30/10/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XIX)

(continuação da XVIII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis
Cap. XIX
Exercícios do Bom Religioso
[recordar que este capítulo é escrito de monge para monges]
1. A vida do bom religioso deve resplandecer em todas as virtudes, para que seja no interior o que parece se por fora aos homens; e com muita razão deve ser mais puro o interior do que aquilo que interiormente se manifesta, porque nos está vendo Deus Nosso Senhor, a quem devemos respeitar sumamente em qualquer lugar onde estejamos, andando na Sua presença tão puros como os anjos.
Cada dia devemos renovar os nossos propósitos e exercitar o nosso fervor, como se estivéssemos no primeiro dia da nossa conversão, e dizer "Ajudai-me Senhor Deus meu, em meu  bom intento e em Vosso santo serviço, e dai-me a graça para que comece hoje com perfeição, pois nada é tudo o que até agora tenho feito."
2. À medida do nosso propósito, cresce o nosso aproveitamento, e quem deseja aproveitar bem necessita de muito cuidado.
Porque, se quem firmemente propõe muitas vezes falta, que será de quem propõe raras vezes e sem firmeza?
De vários modos acontece faltarmos a nosso propósito e dificilmente passa sem dano a mais leve omissão em nossos exercícios de piedade.
O propósito dos varões justos mais se funda na graça de Deus do que na sua própria sabedoria e Nele confiam sempre, em qualquer obra que empreendem.
Porque o homem propõe e Deus dispõe, e não está na mão do homem o seu caminho.
3. Se alguma vez se deixa o exercício costumado por motivo de piedade ou proveito do nosso próximo, depois se pode reparar facilmente; mas se por enfado ou negligência se larga facilmente, é isto tão culpável como nocivo.
Esforcemo-nos quanto pudermos, pois ainda assim caímos em muitas faltas. Devemos propor sempre alguma coisa determinada, principalmente contra aqueles que mais nos embaraçam.
Devemos examinar e ordenar todas as coisas exteriores, porque tudo importa ao nosso aperfeiçoamento.
4. Se te não podes recolher muitas vezes, recolhe-te, pelo menos, algumas vezes no dia, a saber: pela manhã e à noite.
Pela manhã, propõe, e, à noite, examina as tuas acções e vê como houveste em pensamentos, palavras e obras, porque pode ser que, nisto ou naquilo, ofendesses a Deus e ao teu próximo.
Arma-te, como varão forte, contra a malícia do demónio. Refreia a gula e facilmente refrearás todas as más inclinações da carne. Nunca estejas de todo ocioso, mas lê ou escreve, reza ou medita, ou faz alguma coisa de proveito para os outros. Os exercícios físicos devem ser feitos com descrição, porque a sua conveniência varia de pessoa para pessoa.
5. Os exercícios particulares não se devem fazer publicamente, porque são mais seguros sendo ocultos. Guarda-te, entretanto, de ser mais pronto para o particular que para os devidos à comunidade. Satisfeitas, inteira e fielmente as tuas obrigações, então poderás, se tiveres tempo, empregá-lo conforme pede a tua devoção.
Não podem todos entregar-se ao mesmo exercício, pois um convém mais a este, outro àquele.
Também conforme a variedade dos tempos dependem os exercícios, porque uns são mas próprios para os dias de festa, outros para os dias comuns. Uns os servem para as horas de tentação, ouros para os momentos de paz e sossego. Em setas coisas gostamos de meditar quando estamos tristes, em outras quando estamos alegres.
6. Nas festas principais devemos renovar os nossos bons exercícios e implorar mais fervorosamente a intercessão dos Santos. De uma festa para outra, devamos propor alguma coisa, como se houvéssemos de sair deste mundo e chegar à festividade eterna.
Por isso devemos aparelhar-nos com cuidado durante tais solenidades, entregando-nos à prática da piedade e guardando rigorosamente a regra, como se houvéssemos de sair deste mundo para receber de Deus o prémio do nosso trabalho. 
7. E, se a nossa vida for longa, convençamo-nos de que a misericórdia divina ainda não nos julga merecedores da suprema glória que cabe aos justos, ao transitar desta para a vida eterna.
Diligenciemos, entretanto, em nos preparar melhor para a morte. "Bem aventurado o servo – diz o Evangelista São Lucas – que o Senhor achar vigiando quando vier. Em verdade vos digo que o constituirá sobre todos os seus bens."

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