07/04/15

VOCABULÁRIO DEMOCRÁTICO Nº1 (IV)

(continuação da III parte)

* Não admira que esta galimacias do Pacto Social Genebrino se torne incompreensível, e inexplicável a quem o lê, e com profunda reflexão o medita, quando o mesmo Rousseau perguntado sobre aquela produção do seu requintado engenho respondeu, que ele mesmo o não entendia! ... E com efeito bem o mostra: quando ele fala parece um gigante, que nada num profundo abismo, e que faz esforços nos caos! “Homens unidos, que se dispersam para serem livres; homens livres, que se reúnem para serem escravos; e uma associação inaudita, em que cada hum é ao mesmo tempo súbdito e soberano, pessoa pública e indivíduo particular, independente sem deixar de ter dependências, governante e governado, obedecendo sem ter senhor, e sacrificando sua liberdade, sem deixar por isto de ser livre” Tudo isto é tão maravilhoso, que o mesmo Autor não pode deixar de o proferir com surpresa (em o seu Liv. 1. Cap. 6., e em seus Discurso sobre a Economia, pág. 365 e seguintes.) Se a brevidade de uma Nota nos não prescrevesse tão estreitos limites, nós poderíamos mostrar sem dificuldade, que este sistema do Pacto Social, que tantas cabeças tem desorientado, é extravagante no Contracto; impossível em a Legislação; impraticável em a Constituição; terrível em seus efeitos, e infausto para todas as especais de Governo; mas todavia sobre este ultimo argumento, isto é, de ser terrível em suas consequências chamaremos as atenções de nossos leitores, para que escutem, o que a este respeito disse em seu livro imortal da Voz da Natureza sobre a origem dos Governos. Diz assim:
“Suponhamos pois, como é na realidade, a crença dos pactos sociais geralmente estabelecida no Universo: que deverão fazer os facciosos reunidos com a intenção de estabelecer o que se chama Governo Representativo? ..... Depois de haverem decretado a Soberania dos povos, e por conseguinte a sua própria; e de terem segurado a força militar, e a Magistratura; e reforçados com a imensa multidão dos que nada tem, começarão por atacar ao Todo Poderoso; e eis-aqui a linguagem demasiado conhecida, de que usaram.
Antes nos fazíeis crer tudo queríeis. Dizieis-nos que vós éreis o que havia ordenado as sociedades, e não é assim; os Povos é que a fizeram: que nos havíeis dado chefes; e foram os Povos: que nos havíeis dado os bens, os direitos de autoridade e de propriedade, e não é assim; mas foram os Povos que no-los deram: dizíeis-nos que os bens imensos, que se haviam doado a vosso Templos, eram vossos; .. e agora vemos que são do Povo: pelo que decretamos e temos decretado que devem ser vendidos em seu nome, e com efeito o tem sido. Dizieis-nos que a verdadeira liberdade consistia em seguir vossas leis, e nós decretamos que consiste em que cada um siga suas próprias inclinações, em dar-vos adoração como cada um queira, em não reconhecer outras leis serão as nossas, em escravizar com elas vossos próprios Ministros, que estarão inteiramente a nosso soldo, e a restituição dos bens; e enfim, que no que respeita à Religião, seremos absolutamente os Senhores de tudo, e que vós nada sejais. Primeiro efeito bem terrível dos pactos sociais, pelos quais se intenta despojar de seus direitos ao Todo Poderoso.
Depois de haverem destronado o Omnipotente, se dirigem os facciosos aos Soberanos, e lhe falam na mesma linguagem. Antes se nos dizia que éreis os Representantes do Ente Supremo; e vós apenas sois os representantes do Povo: que vossa Soberania vinha de Deus, e nós cremos que vem dos Povos. Elegemos vossos Pais porque tinham merecimento para nos governarem, porém vós não o tendes. Antes nos convínheis, mas agora já não. Ide-vos embora; porque queremos outros. Certamente que não é isto um contracto, mas sim uma ordem: nem a linguagem de um igual, mas a de hum senhor, que fala em nome do mais terrível de todos os senhores! ... Formam-se queixas em nossos dias de que os Soberanos já não tem energia! Porém como hão de tê-la? Não são já aqueles Ministros Augustos do Todo Poderoso, a quem era proibido tocar sob pena de condenação eterna....... Hoje são simplesmente miseráveis encarregados (Primeiros Magistrados da Nação, quando falam com alguma civilidade) de seus súbditos: e se não convém, logo se expulsam; e se resistem são julgados, degolados, ou assassinados. É hum prodígio achar-se algum (*), que possa ainda conservar um resto de energia. Segundo efeito inevitável dos sociais: o assassinato dos Soberanos.
Depois de haverem degolado os Soberanos simples, (absolutos) se empreende o mesmo com os compostos, (os que caiem na armadilha de darem uma Carta) e com eles se usa da mesma linguagem. Antes queríamos duas Câmaras, hoje queremos só uma. Antes queríamos ser representados por grandes proprietários, hoje não queremos senão os pequenos, e que estes sejam representados em razão do seu número. Terceiro efeito bem terrível dos pactos sociais: o transtorno de todas as antigas Ordenanças.
Para assegurar a preponderância da ínfima plebe nas novas representações, era preciso atacar os Grandes em sua fortuna, depois de os haver despojado da sua representação, e para isto não há sido necessário recorrer a outra linguagem, porque esta mesma serve para tudo. Estes bens, estes domínios, estas possessões imensas são do Povo, que lhas cedeu. Hoje julga conveniente torna-las a tomar. Depois de haverem decretado a igualdade das partilhas em cada sucessão, decretámos que é necessário proceder à divisão das grandes fortunas. Em consequência deste novo direito, os Grandes são despojados, presos e degolados: seus bens vendidos, repartidos, dispersos e delapidados, e seus palácios destruídos. Quarto efeito inevitável das representações relativamente ao grande numero: a ruína dos Grandes.
