07/03/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LXII)

(continuação da LXI parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XXX 
Como Pedir o Socorro Divino e a Confiança de Recuperar a Graça 

1. Cristo - Filho, eu sou o Senhor que conforta as almas no dia da atribulação. Vem a mim quando te achares aflito. O que mais te impede de receberes as consolações celestes é o recorreres tarde à oração. Antes que ores deveras, procuras consolar-te recreando-te com divertimentos externos. Daqui vem que tudo te aproveita pouco, até que reconheças, por experiência, que eu sou quem livra dos perigos os que esperam de mim, e que fora de mim não há auxílio poderoso, nem conselho útil, nem remédio durável. Mas, recuperando um bom espírito, depois de aplacada a tempestade, reforça-te com a luz da minha misericórdia, entendendo que estou perto de ti para te estabelecer na tua primeira paz e para te encher de novas e abundantes graças.

2. Há porventura alguma coisa que me seja dificultosa? Acaso sou semelhante aos que prometem assistir e não assistem? Tem firmeza e perseverança. Sê homem de grande ânimo e valor, e a consolação te virá a tempo. Espera, espera um pouco, e eu virei curar-te.
O que te aflige é uma tentação que passará; o que te atemoriza é um vão horror. Que ganhas, atormentando o espírito sobre futuros incertos, senão acrescentar tristezas sobre tristezas?
A cada dia basta o seu mal. É pensamento vão e inútil ir buscar no futuro motivos de tristeza ou de alegria, que talvez nem aconteçam.

3. Mas é um efeito da fragilidade humana deixar-se possuir dessas falsas imaginações e é sinal de fraqueza deixar-se o homem enganar tão facilmente pelas persuasões de seu inimigo.
O demónio não se embaraça, se os pensamentos que propõe à alma são ou não verdadeiros, contanto que eles sirvam para enganá-la. Para ele é indiferente enchê-las de um vão amor das coisas presentes, ou de uma vã apreensão das futuras. O que pretende é arruiná-la por um desses caminhos.
Que o teu coração não se perturbe nem tema. Crê em mim e confia na minha misericórdia.
Quando te julgas distante de mim, é quando, muitas vezes, estou mais perto de ti. Quando te parece que a tua perda é inevitável, então, muitas vezes, é tempo de adquirires mais merecimentos.
Não imagines que tudo está perdido quando te ocorrem aflições e males.
Não deves julgar o teu estado pela inquietação presente em que te achas, nem entregar-te, de modo algum, à aflição, de qualquer parte que ela venha, pondo-te em desespero.

4. Não te julgues inteiramente destituído do meu socorro, quando te aflijo por algum tempo, ou te privo da doçura das minhas consolações.
Para entrar no reino do Céu, é necessário passar por este caminho.
É sem dúvida mais útil a ti e a todos os que me servem ser exercitados na adversidade do que suceder-lhes tudo segundo os seus desejos.
Eu conheço a fundo os teus mais ocultos pensamentos e sei que muito convém à tua salvação que algumas vezes não sintas o gosto da minha graça.
Se tudo achasses fácil e sempre te sucedesse bem, era para temer que te enchesses de soberba e presumisses de ti o que não és na realidade.
Eu posso tirar o que dei e tornar a dá-lo quando quiser.

5. Tudo o que dou é meu, e é meu quando tiro a quem o tenho dado; porque de mim é que vem toda a dádiva excelente e todo o dom perfeito.
Se permito que te suceda algum mal ou alguma adversidade, não te entristeças nem percas o ânimo, porque posso aliviar-te depressa e mudar em alegria tudo o que te aflige.
Portando-me deste modo contigo, sou justo e mereço que me louvem todos os homens.

6.
Se julgas das coisas solidamente e as vês à luz da minha verdade, nunca deves entristecer-te ou desanimar-te com os trabalhos, mas antes alegrar-te e dar-me acção de graças.
A tua única alegria deveria estar em que eu te enviasse dores e te afligisse sem reservas. Eu disse aos meus amados discípulos: "Eu vos amo do mesmo modo que o Pai me amou." Entretanto, não os mandei gozar as delícias temporais, mas sustentar grandes combates, não usufruir as honras do mundo, mas sofrer os seus últimos desprezos; não viver na ociosidade, mas trabalhar de contínuo e oferecer-me a conversão do mundo como avultado fruto da sua caridade e da sua paciência.
Grava, filho meu, estas palavras no teu espírito e no teu coração.

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