17/04/15

A CONTRA-MINA Nº 1: Razão do Título da Obra (II)

(continuação da I parte)

Nos 8 anos contados de 1820 fizeram-se as maiores diligências, para que o Povo se embriagasse do cálice da Prostituta, ou, para melhor dizer, da Constituição. Prometeu-se-lhe o que nunca lhe seria outorgado, nem concedido; embalaram as gentes do campo, e os inexpertos Lavradores com a risonha esperança, nem foros, nem rações; pintaram-lhes como Usurpadores os que eram verdadeiros Senhores das terras, de que eles subsistiam, e pareceu a muitos destes miseráveis, assim iludidos, que estariam desligados para sempre das obrigações contraídas pelos seus Maiores; e que mui grande, e boa coisa era uma Constituição Política, que os fazia absolutos Senhores de quanto agricultavam, e recolhiam..... Não passou esta agradável perspectiva de um estéril, e manhoso anúncio... pois logo se conheceu, que se os antigos encargos fossem abolidos, ficariam sem efeito os 4800 rs. diários aos chamados Representantes da Nação, e outras miudezas do mesmo género, que não existem, nem podem existir sem dinheiro. Viu-se que todo, quanto havia no Reino, era pouco para essa alcateia de Tantalos, sequiosos de grandes fortunas, e conheceu-se afinal que os Regeneradores do Tesouro nacional (ou Maçónico), longe de lhe curarem as feridas, parece que só trabalharam para as fazer cada vez mais profundas, ou incuráveis. Tudo era vociferar nos Campeões, nos Brasilienses, nos Portugueses, e outros bota-fogos semelhantes contra as sanguessugas do Estado, contra os mandões, contra os valídos, contra a odiosa acumulação de empregos, etc. e deitando a mão sacrílega ao leme do Estado, e já por eles tão desejada arrecadação das Finanças, seguiu-se um espantoso naufrágio, cresceu desmesuradamente a dívida pública, de que enchiam a boca para menoscavarem o governo precedente, e trabalhou mais nos três infaustos anos, em que estes marinheiros dirigiram a Barca do Estado, para a levarem a pique, e a submergirem, do que nos maus dias de Junot, quando este Próconsul exigia os 40 milhões de cruzados para resgate das nossas fazendas, e propriedades!

Se fizeram maravilhas no artigo "Finanças" em tudo o mais foram coerentes, e sempre iguais a si próprios, o que fez tão viva impressão no ânimo de todos os bons Portugueses, que a sua impaciência, pela chegada de um Restaurador, que pusesse termo a esta medonha série de rapinas, e de sacrilégios, era ao mesmo passo um remédio, e um tormento. Era um remédio, porque só visto de longe animava, e consolava; era um tormento, porque a dilação exacerbava as nossas penas, e fazia que tremêssemos a cada instante pela segurança de um Príncipe, que é, e será as Delícias dos Portugueses, sem diferença do que tremeríamos se víssemos no maior perigo a nossa existência... A compressão, em que vivemos desde 6 de Março de 1826 até 22 de Fevereiro de 1828, só tem paralelo nas agonias da morte; o que era tão conhecido da Maçonaria, que se atreveu como a dar caça aos mais recônditos segredos de nossos corações. Um forro vermelho num chapéu, ser causa bastante para ser fustigado quase até morrer um infeliz Transmontano! O nome do Arcanjo S. Miguel ser evitado cautelosamente, para que não parecesse um crime de Lesa-Nação! Ferverem os insultos na Capital do Reino às pessoas Eclesiásticas, e nomeadamente às que não eram, nem queriam ser da Confraria.... Os Católicos, e amigos do seu Rei detestados, e enxovalhados em pinturas, que eu vi, e de que tantas vezes me horrorizei! Por este violentíssimo estado, muito pior que o dos forçados das galés, ou que os dos escravos de Argel, é que devemos regular presentemente as nossas ideias, para fugirmos até das mínimas aparências de uma Revolução! nem que fossemos bem sucedidos, ou gozássemos delícias inefáveis, nas que dentro em poucos anos tem passado por cima das nossas cabeças, e ameaçado subverter-nos!!

"Sua Majestade o Senhor Dom Miguel Rei de Portugal e dos Algarves"
Ora, de todos estes princípios nasceu a entranhável afeição dos bons Portugueses ao mui Alto, e Poderoso Senhor D. MIGUEL I. Não me cansarei de o repetir; ele é, e tem sido uma vítima generosa pelas felicidades deste Reino... Não seria ele mais ditoso no estado particular do que é cingindo a Coroa destes Reinos? Que lhe faltava na Côrte de Viena de Áustria para ser ditoso, quanto pôde ser um Príncipe aliado da Família Imperial? Faltou-lhe uma só coisa; que os seus Portugueses também o fossem: lá chegaram os clamores da fidelidade Portuguesa, e ao ver que naufragávamos em todo o sentido, que brevemente nem seriamos Portugueses, e, o que é pior, nem ainda Cristãos, estremeceu à vista das nossas desgraças (e mediu a grandeza do perigo), e sem hesitar, sujeitou-se a uma alternativa, que faria vacilar qualquer outro espírito menos alentado, e generoso que o seu,qual era, ou de morrer connosco, ou de nos libertar para sempre do férreo julgo da Maçonaria.

