01/04/15

MASTIGÓFORO - INTRODUÇÃO (IV)

(continuação, III parte)

Ora aqui temos descoberto e posto ao sol, o motivo porque os Mações querem amnistias; e por isso os Reis humanos, e indulgentes são os homens de nosso Discursador, e quando eles governam, é que não há turbulências nem desordens! Por isso Luís XVI com a sua indulgência e humanidade salvou a Monarquia Francesa das garras dos Pedreiros! Até estes concedem, que ele foi clemente e benigno por extremo, e que além dos mais benefícios derramados sobre o povo Francês, Também foi tolerantismo na admissão dos Protestantes aos lugares públicos sem falarmos agora no seu perdão da pena última concedido ao ímpio Mirabeau, que em paga disto seria o principal agente da sua desentronização. Quando prevalecem as manhosas ideias de tolerância, e de impunidade, é que se aumenta o número de crimes, perde-se de todo a segurança individual, e vive-se no meio da sociedade como poderão viver os cordeiros no meio de uma alcateias de lobos. não se envergonhe o nosso discursador de revolver os nossos historiadores, por certo mais atilados e mais filósofos, que os seus Rousseaus, Voltaires, e Alaberts, e outros advogados da tolerância. Aí verá mui bem tratadas e expendidas as causas, que infelicitaram os reinados dos Senhores D. Sancho II e D. Fernando, e que os rigores e extremos de justiça, nem por isso obstaram a que o reinado do Senhor D. Pedro I fosse venturoso... creio porém que é estatuto de maçonaria, inverter os factos antigos como quem diz "o povo não averigua isto e o veneno assim propinado bebe-se a longos tragos, e vamos fazendo a nossa fortuna". Mostra-se que não é temerário este juízo, pela confiança que ele toma de nos propor também o Senhor D. João IV por modelo das amnistias. Sim, o Duque de Caminha, o Marquês de Vila Real, o Conde de Armamar, e outros podem ser boas testemunhas de que ele foi Sobre maneira indulgente e compassivo com os que tentaram esbulhá-lo da Coroa. Já que apertam comigo devem saber, que o crime daqueles fidalgos não foi tão abominável como o dos Pedreiros Livres. Por certo que não tinham eles experimentado a beneficiência DelRei D. João IV como estes nossos Pedreiros a experimentaram e bem larga da parte do Senhor D. João VI Assás cleência tem ele mostrado..... e não se fartam nunca estes malvados, ainda querem mais!!

Ora que um Senhor de sua casa expulse um criado por ladrão, perdoe a injúria e não o leve à forca já é muita clemência, porém que se trate de lhe pôr a obrigação de o tornar a admitir para o seu serviço, e de lhe confiar novamente a administração do mesmo, em que ele se houve como infiel a seu amo, é apertar muito os cordéis, é afrontar as ideias mais vulgares até da própria decência, e é um bom Português onde leva a mira o tal discursador desde o princípio até ao fim da sua estada, e bem martelada arenga.

O Segredo de ter os Estado quietos sem castigar os facciosos, é a pedra filosofal descoberta pelos Mações, e por isso tratam de o persuadir e inculcar a todos os Soberanos, que assim lhe faz conta lá para os seus arranjos, e se é pasmoso que eles tenham conseguido pôr uma venda nos olhos a muitos Príncipes não o é menos que ainda se lisonjeiem, de que este modo de vida lhes durará sempre! Assás tem feito das suas... Já basta... não há cão nem gato que lhe não conheça as boas manhas, e habilidades.

Com efeito, o mui Alto e Poderoso Senhor D. João VI deve estar muito contente dessa quasi amnistia, que se dignou conceder a milhares de cúmplices da invasão Francesa. Estes perdoados, e agraciados foram os primeiros que arvoraram o estandarte da rebelião contra o seu benfeitor, e se o grande Filósofo Séneca teve pela mais grave de todas as penas a que é infligida por homens barbados de seu natural, eu acrescento, e digo, que não há debaixo do sol ingratidão nem maior nem mais punível, que a usada com o Senhor D. João VI; mas que há de ser? Estes malditos Pedreiros não têm nem remorsos, nem vergonha, e o caso está em dominar, e empolgar dinheiro, e por isso o corifeu da Seita dizia, e trovejava: "Ninguém pode ser bom Constitucional, sem ter sido bom Jacobino." Ah! que males se teriam poupado, se a decantada Sptembrizaida, de que tanto ralharam e blasfemaram os Pedreiros, fosse mais ao vivo! Infelizmente as medidas tomadas então pelos Governadores do Reino foram taxadas de rigor excessivo e desta arte a Maçonaria daquém e dalém mar foi trabalhando a seu salvo, e preparando a nossa ruína!!

