26/02/15

DO LIVRO DA EMBAIXADA DO PRESTE JOÃO DAS ÍNDIAS (III)

(continuação da II parte)

Cap. IV
De Como Partiu o Patriarca Com a Gente que ElRei lhe deu, e Chegaram à Índia

Preste João das Índias
Logo no ano seguinte estando já são pela bondade de Deus, fui na armada da sua A. de que foi por
Capitão-mor Pero Lopes de Sousa irmão de Martim Afonso de Sousa. Levei em minha companhia per mandado de Sua Alteza, Fr. Pedro Coelho frade da Ordem de S. Domingos com outros três frades da dita ordem, seus companheiros, para me ajudarem a doutrinar o povo daquelas terras, os quais não chegaram lá comigo, por o dito Fr. Pedro ficar em Chaul. Levei também António Fernandes, e Gaspar Suriano ambos Arménios de nação, que por mandado do Preste João vieram em minha busca,aos quais S. Alteza fez muitas mercês e lançou a um deles o hábito de Cristo, e escreveu por eles ao Preste João encomendando-os. Partidos assim todos de Portugal com o favor divino chegamos à Índia em salvo no tempo que o Vice-Rei D. Garcia era vindo de Diu com a vitória que houve dos turcos, sendo capitão daquela fortaleza António da Silveira, o qual Vice-rei nos recebeu com muita alegria, e a mim fez muita honra, o Bispo de Goa me veio receber com seu cabido em procissão com Cruz levantada e me levaram da praia do mar até à Sé numa cadeira que para isso deu o Rei seu avô: indo a meus lados de uma parte o Vice-Rei D. Garcia, e da outra Dom João de Eça capitão de Goa, e conhecendo-me por Patriarca me fizeram a honra devida à minha dignidade.

Cap. V
Como o Vice-Rei Mandou ao Preste Saber se Era a Embaixada do Patriarca.

Daí a dois meses pouco mais ou menos me disse o Vice-Rei que lho não pusesse culpa a ele nem a ElRei seu Senhor, por quanto eles eram grandes meus amigos, mas que havia alguns homens maliciosos que suspeitavam mal, os quais aconselharam a sua Alteza que mandasse fazer uma diligência, a qual era, mandar saber ao Preste João se minha embaixada era verdadeira ou não, e portanto queria mandar lá um homem primeiro que me expedisse. E assim o fez, porque logo mandou armar uma fusta, e mandou nela um seu criado de que se fiava por nome Fernão Farto, e com ele outros portugueses. Os quais foram ao Preste João, e acharam ser certo tudo o que eu dizia: e para mais segurança trouxeram consigo um Capelão daquele Imperador, o qual por si e por cartas de crédito que trouxe, afirmou ser eu seu embaixador enviado por ele a Roma a dar obediência ao sumo Pontífice: e assim ao Reino de Portugal para negociar com o Rei seu irmão certos negócios.E também disse que era verdade ser eu Patriarca daquela terra e suas províncias, conforme a seu costume: e que o seu Imperador dizia que eu era seu pai, e me assentaria na sua cadeira real, e ele aos meus pés. E que quanto era a despesa que ele a faria assim e da maneira que eu assentasse como o Vice-Rei, portanto que não duvidasse sua senhoria, nem deixasse de lhe mandar o socorro de gente e armas que por mim tinha pedido; e que não mandava ao presente nada, assim por ele estar numas montanhas fora de sua casa por respeito da guerra, como porque não havia disposição para ir seguro em tão fraco navio, e com tão pouca companhia. Todavia sem emprego de estar fora de sua casa; do que consigo tinha deu ao dito Fernão santo e a seus companheiros algumas peças, e eles lhe deixaram uma espingarda e pólvora que lhe ele pediu.

(a continuar)

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