04/11/14

FLORES DE HISPANHA, EXCELÊNCIAS DE PORTUGAL (XIV)

(continuação da XIII parte)

EXCELÊNCIA III
Fontes de Portugal

As fontes são infinitas, e para prova desta multitude basta dizer que, na província de Entre Douro e Minho (que é tão pequena, como acabámos de referir) há mais de 25.000 fontes perenes, como escrevem alguns autores, (a) mas não sei como lhes poder dar crédito na contagem. Na província de Entre Tejo e Guadiana, que é a menos abundante em águas em Portugal, os Religiosos da serra de Ossa, junto à cidade de Évora, numa herdade têm mais de 70 fontes. Por isto digo que Portugal é um só rio que, dividido em muitos braços, forma outras tantas ilhas para que habitando nelas os moradores possam gozar das suas frescas águas, ou que [Portugal] é um formoso tanque, ou curiosa fonte, que deitando água por muitos canos de subtis invenções, jorra graciosamente sobre os campos, ou melhor dizendo, por lindos quadros que tem os moradores junto de si. Tantos são seus rios, tantas são suas fontes, tão claras e cristalinas, como a de Claros nascida das lágrimas de Manto, filha de Thiresias, chorando a destruição de Tebas sua pátria, feita pelos epignos, se não se enganam os poetas (b) em pensar que era clara, e não turva fonte de água lacrimosa, e triste.

Havia bastante matéria para fazer correr a pena, se não parecesse supérfluo determo-nos mais naquilo que muitos escreveram; entre todos pode ver-se melhor o que aqui está em falta [em autores como] André de Resende, António de Vasconcelos, e agora modernamente em castelhano por Manuel de Faria, (c) o qual depois de Duarte Nunes traz algumas propriedades maravilhosas, que a natureza colocou nos rios e fontes de Portugal, (d) por em nada deixar o nosso Reino inferior a outras províncias de cujas águas escreveram os antigos tantas virtudes e prodígios.

[(a) - Ortel. sup. Faria supra. Aug. Barbos. in pastor p 1 tit 3 c. 8 num 4 Estaço nas antiguidad. de Portugal cap. 56 Duart. Nuñ. descrip. de Portugal c. 12;
(b) - Ovid. met. lib. 1;
(c) - Resen. de antiq. Lusit. lib. 2 tit. de fluminibus. Vasconsel. in descript. Lus. Faria Epit. 4 p. c. 10 etc. 17;
(d) - Duart. Nuñes d. cap. 12.]

(continuação, XV parte)

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