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N.° 2
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Cum desolationem faciunt, Pacem appellant.
(Tacito)
(Tacito)
*É tão fera a perfídia
De
hum cruel, e vil Mação,
Que
a paz nos apregoa
Quando
faz a desolação. D. Tr
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Vocábulos, que mudaram de
sentido, de significação, e de ideia.
LIBERDADE - É
uma verdade inconcussa, que este Vocábulo mudou de significado [não mudou, mas sim o fazem acreditar outra coisa, e estrategicamente]; e também é
indubitável que se não pode atinar fixamente com o que significa no novo
idioma republicano. A tal ponto hão chegado as suas variações! Já se vê, como
que há tido que acomodar-se aos tempos, circunstâncias, e vistas dos Democráticos. De que se vê que um mesmo dialecto tem tido significações
diversas, e que nem ainda na mesma Itália se há podido fixar o seu verdadeiro
significado [o verdadeiro sempre teve, o significado próprio só poderia deixar de existir caso não houvesse sobre ele a construção de todo um edifício civilizacional, filosófico, jurídico, teológico etc...]. Sem embargo, como temos tido repetidas experiências, persuasivas
até ao sumo grau, do que significa Liberdade em sentido republicano,
procuraremos explica-lo como Deus nos der a entender.
No primitivo dialecto democrático Liberdade não foi outra cousa que uma mercadoria imaginaria, que se conduziu a países estrangeiros, e que deviam comprar as Nações, quer quisessem, quer não. A tal mercadoria pois se dava em cambio de
quanto havia de mais precioso em todos os países, e não havia liberdade para
recusar a Liberdade democrática: de
sorte que se perdia a liberdade, comprando-a. Os vendedores desta liberdade ecravizante
tomavam por ela quanta
prata, e ouro existia; mas como nada bastava, era necessário lançar mão
das
joias, e mercadorias, naus, alfaias, vestuários, pinturas, munições, e
artilharias. Ainda tudo isto não chegava para completar sua paga, e foi
necessário entregar os sinos, as grades, as cúpulas de chumbo, as caixas
dos
mortos, e até as futuras rendas do ano. De maneira que nunca se
consignava a
mercadoria aos compradores, senão quando já estavam em pelote. Então era quando
se lhes dava numa caixinha mui lisa, e tapada, a cuja abertura, mirabile
visu! se achavam com a liberdade de
ficarem escravos dos que lhes haviam vendido a liberdade (*).
Logo
depois se hão visto grandes variações parciais em dialectos diversos,
respectivamente ao interior dos países. No dialecto terrorístico significa poder absoluto nos malvados, raivosos,
bandidos de uma Nação para roubar, e matar os Cidadãos pacíficos, laboriosos,
e honrados, que possuem alguns bens. No dialecto democrático simples significa – mando, posto nas mãos dos bandidos
– e nada mais; porque é experiência constante que onde eles mandam,
a opressão, a tirania, o roubo, e as demais galantarias se definem com o nome
de liberdade, unicamente porque são eles os que mandam; e quando se lhes tira o
mando gritam descompassadamente dizendo que se perdeu a liberdade.
No dialecto gonzistico (rústico ou
popular) significa fazer cada hum o que
quiser, e sempre foi este o dialecto da baixa plebe. O semi-democrático,
que participa bastante do gonzistico,
quer que em ponto de costumes, e de Religião haja uma liberdade sem freio; porém que os que mandam sejam homens honrados, e de bons costumes, e que o Povo
tenha subordinação no político. Que tal?! O dialecto libertino não admite liberdade, enquanto não estão destruídos de
todo a Religião, e os costumes, e postas as rendas do Governo nas mãos dos
libertinos, e intrigantes. No meio de
tanta variedade de dialectos, parece que a única explicação, que tenha algum
respeito com todos os dialectos republicanos, é definindo-a desde modo: Traça (também pode dizer capa) de velhacos
para enganar tolos.
(* Que bem aplicado é a este respeito o que disse o nosso Macedo a respeito do Frasquinho de balsamo, ou os Charlatães na Revolução no seu N.º 14 do Desengano!! São tão claros os embustes, são já hoje tão conhecidas as tramas, as velhacarias, que eles armam com o celebre frasquinho de balsamo da liberdade dos Povos, que os mesmos Povos, apesar de ignorantes, lhes tem dado com os pratos pela cara, e com hum cacete pelos lombos até desancarem. Conservem os Portugueses sempre diante dos olhos estes desenganos, e não lamentem a falta de hum homem, que depois de morto ainda fala "defuntus aduc loquitur" fala em seus escritos, segundo a sua mesma frase, por nós muitas vezes ouvida – Nós meus Desenganos deixo aos Portugueses o Mestre da Vida em política. – Este é o verdadeiro modo de combater as ideias liberais, cobri-las com o opróbrio do ridículo.Se os nossos leitores quiserem argumentos, com que se destruam pela raiz estas doutrinas, leiam o já citado Abade Torel no Primeiro Volume da terceira Edição.) D. Tr.
