padres Conciliares de Trento"; José Nunes Carreira, Universidade de Lisboa)

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