Nunca deveu a Nação Portuguesa a um Soberano, o que ela deve ao actual, e de que nunca se deverá recordar sem lágrimas de ternura, e do mais vivo agradecimento. O Senhor D. João I, o Senhor D. João IV foram os Restauradores da Monarquia Portuguesa; ambos porém encontraram nos Portugueses uma só alma, um só coração, uma só vontade... mas que encontrou o Senhor D. MIGUEL I ao saltar nas praias deste Reino?... Uma democracia furibunda, e tão furibunda, que um Lentezinho desta Universidade de Coimbra protestou, que saberia ensinar o Senhor D. MIGUEL se ele viesse com ideias anti-Constitucionais!!!! Os tais Demagogos faziam-se com terra para ensinarem o próprio Regente da Monarquia; e que respeito, ou consideração teriam eles com os dignos Pares, quando se tratasse de nivelar as condições, e abater os grandes Proprietários?..... Quando este Reino saiu da mão dos Reis Filipes Castelhanos, achava-se o Clero Português com todas as suas honras, e privilégios intactos, como se devia esperar de Soberanos Católicos; porém agora, quando este Reino saiu das impuras mãos, ou antes garras dos Constitucionais, que consideração tinha o Clero, de que liberdade gozava o Pároco, ou o Bispo em ordem a pastorear o seu rebanho.... Ver, e gemer, eis o principal ofício, a qual se reduziram todos... Qual era a veneração dos principais objectos do Culto, e dos Sagrados Templos?Quase não passava uma Semana, em que se não ouvisse "lá furtaram os Vasos Sagrados em tal Igreja, lá arrombaram os Sacrário de outra, lá deitaram no chão, e espezinharam as Sagradas Formas, lá atiraram com lama ao Sacratíssimo Sacramento, caso este nefando, e único na História dos Sacrilégios perpetrados neste Reino! Como eram tratadas nesse tempo estas, e outras que tais violações das coisas Santas? Como rapaziadas, e sucessos de pouca monta; e assim o deviam ser no conceito dos rígidos observadores de uma Constituição." para a qual estes, e outros factos do mesmo jaez, ficavam sem taxa ou nota, por isso mesmo que não perturbavam a ordem pública... Agora outros factos, por exemplo, recomendar-se do púlpito o jejum da Quaresma, e a observância desta, e de outras Leis da igreja, era o mesmo que contrariar abertamente o Sistema Constitucional, e fazer-se credor da odiosa qualificação de Energúmenos, e perturbadores da ordem pública...

Tomara que os Portugueses estudasse de contínuo estes atrasados, não para se vingarem, o que só pertence ao Legislador, e à lei, mas para se fortalecerem cada vez mais nos sentimentos de amor, e lealdade para com um Soberano, que nos preservou de tantos males, e nos acarretou um sem número de bens, que, no meu conceito, o maior de todos é o terem cessado os Sacrilégios, e podermos ser Cristãos à nossa vontade.... Já respira, já não é prisioneira, e condenada a um rigoroso silêncio a palavra do Senhor, espalha-se em diferentes partes deste Reino, que por ter experimentado uma seca de oito anos poria à sede.... e apenas chegou o Senhor D. MIGUEL, e os zelosos operários da Vinha do Senhor começaram os seus tão penosos, como utilíssimos trabalhos, reverdeceram milhares, e milhares de plantas, que já pareciam definhadas, e mortas; receberam nova força as que tinham sido açoitadas de tormenta Constitucional, mas que assim mesmo tinham conservado os sucos vitais da crença verdadeira. Nota-se pois em todo o Reino uma santa avidez das boas doutrinas, que arrasta os Povos de léguas, e léguas para ouvirem as trombetas do Evangelho; e é força que todos estes Povos conheçam e protestem altamente, que é o Senhor D. MIGUEL abaixo de Deus, a quem devem todas estas felicidades. E que outra coisa há-de desta cadeia, a mais extensa, e nunca interrompida de maravilhas do Céu, senão a indestrutível firmeza dos laços que prendem o mais fiel dos Povos do Mundo com o Soberano, que tem feito maiores Sacrifícios, e que mais tem padecido em graça de seus Povos? E quererão estes Povos lançar-se outra vez, e desatinadamente, nesse boqueirão Maçónico, em tudo viva cópia de poço do Abismo, donde só poderiam sair males, e desgraças sem conto, e a própria extinção da Fé Católica neste Reino? Não o creio; porém a sedução é contínua, assim como a estragética dos Mações é a arte mais fecunda em sonhar perigos, que façam estremecer uns, e em prometer grandes venturas, com que possa abalar, ou determinar a simplicidade de outros; e por isso é chegada a ocasião de se acender, mais que nunca, a fatalíssima, para os Mações, guerra da pena, em quanto não principia a outra da espada, cujo efeito será mais pronto, e decisivo, como tratarei de provar no Número seguinte.

Coimbra 2 de Dezembro de 1830.

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