03/02/15

CONTRA-MINA Nº 12: Liberalismo Contra a Restauração de Luís XVIII ... (II)

(continuação da I parte)

Vê-se de um relatório exactíssimo, o qual se dirigiu ao Ministro dos Negócios do Reino, que o número total de obras ímpias, e licenciosas, estampadas em França desde 1817 até ao fim de 1824, deitava a 2.741.400 volumes!!! E que mais poderia trabalhar uma Fábrica de venenos, que se instituísse para se dar cabo da espécie humana! Descansamos todavia a certas particularidades, que não deixam de vir muito ao acaso, para se medirem, e calcularem exactamente as forças deste poderosíssimo agente, e derramador das luzes, ou das ideias Liberais. Dentro daquele breve período de sete anos, publicaram-se doze edições de Voltaire, e treze de Rousseau, e de cada uma se tiraram 2000 a 3000 exemplares; e note-se, que além destas edições completas das obras destes corifeus da Maçonaria, só avulsas do Emílio se fizeram seis, e do Contracto Social nove, entrando nestas umas cinco em castelhano, que se publicaram no intuito de "alumiar" a Península das Hespanhas; o que não admira, pois as versões portuguesas desta obra já são pelo menos três, uma abafada no nascedouro, e as outras duas impressas, uma em Paris, e outra em Lisboa. Contou no mesmo período sete edições o compêndio da obra grande sobre a origem dos Cultos, e oito edições o Systema da Natureza, e dez edições o Livro das Ruínas de Volney.... Deixou esta boa alma um legado de 30 a 40$ [40.000 ?] cruzados, para se divulgar, quando fosse possível, a dita obra, e por isso os executores desta última, e piedosa vontade, mais deram que venderam as tais Ruínas, e bem ruínas! Não devem ficar de parte as Novelas do Ministro do Rei Nerónimo, ou do Pigault-Lebrun, que nos dobreditos anos encheram um total de 128.000 volumes; que muitos destes vieram ter a Coimbra, e aí fizeram os estragos, que eu sei, e que eu deploro.....

"Que Estado, e que Sociedade (assim escrevia em 1825 um Francês Cristão) poderá resistir a uns tais elementos de discórdia, e de ruínas? Quando a revolução rebentou em 1789, o perigo se entoava menos terrível. Não havia nesse tempo mais que duas edições de Voltaire, e outras tantas de Rousseau, e estas edições só chegavam aos homens ricos, ainda não se tinham ideado as edições económicas, que derramam o veneno em todas as condições da Sociedade; ainda não era conhecido o Voltaire das pessoas menos abastadas, o Voltaire das choupanas; ainda não se tinham posto em venda as obras de outros ímpios em um tamanho, e preço, que as fizesse chegar a todos. Se estes livros pois, que ainda não eram vulgares, fizeram tais estragos, e contribuíram muito para o geral transtorno, efectuado naqueles dias, que deverá suceder agora, quando é tão desmedido o seu número, quando não há quem deixe de os ter, uma vez que os queira, e às obras antigas sucedem outras muito mais atrevidas; quando todas as barreiras estão arrombadas, todos os laços quebrados, todas as leis estão nulas, e sem força, quando os papeis volantes, e os periódicos trabalham todas as manhãs por exaltar, e irritar os ânimos; quando enfim tudo conspira para que se desencaminhar a mocidade, e serem os Povos iludidos? Como se há-de resistir a tantos agentes combinados para o mesmo fim, que é a dissolução da Sociedade? E tudo se cala, e olha-se friamente para os trabalhos do crime; e até se mostra um receio de o inquietar nas sua tarefa! Esta insensibilidade dos Governos, esta espécie de tranquilidade na própria boca do precipício, é um fenómeno, que mal se pode explicar humanamente. À vista de um estupor assim tão fora do ordinário, perguntar-se, acaso terão eles ouvido aquela voz, que anuncia às nações o seu fim "Nunc finis super te" (de Ezequiel) e esperamos a tremer aqueles sucessos, que este repouso de terror, e da cegueira nos pressagia?"

Luís XVIII, Rei de França
Ora estes grandes males, tão fielmente descritos, e pintados em 1825, caminharam progressivamente até 1830, a ponto de que neste ano já era mui fácil calcular, ou não tivessem existido as mui tardias providências de Julho passado, em todo o caso, havia de ter o seu complemento, e reduzir o sucessor de Luís XVIII à condição de um simples particular, e de um homem proscripto, e desterrado.

(a continuar)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES