29/12/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XLVII)

(continuação da XLVI parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. X
Suave é Servir a Deus Desprezando o Mundo

1. Alma - Romperei novamente o meu silêncio para Vos falar, ó meu Deus! Direi na presença do meu Deus, do meu Senhor, do meu Rei, que está sentado no mais alto trono dos Céus: «Quão grande é, Senhor, a abundância de doçura que reservais para os que Vos temem! Mas, o que será para os que Vos amam e servem de todo o coração? »
Na verdade, as delícias da contemplação, que concedeis aos Vossos amigos, são inefáveis. Que direi, meu Deus, deste excesso de bondade que mostrais, tirando-me do nada, subtraindo-me do estado de desordem em que vivia, a fim de que não cuidasse senão de servir-Vos, impondo-me depois disso um preceito tão doce que é aquele de Vos amar?

2. Ó eterna fonte de amor, que direi de Vós?
Poderei eu esquecer-me de Vós, de Vós que Vos dignastes lembrar-Vos de mim ainda quando eu jazia no abismo da corrupção e da morte?
Excedeste em misericórdia as esperanças do Vosso servo, conferindo-lhe a Vossa graça e amizade,  em um grau infinitamente superior aos seus merecimentos.
Com que Vos agradecerei, meu Deus, um favor tão singular? Vós não concedeis a todos a graça de renunciar ao século e de deixar tudo para entrar na vida solitária e religiosa. Porventura é coisa considerável que Vos sirva quando isso é uma obrigação que cabe a todas as criaturas? Conheço que não faço grande coisa em servir-Vos, mas o que me enche da mais profunda admiração e que, no meu conceito, me parece grande, é que Vos digneis alistar-me entre os Vossos servos e unir-me aqueles que Vos amam, sendo eu tão pobre e tão indigno dessa honra.

3. Meu Deus, tudo o que tenho é Vosso e ainda o serviço que Vos faço é um dom que me fazeis. Eu deveria fazer tudo por Vosso amor, mas sucede que mais me servis do que Vos sirvo.
Vós criastes o Céu e a Terra para servirem o homem, e estas criaturas cumprem pontualmente todos os dias as Vossas ordens. E parecendo-Vos isto pouco, determinastes que os mesmos Anjos servissem o homem. Não parando aqui a Vossa bondade infinita, ela foi infinitamente acima de todos estes benefícios, quando destes a própria vida pela salvação do homem, prometendo-lhe que Vos daríeis a ele com toda a Vossa glória.

4. Que vos darei, meu Deus, por esta infinidade de bens, de que Vos sou devedor? Oh! Se pudesse eu servir-Vos todos os dias da minha vida! Se pudera, ao menos, servir-Vos dignamente um só dia! Vós, na verdade, sois digno de ser servido, honrado e louvado eternamente. Vós sois, na realidade, meu Senhor, como eu sou Vosso escravo, obrigado a servir-Vos com todas as minhas forças, sem jamais deixar de ocupar-me nos Vossos louvores. Isto, meu Deus, é o que quero e apeteço. Dignai-Vos suprir por Vossa graça o que me falta para assim o fazer.

5. Que honra, Senhor, que glória, ser Vosso e desprezar tudo por amor de Vós! Grande cópia de graças terão aqueles que voluntariamente se fizerem Vossos escravos. Vós encheis das doçuras e consolações do Vosso Espírito aqueles que renunciam, por Vosso amor, aos atractivos da carne. Vós concedeis grande liberdade de espírito aos que, para glória do Vosso nome, entram no caminho estreito da Religião e se despojam de todos os cuidados mundanos.

6. Ó divina e agradável escravidão que fazes o homem verdadeiramente livra e que o santificas! Ó sagrada condição da vida religiosa, que fazes o homem amado de Deus igual aos Anjos, terrível aos demónios e digno de ser honrado por todos os servos de Jesus Cristo! Ó bem-aventurada e nunca assaz apetecida sujeição, que mereces em prémio o Sumo Bem e adquires por paga a glória eterna!

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