02/01/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XLIX)

(continuação da XLVIII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XII
Necessidade da Paciência na Luta Contra os Apetites

1. Alma - Meu Senhor, meu Deus, reconheço que a paciência me é necessidade indispensável, porque nesta vida sucedem muitas coisas que afligem. Ainda que eu faça por ter paz, a minha vida será sempre acompanhada de perturbações e dores.
Cristo - Meu filho, o que dizes é verdade. Mas eu não quero que faças consistir a tua paz na isenção de tentações ou não encontrar coisa alguma que te aflija.
Antes crê ter encontrado paz, quando tiveres padecido muitas atribulações e tiveres experimentado muitas adversidades.

2. Se dizes que não podes sofrer tanto, como suportarás o fogo do Purgatório? Entre dois males é preferível eleger-se o menor. Para evitar os males eternos, sofre por Deus e de bom ânimo os males presentes.
Crês que os mundanos têm pouco ou nada que sofrer? Aqueles mesmo que vivem nas maiores delícias não estão livres de padecimentos. Dirás, talvez, que eles, por outro lado, usufruem de várias diversões e satisfazem todas as suas inclinações e desejos, o que serve de adoçar-lhes as penas.

3. Suponhamos que assim seja e eles têm tudo o que quiserem. Mas quanto tempo julgas que lhe durará essa felicidade imaginária? Verás todos esses grandes do mundo desaparecerem como o fumo que se esvai, sem deixarem memória alguma dos seus prazeres passados. Enquanto vivem, não usufruem esses prazeres sem amargura, fastio e temor, porquanto muitas vezes lhes vem o castigo e a dor do próprio objecto do seu deleite.
A minha justiça é que os castiga dessa forma. Já que desordenadamente buscam e seguem os prazeres da carne, é bem que os não gozem sem confusão e amargura.

4. Que coisa há mais falsa, mais desordenada, mais ignominiosa do que a sensualidade? Mas os homens, por sua cegueira, não conhecem isto; antes, deixando-se arrebatar pelas paixões, como brutos sem razão, compram as breves delícias desta vida pelo preço da morada eterna das suas almas. Tu, pois, filho meu, não sigas jamais as tuas paixões, mas renuncia aos teus desordenados desejos. Põe as tuas delícias no Senhor e Ele te dará o que pedir o teu coração.

5. Se queres ter verdadeira alegria e receber de mim abundantes consolações, despreza o mundo, corta os laços de todos os prazeres materiais, e, vindo, então, sobre ti, a minha bênção, estarás cheio de uma doçura inefável.
Quanto menos procurares consolações nas criaturas, tanto mais acharás em mim os verdadeiros prazeres do espírito.
Não os podes conseguir, porém, sem tristezas e sem peleja. O teu mau costume se oporá a esse desígnio, mas será vencido por outro melhor costume.
A carne te fará sentir as suas rebeliões, mas ela será refreada pelo fervor do espírito. A antiga serpente armará contra ti toda a sua malícia e toda a sua violência, mas as tuas orações a lançarão em fuga e a prática permanente de trabalhos úteis fechará uma das principais portas da tua alma.

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