03/11/14

FLORES DE HISPANHA, EXCELÊNCIAS DE PORTUGAL (XI)

(continuação da X parte)

EXCELÊNCIA VI
O Que Dizem Os Autores Sobre o Bom Clima de Portugal

É bem notório a todos os estrangeiros, pois todos os autores o confessam da mesma forma, tal como disse Roderico Sancio, (a) e outros que ao louvar em geral a Hispanha [Península Ibérica] o fazem também a Portugal; e alegando os que particularmente falam de nosso Reino são: Jorege Brannio, Francisco Hogenberg, Francisco de Monçon, (b) que atestam ser tal o clima em Lisboa, que não há frio, nem calor em qualquer época do ano; Abraham Ortelio (c) afirma que a bondade da província de Entre Douro e Minho é forte, que não pode encarecer-se, nem declarecer-se; o Padre Mariana (d) louva todo o Reino de Portugal de ter excelente clima e ares; Ateneu (e) também trata do mesmo; e o Mestre Ávila diz assim: "Felicissimo Reino de Portugal dotado de tantas coisas preciosas, que mereceram a pluma dos melhores discursos, e celebraram com superiores estilos."

[(a) -Roderic. Sanch. hist. Hisp. p. 1 c. 1;
(b) - Jorge Bran. Franc. Hogemb. civit. orbis lib. 2 tit. Olyssipo. Franc. de Monçon no seu espejo de Principes lib. 1 cap. 90;
(c) -Ottelraetr. orbis tab. Portugal;
(d) -Mar. lib. 10 c. 9;
(e) - Atheneus f. 8 c. 1.]

1. Ainda que alguns tivessem dito que os campos Elísios (morada das almas bem-aventuradas, segundo a falsa opinião dos antigos gentios), cujos aprazíveis prados e bom clima Virgílio descreve, António Muerto, e outros, (g) estavam no céu das estrelas fixas, outros, que estavam cerca do globo da Lua, outros no meio dos infernos, outros nas ilhas afortunadas, como refere o licenciado Vianna a Ovidio; (h) a melhor opinião é que os antigos lhe assinalavam lugar em Hispanha [Península Ibérica], como defende Homero e Estrabão o confirma, Suidas, os Padres Bivar, Pineda, e Prado com muitos outros, (i) e ainda que destes pensaram alguns, (l) que estavam aqueles na Hispanha Betica, ou junto de Cádis, o certo é que os gentios os punham em Portugal, como se prova de Posidónio, a quem cita Celio Rodigino, e o diz Garopio Becano: (m) e confirma-se porque (como notou o dito Strabão) Homero disse que Ulisses havia ido aos últimos fins da Hispanha [Península Ibérica], e que ali estavam os campos Elísios; e isto claro está,deve entender-se da Lusitânia, ou Portugal, que é a última parte e fim da Hispanha [Península Ibérica], junto do qual está o promontório chamado Finis Terre; ademais do qual bem se deixa entender, Homero falou da Lusitânia, pois é certo que o mesmo Ulises ali foi quando fundou Lisboa. E finalmente à semelhança do nome entre campos Elísios e campos Lísios, como se chamam aos da Lusitânia, Lysitania, ou Portugal, bem pode formar-se algum argumento para esta parte. Mas em que parte de Portugal diremos que estavam estes campos, segundo os antigos? Camões (n) parece dizer, que os que chamamos de Além Tejo, enquanto escreve que eram aqueles que o rio Guadiana rega, ou Odiana. Mas o certo é que eram no Entre Douro e Minho, e assim diz um moderno, (o) que se houve campos Elísios, eram estes, e se não os houve, serão estes; e provou-o com um forte argumento. É certo que afirmavam os antigos, que o rio Ledo está nos campos Elísios, e que este rio causava o esquecimento das coisas nos que o atravessavam; e como se lê em Virgílio, (p) que conta que Eneias andando pelos campos Elísios chegou ao rio Ledo, 

Laethaeumque domos placidas qui penetrat amnem;

e que perguntando ao seu pai Anquises, que rio era aquele, lhe respondera, que era de Olvido. 

Laethaei ad fluminis undam Securos latices, et longa oblivia petant. 

Este rio bem se sabe que está Entre Douro e Minho, a quem vulgarmente chamam Lima, e as histórias nos contam (q) como tendo ali chegando Bruto com seu exército, os Romanos não queriam passar o rio para não ficarem esquecidos da sua pátria, e todo o resto. Não se pode logo negar, que os campos, que este rio rega são os Elísios. E bem está à vista, que todos os campos de Portugal, e principalmente os de Entre Douro e Minho, mereciam ser os Elísios se este título houvesse de ser dado pelos bons ares e amenidade, pois não há dúvida que outros no mundo podem com eles comparar-se.

[(g) -Virg. lib. 6 Anton. Muret. 1 5 c. 1;
(h) - Vianna no comentário a Ovid. lib. 11 n. 45;
(i) - Strabão lib. 1 Suidas referido por o P. Bivar in coment. ad Dext. anno 66 n. 6 Pineda in lib. de s. Jomone. Prado Ezech. tom 1;

(l) - Pineda, et Prado supra;
(m) - Cel. Rodibin. l. 8 cap. 22 Garop. Becan. l 9 Hermathen.;
(n) - Camons Cant. 8 est. 3;
(o) - Faria Epit. p. 4 c. 5 num. 4;
(p) - Virg. l. 6;
(q) - Brito monarch. Lusit. i p Duarte Nun. descrip. de Port. cap. 19. Flor. in Epin. liv. l 55.]


(continuação, XII parte)

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