Por último, depois da ruína dos Grandes procede-se contra os pequenos proprietário, e logo depois contra os pobres, e são estes os que pagam mais caro as revoluções; porque na falta dos bens, se lhes pede seu próprio sangue, porque finalmente tão repetidos transtornos ocasionam guerras cruéis. Para sustenta-las decreta-se que não necessários sessenta mil homens para o exercito; o decreto é executado debaixo de pena de morte; e os Povos se vêm degolados aos milhares por ordem de seus Representantes. Tais são os efeitos terríveis da opinião dos pactos sociais; efeitos, cuja história referimos com toda a fidelidade: o Todo-Poderoso despojado de seus Direitos; todos os antigos Soberanos derrubados de seus Tronos; conculcadas as antigas Constituições; destruídas todos os grandes haveres; arruinados todos os proprietários; e sacrificados todos os pobres. Por este modo, em nome do Povo Soberano, nossos Representantes se fazem absolutamente senhores de tudo, ainda dos mesmos Povos.
Um Povo Soberano! Que delírio! E donde há ele recebido sua Soberania? Em a universalidade dos indivíduos? Mas isso é fisicamente impossível; porque, como já temos provado, a universalidade de um Povo não pôde jamais reunir-se, nem pôr-se de acordo com a universalidade de vontades; nem uma universalidade dividir-se em duas. Donde pois a recebeu? Numa parte dos indivíduos? É igualmente impossível; porque uma parte não pode ter direito algum de Soberania sobre a outra.
Um Povo Soberano! ..... Esta Soberania jamais pode ser admitida, senão pelos que se interessam em o engano; porque para quem sabe reflexionar é uma grande necidade.
Um Povo Soberano!.... Que blasfémia contra o mesmo Povo, cujos direitos se pretende advogar?! Qual deve ser a indignação de um Povo, que vendo-se arrancado de seus lares, e conduzido ao matadouro como uma vil alimária, carregado de cadeias, ferido de golpes, condenado à forca, e executado em nome de seus Representantes, se acaso não caminha, ouvisse que o tratavam com uma cruel chufa de Povo Soberano?!.... É sabido, e demonstrado pela experiência, que semelhante indignidade acaba geralmente de comover a mais ínfima plebe.
Esta pretendida Soberania do Povo é portanto um tecido de embustes, de perfídias, e de abominações. Não se constitui o Povo senhor de tudo, senão para oprimir o mesmo Povo com o nome vago de um Povo Soberano, que não o pode ser, nem jamais o será. Os Wiclefitas, os Maniqueus, os Pastores, Albigenses, Annabaptistas, Francmações, Iluminados, Sectários, Autores das Revoluções antigas e modernas, todos se anunciaram como defensores dos Povos. E que fizeram eles?!.... Saquearam as propriedades, e assassinaram os proprietários. Puseram tudo a fogo e a sangue, como os facciosos de nossos dias. E eram eles verdadeiramente enviados dos Povos?!.... Povos da terra, falai: encarregastes vós a estes ladrões que degolassem a vosso Rei, que devastassem vossas Províncias, e arruinassem o Universo?!.... Não, sem dúvida, e far-se-vos-hia a maior calúnia só em imaginá-lo. Longe de reconhecer estes facciosos, a parte sã do Povo os detesta: quando os vê aparecer diante de si, foge deles com horror, fecha-se em suas casas, e invoca contra eles o apoio da força.
E qual é a parte do Povo, que segue os facciosos em todas as Revoluções? É a última ralé, esta inumerável multidão de mendigos, de bandidos, de mercenários, e indivíduos, que nada têm, e que não respiram senão roubo, e saque. Eis aqui onde nos conduz a opinião terrível dos pactos sociais: às mãos do baixo povo, e por conseguinte ao transtorno absoluto do Mundo.
(* Um prodígio sem dúvida desta ordem é o Nosso Invicto Soberano, e Legítimo Rei o Senhor D. MIGUEL I. Inimigo implacável das ideias liberais, cuja coragem, valor, e energia se desenvolvem à proporção que os perigos se aumentam: e por isso mesmo que as suas intenções, os seus desejos, e as suas vistas são diametralmente opostas aos princípios do pacto social, que ultimamente endossado com as Cartas e Câmaras tem seduzido tantos Monarcas, e de novo preparar a subversão da Sociedade; por isso mesmo, repetimos, é que uma crua guerra, nascida do espírito de vingança, soprada pelo espírito de partido, alimentada pelo interesse geral da Veneranda Maçonaria, e secundada pela venalidade, e traições, se vê declarada contra a Sua Augusta Pessoa, e inauferíveis Direitos! Nem a outro princípio se pode atribuir a paralisação maquiavélica das relações Diplomáticas de alguns Gabinetes, senão a que eles reconhecem o pacto social como a base do Direito Político, quando nós apenas reconhecemos a Religião de Afonso Henriques, e o pacto social, que ele formou em Lamego.) D. Tr.


(a continuar, V parte)

1 comentário:

M. Maria disse...

Atualmente as políticas internacionais através de seus braços na sociedade nos forçam a aceitar novos Pactos Sociais denominados de ecumenismo, "amor" livre, ecologismo, vegetarianismo, feminismo, e tudo em vista da "Nova Ordem Mundial", ou em outras palavras, uma desordem internacional, uma ilusão de um Novo Jardim do Éden!!.... Quem estiver acordado nos próximos anos, que se precavenha contra o mal vindouro! Kyrie Eleison!

TEXTOS ANTERIORES