De uma coisa me admiro eu, e vem a ser de que não apareça, em todo o discurso ao menos uma citação do historiador Filósofo (Tácito) que é o desperdiçado dos Pedreiros, e lá para eles coisa muito acima dos nossos Evangelhos... porém os tais heróis costumam fugir às sete partidas de qualquer autoridade, que os possa incomodar, e para a seita é mais pesada, e mais custosa de levar, uma repreensão de Tácito, de que seria uma repreensão de S. Agostinho ou de S. João Crisóstomo, que os Mações quando visitam as livrarias dos Mosteiros ousam denominar estúpidos e materiais... Pois hão-de Levar na bochecha uma repreensão do seu querido Tácito, o qual nos assegura de que nenhum proveito se tira do sofrimento, e dissimulação com os sediciosos, e que se consegue meramente o fazê-los mais atrevidos, e que é uma espécie de ordem para que o sejam "Nihil proficit patientia, nisi ut graviora, tanquam ex facile tolerantibus, imperentur" (In vita Agricolae).

Já entendo porque o Grão Tácito foi posto a um canto, julgou o discursador que nos devia levar pelo mística, e que fazia assim melhor o seu negócio. Já que nos chama para os textos da Sagrada Escritura, novo género de fraude com que intenta deitar poeira nos olhos à simplicidade do vulgo, aprenda a conhecer, e interpretar melhor o texto Sagrado. Nenhum dos que ele aponta é a favor dessa amnistia ou perdão geral, que é o fim a que se endereçam todos os seus capciosos argumentos. Repare que Deus Nosso Senhor perdoa somente aos arrependidos, e castiga inexoravelmente os contumazes, e obdurados. Queremos todos, e quem deixará de o querer? que a paz e a justiça se abracem mutuamente, porém não queremos uma ausência total da justiça, porque neste caso desaparece inteiramente a paz, que dimanara da justiça, e tudo é confusão, perturbação, e anarquia, e temos o homem nesse estado de guerra chamado natural por Hobbes, e outros Políticos. Não sei que possa haver lembrança mais infeliz do que produzir lugares do testamento velho, quando se trata de inculcar amnistios e mansidões de tal jaez. Se o próprio Senhor dos céus, e da terra se dignou ser o próprio Rei de uma nação escolhida, apesar de que tinha em sua mão evitar os crimes com um simples aceno de sua vontade Ominpotente, assim mesmo quis deixar aos Reis uma norma, que pudessem adoptar como base da administração de seus respectivos impérios. Fez um Código penal (que até no sentir do Irmão Diderot é obra prima) e mandou castigar os delinquentes para exemplo de uns, estímulo de outros e segurança de todos. Ora vejam que argumento se tira deste facto contra as benignas e liberais opiniões deste discursador. Quando o mesmo Deus é Rei de uma Nação pequena faz castigar e mui severamente os maus.... Logo que hão-de fazer os Soberanos da terra, que devem ser imagens de Deus não só em misericórdia, mas também na justiça?... Se me replicarem que se tratava do povo Judaico, povo inquieto, e sedicioso, e por isso chamado durae cervicis, eu lhes tornarei, que nunca houve no mundo um povo mais assistindo daquelas prendas que o povo maçónico... Nunca, nunca pisaram a terra maiores criminosos do que os Mações precursores do Anti-Cristo, e se eles devem ficar isentos do rigor da justiça, então despejem-se imediatamente as cadeias todas, e sejam absolvidos todos os salteadores e homicidas... Tão longe está de ser este o carácter das Leis antiga e nova, que o Santo Rei David chega a dizer, que o justo há-de alegrar-se quando presenciar o castigo dos maus, e que lavará as suas mãos no sangue do pecador. Nosso Senhor Jesus Cristo abençoa os que têm fome e sede de justiça; o Apóstolo das nações designa os Príncipes como vingadores do crime, porque de outra sorte era inútil o cingirem uma espada, e até no Céu as ditosas almas dos Santos mártires pedem com instância ao Senhor, que lhes vingue as suas injúrias, e nomeadamente o sangue que derramaram pela palavra Divina.

Os bons Cristãos, e bons Portugueses querem nos Reis uma Clemência razoável, e temperada. Clemência absoluta, e indefinida só querem os Pedreiros, para abusarem dela, para ganharem tempo, e para se rirem depois e mofarem das vítimas que caíram no laço de enfeitados, porém mortíferos discursos.

Ora não seja tudo malhar no pobre homem e faça-se-lhe alguma justiça..... Confesso de plano, que do meio daquela espessa nuvem de falsidades saiu alguma coisa verdadeira. A corrupção dos costumes é sempre a precursora das Revoluções.

(continuação, V parte)

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