04/12/14

CONTRA-MINA Nº 42: Reconhecimento a D. Miguel I Dado Pelo Papa Gregório XVI (I)

CONTRA-MINA
Periódico Moral, e Político,

por

Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Monge de Alcobaça.

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Nº 42
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O medonho Fantasma se esvaece,
O dia torna, e a sombra se dissipa;
Os Insectos feíssimos de chofre
Entram no poço do afumado Inferno:
Eternamente a tampa se aferrolha.
No meio do clarão vejo no Trono,
Cercado de esplendor, MIGUEL PRIMEIRO.
(Macedo, Viagem Estática ao Templo da Sabedoria, pág. 141)
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O Reconhecimento do Mui Alto e Poderoso Senhor D. MIGUEL I Pelo Santo Padre Gregório XVI, Agora Presidente na Universal Igreja

Papa Gregório XVI
"Sucesso foi este da maior importância, e que debaixo de qualquer dos aspectos, que se considere, ou Religiosa, ou Política, ou ainda Historicamente, foi da mais conhecida vantagem para o Reino de Portugal. Este Reino exceptuada a Grei Maçónico-Liberal, é Católico, e sempre foi obedientíssimo à Igreja de Roma, e ao Sucessor do Príncipe dos Apóstolos; e se a minha tal qual memória me não engana, já houve um Rei de Portugal, que tratando-se em sua presença dos vários Títulos Religiosos, usados pelos Reis, v. g. Rei Católico, Rei Cristianíssimo, disse, que se lhe cometessem a eleição de um Título, não se pagaria de nenhum como deste "Filho obedientísssimo da Igreja Romana".

Já mui antes que o Santo Padre Bento XIV concedesse aos Reis de Portugal a sobremaneira honrosa de Reis Fidelíssimo, o Santo Padre Eugénio IV havia concedido aos nosso Reis, que depois da sua Exaltação ao Trono fossem Sagrados à maneira dos Reis da França, e que o Ministro desta Cerimónia Religiosa fosse o Arcebispo de Braga; e não se apontará em nenhum dos séculos da existência destes Reinos algum intervalo notável de anos, em que a Sé Apostólica deixasse de outorgar-lhes as mais exuberantes graças, e privilégios. Ora esta aliança dos Sumos Pontífices com os Reis, sendo tão falta como era ao progresso das Ideias Liberais, sucedeu toda a fúria dos Jansenistas, que de mãos dadas com os Pedreiros Livres têm feito as maiores diligências por empecê-la, e destrui-la. Bem sabiam eles, que a Suprema Autoridade do Vigário de Jesus Cristo, ainda nesses dias, manhosamente chamados escuros e tenebrosos, era sempre mais fácil em conquistar os Vassalos rebeldes a que prestassem a devida sujeição aos seus Príncipes, do que em desentronisar estes, e relevar àqueles o Juramento de fidelidade; e para se livrarem do peso da evidência histórica, que muito os atormentava, pesaram em campo um exército de Historiadores, que tomando a liberdade Filosófica, (e por isso tem dado aos seus aranzeis o nome de Histórias Filosóficas) separam dos acontecimentos da meia idade só aquela parte, que, abstraindo de todas as mais circunstâncias, possa fazer odiosa a Autoridade Pontifícia, escondendo ardilosamente, o que lhe podia ser, não só favorável, mas até mui decoroso. Desta arte conseguem barafustar, e confundir tudo, e perverter os incautos, e desavisados, que olham para essas rapsódias, como para outros tantos Evangelhos. Costuma dizer-se, que S. Gregório VI era o flagelo dos Reis, e que tratou despótica, e orgulhosamente o Imperador Henrique; porém não se diz, ou se diz apenas por entre dicção para depor o Sumo Pontífice, e eleger outro, que o substituísse. Em uma palavra, somente os Neros, ou Calígulas, chamados Cristãos, e que na meia idade foram às vezes pouco menos que feras, é que podiam recear-se da Autoridade Pontifícia; porém os Reis bons, justiceiros, e Cristãos nunca se temeram de uma Autoridade sempre bemfazeja, e protectora para com eles. Fazendo previamente uma advertência aos nosso Sabichões, de que o ímpio Hobbes não achou nem débeis, nem ridículos certos argumentos do Cardeal Belarmino, convém dar aqui um exemplo de todas estas verdades. Que altos gritos, e clamores se têm ouvido neste Reino sobre a injusta deposição do Senhor D. Sancho II? Mas quem teve neste sucesso a maior influência? Os Nobres, e os Prelados deste Reino, que acudiram em chusmas às portas do Vaticano, instando com o Santo Padre, que se dignasse valer a um Reino, que apenas resgatado do poder dos Mouros ameaçava a sumir-se no pétago insondável da anarquia, e da guerra civil. Que faria pois nestes lances o Santo padre Inocêncio IV? Deixaria parecer em breves dias a obra de tantos anos, de tantos combates, e de tantas vítimas? Seria melhor, que todo o Reino andasse, até se consumir de todo, em uma guerra desastrosa de pais contra filhos, e de irmãos contra irmãos, ou que a Tutoria do Reino fosse dada ao Conde de Bolonha, que era o legítimo herdeiro da Coroa? Atrevo-me a dizer, que os que presumem de mais versados na História Portuguesa ainda não sabem, que o Sumo Pontífice dirigiu nesta ocasião um Breve ao Senhor D. Sancho II, já desentronisado, e residente em Toledo, em que lhe mostra os sentimentos de verdadeiro Pai, e declara, que nunca foi do seu ânimo privar do incontestável direito à Coroa Portuguesa os descendentes legítimos, quando os tivesse. E onde está o Breve? (dirá talvez algum curioso) Está impresso, e declarado genuíno pelo famoso Crítico Estêvão Baluzio. Sirva por este único exemplo de confirmar, o que tenho dito; e persuadam-se de uma vez todos os bons Portugueses, que a proporção do que se enfraquece, ou diminui a Autoridade Pontifícia em um Reino Católico, move, adianta-se, e triunfa a Seita Maçónica, por certo a mais empenhada em tirar aos Reis tudo quanto os possa fazer mais respeitados, e temidos de seus Povos.

(continuação, II parte)

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