03/01/15

CONTRA-MINA Nº 33: Última Esperança dos Pedreiros ... (II)

(continuação da I parte)

D. Miguel, Rei de Portugal, O Tradicionalista
É preciso que, ao tratar estas matérias, eu busque de vez em quando alguma distracção, que me faça esquecer da viva mágoa, que me repassa o coração todas as vezes, que deito os meus olhos ao tristíssimo papel, que há feito, discorrendo por mares, e terras, essa malfadada Princesa, a quem eu chamava em 1828 desde a Cadeira da verdade "Princesa digna de melhor fortuna". Agora porém já não curam de haver-lhe um esposo a torto, e a direito, que nem sei como se não lembraram de a oferecer a algum dos filhos de Luís Bonaparte; não trataram agora senão da eleição de um Regente de mão cheia, que deitando a sua dextra prepotente ao timão dos negócios públicos, imprima nas acções do Governo, durante a menoridade da Senhora D. Maria da Glória, tal força, e carácter de virtude, que assombre, e espante os mais ladinos Gabinetes da Europa. Mas quem será o novo Regente? O primeiro, que lembra é, sem questão, o 2º Pombal, a melhor cabeça negociadora dos tempos modernos, a flor da Diplomacia, o talento mais fidalgo, que nunca houve na Monarquia Portuguesa, pois tratando-se em Viena d'Áustria os nossos interesses, com uma das mãos restituía a Caena aos Franceses, sem ao mesmo passo estender a outra para reclamar a integridade dos Domínios Portugueses; quero dizer, Pedro de Sousa Holstein, que mesclado de sangue Alemão, e Português, daí mesmo tirou azos para se mostrar umas vezes estrangeiro, outras nacional deste Reino. Por qualquer dos lados não me espantam as suas Fidalguias, e caso se estomagassem por isso, ou se acendessem cada vez mais contra mim os Consanguíneos, e Confrades de alta esteira, justo é, que saibam por uma vez, que o Frade de Alcobaça olha, e olhará sempre com reverência para uma classe, que deve ser o esteio da Monarquia, mas logo que a veja apodrecer, ou deslumbrar-se com acções indecorosas, nomeadamente contra um Rei, que os veio tirar da boca do Lobo, que a estas horas (se ele não fosse) já estariam todos no imenso bojo da fera, todos engolidos, para nunca mais aparecerem, ou figurarem neste mundo, então deixarei de ter com eles a mais leve contemplação, e porei ao Sol tais defeitos Genealógicos, que façam pasmar a todos os bons Portugueses, que talvez consideram certos heróis como filhos do Sol, e netos da Lua. Cada um é filho das suas acções; não é princípio republicano, é princípio de eterna verdade, e quanto a mim dou mais pelo Carrasco, fiel executor das Ordens Superiores, do que pelo Marquês novíssimo, e de ontem, pois é feito pelo Senhor D. João VI, que também o fez Conde, e todos estes benefícios se voltaram contra um Filho do próprio Senhor D. João VI, que Deus tenha em glória. Enfureceu-me só de ouvir a palavra amnistia, porém ao dizer-se que tem havido quem a solicite para um Pedro de Sousa, erriçam-se-me os cabelos, perco o fio das minhas ideias, e parece-me, que vejo urdir do pó da terra, ou do seio dos tumultos a quantos foram justiçados até hoje pelo crime de rebelião contra o Senhor D. MIGUEL I, e dizerem queixosos, e suspirando..... Brada ao Céu, que fossemos justiçados, se um como este, só por ser Fidalgo, e ter Parentes Fidalgos, há de ser absolvido, quando um só dos seus crimes excede todas as somas, dos que nós todos cometemos, e nos levaram ao patíbulo.

Foi preterido na Regência, porém dão-lhe, e conferem-lhe o Emprego imediato, e vem a ser, o de Inspector da Educação da Senhora D. Maria da Glória.... Que grandes felicidades não espera desta vez o Reino de Portugal! E´-lhe destinada uma Soberana, uma Princesa, que tem por seu Mestre, e Director o ex-Conde, o ex-Marquês, o ex-Comendador, o ex-Fildalgo, e o ex-Português Pedro de Sousa!!!!!!!!

O ar de zombaria, com que certos Papeis Estrangeiros costumam tratar desde longo tempo, e já muito antes que ele subisse ao Trono dos seus Maiores, o Rei mais querido, e mais eminentemente nacional, que tem havido na Europa, quero dizer, o Senhor D. MIGUEL I, é no meu conceito a mais prezada injúria, que se pode fazer aos bons Portugueses; e só esta nos devia acender, para que em toda a hipótese, em toda a circunstância mostrássemos aos Estrangeiros, e de um modo terrível, que ainda somos Portugueses.... Não quero exceder-me, só quero, e posso comunicar a todos os fiéis Portugueses uma nova por extremo agradável, e lisonjeira "A que se intitula Rainha de Portugal, vai ser educada à Inglesa!!!!" [ironia]

Quem não esperará optimas consequências de um tão fausto, e bem agourado princípio? Mas quem é o preconizado Regente, dirá algum Leitor, já cheio de impaciência por decifrar esta como adivinhação? Será o descendente do vencedor do Ameixial, que tantas vezes se terá lembrado das cebolas do Egito, e das ameixas da sua terra? Será o fogoso, o intrépido, o Constitucionalíssimo Dann, por quem suspiram tantos honrados Oficiais, aos quais ele, ou demitiu, ou encarcerou? Não é nenhum destes; calçará mas alto; é Pessoa Real. Então é algum Príncipe, que ao melhor sangue da Europa junte os brasões da amiga do Director Barrás? Coisa mais alta. Como pode ser mais alta, se nenhum Rei da Europa virá aqui para ser um simples Tutor, ou Regente? Pode ser mais alta, e o é com efeito; a saber, o Senhor D. Pedro de Alcântara ex-Defensor perpétuo do Brasil. Pois isso é crível, que é presentemente a mais fresca das esperanças dos Pedreiros Livres, que se felicitam uns aos outros, e se dão mutuamente os parabéns, de que o Senhor D. Pedro ande em caminhadas, e viagens de Londres para Paris, e de Paris para Londres feito solicitador desta Regência; que tal é o amor, que ele tem à sua antiga Pátria!! Quando julgou não carecer dela para coisa alguma, e que toda a ligação, que tivesse connosco o tornaria suspeito aos seus queridos, e perpetuamente fiéis Brasileiros, tratou-nos com um desamor tão notável, que fez espécie a quantos leram as suas despedidas, e os seus elogios fúnebres à Nação Portuguesa... Actualmente sopram outros favonios, e correm outros ares. Não se esqueceu inteiramente de que nos injuriou, e doestou sobremaneira, mas vem agora fazer a Lisboa uma soleníssima retratação de quanto nos fosse desagradável, e por isso todos os Portugueses, que arrojam os grilhões do mais pesado cativeiro, hão de recebê-lo com os braços abertos, porque enfim os Portugueses são muito boa gente.... não como rebanho de carneiros para onde os levam....

(continuação, III parte)

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