02/01/15

DOUTRINA MÍSTICA DE Sto. ANTÓNIO (II)

(continuação da I parte)
É verdade que S. António foi um ídolo dos povos, porque foi um propugnador ardente e incansável da justiça e da paz social, e um defensor intrépido dos oprimidos; foi além disso o martelo dos hereges, um profundo teólogo, observador perfeito das Regra do Patriarca S. Francisco de Assis, e o conselheiro dos príncipes da Igreja. Mas, é necessário advertir que foi também, além de tudo isto, um notável director de almas, paciente e esclarecido, dotado de uma prudência consumada, como requeria S. Teresa, para o espinhoso encargo de quem se senta no tribunal tremendo da penitência.

Foi homem de grande mortificação e oração sublime, dado à vida contemplativa e activa; praticando as virtudes primeiro que as ensinasse, tornou-se um verdadeiro mester espiritual, prudente, zeloso, discreto e sábio.

S. Boaventura, contemporâneo de S. António, assim se exprime num sermão sobre este grande santo, àcerca da sublimidade da sua perfeição:

"O Senhor dotou o bemaventurado António com três dons preciosíssimos; o primeiro foi a excelência da santidade, que abrasava o interior da sua alma; o segundo foi o desprezo do mundo e o amor da humildade, que se reflectia no exterior de todos os actos da sua vida; foi o terceiro a celebridade que cerca o seu nome e é amado por todos os povos. Estes três dons reunidos realizam o ideal completo da perfeição."

Em um segundo sermão sobre o nosso herói, o mesmo Seráfico Doutor, referindo-se particularmente à ciência de S. António, exclama:

"António possuía todas as ciências dos antigos. Teve a ciência dos anjos, que consiste no desempenho perfeito dos divinos mistérios a que são enviados; possuiu a dos patriarcas, que é a ciência dos peregrinos; a dos profetas, cuja missão é prever e anunciar o futuro; a dos apóstolos, que tem certa analogia com a ciência dos mercadores, porque, a seu modo, também eles compram o reino dos céus; a dos mártires, que se assemelha à ciência dos guerreiros; a dos confessores e doutores, que foram os mestres; enfim a dos virgens, que consiste na arte de fugir do pecado e evitar o comércio dos homens."

Porém, o que sobretudo fez de António um grande mestre de espírito, foi o conhecimento prodigioso das Sagradas Escrituras. A fonte principal da doutrina que ensina as almas e a elevar-se até Deus não pode ser outra senão aquela mesma doutrina que o próprio Deus inspirou, e na qual se descrevem as belezas e perfeições divinas por mão de quem as havia contemplado de um modo muito mais perfeito do que nos é dado a nós.

Pois bem; foi nesta fonte, que António, mais talvez do que nenhum outro mestre de espírito ou doutor, bebeu até à saciedade, de modo que pôde saborear todas as coisas delícias,  penetrar os seus mistérios. Não há escritor, que, falando de S. António, não advirta que ele se tornou célebre pelo conhecimento profundo das Escrituras Divinas, e por isso desde remota antiguidade, a sua imagem se representa tendo na mão um livro, que significa a Escritura, e aberto, para da a conhecer que a entendeu.

Para não referirmos agora todos os escritores que dão testemunho da erudição de S. António nas Sagradas Escrituras, recordaremos apenas o célebre Analista, Lucas Wadingo, que aprendeu em Coimbra, onde primeiro estudou, a amar e conhecer este prodigioso mestre de espírito.

Era S. António, diz este historiador, versadíssimo nas Sagradas Páginas, que tinha o talento de aplicar com uma propriedade admirável às matérias de que tratava. O Sagrado Texto havia-se convertido entre suas mãos num foco poderosíssimo de luz, cujo sentido, beleza e espírito ele sabia aplicar e desenvolver com uma facilidade e energia admiráveis.

Ora, quem assim entrou tanto a dentro pelos arcanos da ciência divina, como não será apto para nos conduzir através das trevas de espírito de que vivemos cercados? Quem, melhor do que António, nos poderá explicar os inefáveis segredos de Deus, que se contêm naquela grandiosa epístola do Senhor Deus Omnipotente à sua criatura, segundo a frase de S. Gregório Magno, e que nos foi dada e conservada incorrupta, para aliviar as nossas amarguras, firmando a nossa religião? De certo ninguém melhor do que António, que sabia de cór essas grandes epístolas que meditava dia e noite.

E o que nos atesta o sobredito Wadingo continuando àcerca de António. As suas palavras, diz, eram como setas que penetravam o coração dos ouvintes. Comunicava aos outros da plenitude que o enchia, e naturalmente, abrasando no fogo da caridade divina que atingia na Sagrada Escritura, ateava este incêndio no coração de quanto os escutavam.

Eis o nosso mestre! Escutemo-lo pois, sigamo-lo e amemo-lo, - e o nosso espírito sentirá abrasar-se no amor que abrasou o seu.

(a continuar)

2 comentários:

Fab disse...

Figura interessante.

Esperando o próximo post.

anónimo disse...

Obrigado por comentar.

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