23/02/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LX)

(continuação da LIX parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XXIII
Das Quatro Coisas Que Trazem Consigo a Paz

1. Cristo - Filho, eu quero ensinar-te o caminho da paz e da verdadeira liberdade.

2. Alma - Eu Vos rogo, Senhor, que me concedeis essa graça.

3. Cristo - Filho, cuida em fazer antes a vontade alheia do que a tua. Contenta-te com o pouco e estima sempre ter menos que mais. Procura sempre o último lugar e gosta de ser inferior a todos. Deseja e pede sempre a Deus que cumpra em ti inteiramente a Sua santa vontade. Quem assim se conduzir entrará, sem dúvida, no país da paz.

4. Alma - Senhor, estas breves palavras, que acabais de dizer, contêm a suprema perfeição. São curtas, mas cheias de sentido e abundantes de fructos. Se eu pudesse observá-las fielmente, não me perturbaria com facilidade. Todas as vezes que perco a paz e me inquieto, reconheço que isso acontece por me haver esquecido essa doutrina. Mas Vós, que tudo podeis, e desejais o meu progresso espiritual, fazei que a Vossa graça me socorra, a fim de que, obedecendo aos Vossos preceitos, alcance a minha salvação.

5. Senhor, não Vos aparteis de mim, vinde em meu socorro, porque se levantaram contra mim pensamentos vários e grandes temores agitam a minha alma. Como escaparei ileso? Como poderei vencê-los? "Eu irei diante de ti - dizeis Vós - e humilharei os soberbos da Terra." "Abrirei as portas do cárcere e mostrar-te-ei as saídas mais secretas."
Fazei, Senhor, segundo a Vossa palavra, e fujam da Vossa presença os maus pensamentos que me perturbam.
Toda a minha esperança e a minha consolação nos males que me oprimem é recorrer a Vós, confiar em Vós, invocar-Vos de todo o meu coração e esperar com paciência o Vosso auxílio.

6. Iluminai-me, ó bom Jesus, com a claridade da luz interior.
Fazei brilhar a Vossa luz em meu coração e dissipai as trevas que o escurecem.
Reprimi as distracções ordinárias do meu espírito e quebrantai as tentações violentas que me combatem.
Pelejai fortemente por mim e afugentai as feras malignas que são os pensamentos iníquos, para que haja paz, e a abundância dos Vossos louvores cante em minha alma como num templo puro.
Dominai os ventos e as tempestades. Dizei ao mar: "Sossega"; dizei ao vento: "Não sopres"; e haverá grande bonança.

7. Enviai a Vossa luz e a Vossa verdade para que resplandeçam em minha alma. Sou uma terra estéril e tenebrosa, se me falta a Vossa luz.
Derramai sobre mim as graças do céu; regai meu coração com orvalho celestial; chovam sobre esta terra árida as fecundas águas da piedade, para que produza frutos bons e saudáveis.
Levantai-me o ânimo oprimido com o peso dos meus pecados; transportai todos os meus desejos ao céu, para que, amando as coisas celestes, não possa, sem desgosto, pensar nas terrestres.

8. Arrebatai-me, desprendei-me das fugitivas consolações das criaturas, porque nenhuma coisa criada pode aquietar e satisfazer plenamente o meu coração. Uni-me a Vós, por um vínculo indissolúvel de amor, porque Vós só bastais a quem Vos ama e sem Vós tudo é sombra e nuvens fugidias.

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