03/01/15

HARMONIA POLÍTICA DOS DOCUMENTOS DIVINOS (II)

(continuação, II parte)


CONSEQUÊNCIAS
Por Razão

6. Conhecido assim o príncipe por Religioso alcançará quatro consequências utilíssimas.

7. Primeira; excelência grande para ser bem quisto; porque não há coisa que o faça tão ilustre como a Religião.

8. A dos Sereníssimos Reis de Portugal sempre pura, sua constante fé nunca rendida (diz o insigne escritor Tomás Bossio) lhes acuirio o amor com que pelo qual foram tratados pelos Vassalos como Pais; assim o conheciam os Príncipes, e Escritores estrangeiros.

9. Segunda; valor para empreender o necessário; porque naturalmente é mais confiado quem cuida que terá o favor do Céu.

10. Nossos Reis D. Afonso Henriques, e D. João I depois de fazerem algumas devoções na igreja de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães, partiam para as batalhas tão animados, como se levassem victoria certa. E o grande D. João II por estremo religioso, cometeu coisas que pareciam temerárias.

11. Terceira; autoridade para ser obedecido; porque os súbditos nem se persuadem que mandará injustamente quem é religioso, nem se atrevem contra aquele que entendem que tem por si a Deus. Numa para ser respeitado em Roma fingiu-se familiar da Deusa Egeria: Sertório, para que lhe obedecessem os Hespanhois se mostrava favorecido de Diana: Cipião, e outros Estadistas, usaram do mesmo artifício; se pode tanto a sombra da Religião falsa, quando mais poderá à luz da verdadeira?

12. Esta foi a causa, na opinião do mesmo Bossio, pela qual fòs os Reis de Portugal entre todos os do mundo foram Senhores absolutos, obedecidos mais como oráculos, que como Príncipes.

13. Quarta consequência, é dar bom exemplo aos Vassalos para lhe serem fiéis; porque, sendo certo que o obrar dos Príncipes é preceito para os súbditos, não há tão eficaz meio para os persuadir à fidelidade, como verem que ele a guarda a seu superior. Como ensinara que se obedeça aos Príncipes quem não obedece a quem faz os Príncipes? No governo de Rómulo foi Roma guerreira: no de Numa, religiosa: no dos Fabrícios, continente: no dos Catões, regrada: no dos Gracos, sediciosa: no dos Luculos, intemperante. O Império no governo de Constantino foi Católico; no de Juliano, idólatra: no de Valente, Arriano. O povo de Israel no Reinado de David, Ezequias, e Josias, floresceu em Religião: no de Jeroboão, caiu em idolatria; mais fácil é errar a natureza que formar o Príncipe uma República diferente de si. Primeiro veremos que os lobos geram cordeiros, e que as silvas produsem rosas, do que vejamos que um Rei desleal a Deus faz subditos leais a si; todos os que fundaram sobre o Ateísmo edificaram torres de Babel, ou estátuas com pés de barro, os que plantaram na Religião floresceram gloriosamente.

14. Assim se viu, diz o mesmo Bóssio, nos Reis Portugueses, sendo Portugal o único Reino em que nunca os Vassalos conspiraram contra a vida de seu Rei, ou se rebelaram contra seus mandados. Bem disse a Divina Política pelo Apóstolo, (ainda para as matérias de estado) "Ninguém pode por outro fundamento, senão o que está posto, que é Cristo Jesus".

SENHOR

15. O Tribunal da Inquisição é uma das principais colunas da Religião neste Reino; todas as Províncias em que ele falta se vêm ou arruinadas, ou contaminadas na fé; favorecê-lo é sustentá-la, e conservar o Estado, não só em respeito do Judaísmo, como cuida o vulgo, mas principalmente em respeito das heresias do Norte mais inquietas, e contagiosas, que só por medo deste Tribunal santo se refreiam de nos cometer, e são peste da vida civil, ainda no temporal, porque causam divisões, que são desolação dos Reinos, e professam novidades no governo, e total extinção dos Reis. Só a Religião Católica manda que se lhes obedeça pontualmente: é fundamento da República [entenda-se "ordem pública"]; vínculo da sociedade, firmamento da justiça, sustentadora da vida, sem ela nem o Príncipe, nem os súbditos puderam fazer seu ofício; se V. A. Real não fosse mui religioso, menos o seriam eles; glorie-se V. A. R. de o ser, que é permitido gloriar-se desta excelência, venha qualquer sucesso, todas as prosperidades serão de V. A. R. tendo muitos bons que o sirvam, pois disse a Divina Política pelo Eclesiástico: "Qual for o governador da cidade, tais serão os habitadores dela."

(continuação, III parte)

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