(* Que bem aplicado é a este respeito o que disse o nosso Macedo a respeito do Frasquinho de balsamo, ou os Charlatães na Revolução no seu N.º 14 do Desengano!! São tão claros os embustes, são já hoje tão conhecidas as tramas, as velhacarias, que eles armam com o celebre frasquinho de balsamo da liberdade dos Povos, que os mesmos Povos, apesar de ignorantes, lhes tem dado com os pratos pela cara, e com hum cacete pelos lombos até desancarem. Conservem os Portugueses sempre diante dos olhos estes desenganos, e não lamentem a falta de hum homem, que depois de morto ainda fala "defuntus aduc loquitur" fala em seus escritos, segundo a sua mesma frase, por nós muitas vezes ouvida – Nós meus Desenganos deixo aos Portugueses o Mestre da Vida em política. – Este é o verdadeiro modo de combater as ideias liberais, cobri-las com o opróbrio do ridículo.Se os nossos leitores quiserem argumentos, com que se destruam pela raiz estas doutrinas, leiam o já citado Abade Torel no Primeiro Volume da terceira Edição.) D. Tr.
IGUALDADE
– É tal o ruído, que se tem feito com este Vocábulo, que com razão se pode
chamar o pandeiro republicano. A
prática com tudo tem manifestado até à evidência que o famoso vox poetereaque nihil a nada se pode
melhor aplicar, que ao Vocábulo igualdade;
porque nada há neste mundo tão vazio de sentido, e significação. E se não,
vamos a contas.
Há
por ventura um só homem, que tendo senso-comum se persuada que um criado é um
ente desprezível, e vil, só porque traz uma libré, e que basta tirar-se-lha
para que de repente seja igual a seu amo? Que basta dar o nome de Cidadão a um cómico, a um mendigo para fazê-los iguais ao lavrador honrado, e ao poderoso comerciante? Que tirando aos Nobres os Títulos de Condes, Marqueses, etc. e
dando-lhes o de Cidadãos, imediatamente se estabelece a igualdade entre o
rufião, e o bem educado, o civil, e o grosseiro, o brutal, e o civilizado?
Logo o Vocábulo igualdade, em sentido
republicano, não é mais que uma consumada loucura, e uma voz sem significado.
DOCUMENTO AUTÊNTICO
Relativo à Igualdade Republicana
MEMORIAL DO ASNO (BURRO)
Ao
Conselho Republicano dos Animais.
“Um Irmão vosso, tão animal como o mais pintado de VV. SS., e tão igual como vós, recorre à vossa notória probidade, e acrisolada justiça contra a desgraça da sua sorte.”“Minhas prolongadas orelhas, o vil nome de burro, e o que é pior que tudo isto, a albarda, que estou obrigado a trazer, me expõe ao escarneu, e às chufas, e risadas de quantos me vêm. Toca pois, e pertence à vossa profunda sabedoria dar remédio a uma injustiça, que ofende o imprescriptível direito de igualdade.
Decretado ser caso urgente, se resolveu:“Que sendo contrario à igualdade republicana todo e qualquer sinal exterior de vileza, e não havendo poder para acrescentar as orelhas aos que as têm curtas; devemos mandar, e efectivamente mandamos, que se corte as orelhas a todos os animais, que as têm compridas, como são os burros, as lebres, os coelhos, etc. etc. proibindo outrossim, debaixo de penas gravíssimas, todo o nome de leão, elefante, etc. etc. E ordenamos, que para o diante não se ouça outro nome na republica animalesca, que o geral e honroso de animal. Pelo que pertence à albarda, depois de uma madura deliberação decidimos, que longe de ser cousa desonrosa, é o mais apreciável distinctivo, com que deve honrar-se todo o verdadeiro democrático, que não tem empunhado o governo. E que sendo verdade, que pelo tamanho da albarda é que se distinguem os graus de patriotismo, sendo o burro tão excelente patriota, devia trazer desde aquele dia uma albarda, que valesse por três; e com isto saúde, paz, e fraternidade.”
Pasmado ficou o pobre asno com a
suma honra patriótica de uma tão grande albarda; porém orgulhoso assim com sua
nova, e imaginaria dignidade, não lhe ficou curral de animais, em que se não
apresentasse com o vistoso adorno de suas cortadas orelhas, e seu título de
animal, discorrendo à liberal de
governo com os leões, de política com as zorras, de destreza com os tigres, de
melodia e trinados com os rouxinois, e de ideias pitorescas com o pavão. Sua
sonora e triunfante voz ressoava em todos os ângulos, e só a moderava algum
tanto, quando empinava as patas para atirar coices.
(* Que bela imagem não é esta
do Povo Soberano?! Com o fantasma da igualdade o seduzem; e apenas os corifeus
do partido se acham montados em os lugares, acabou-se a igualdade, e começa a
opressão: grita o Povo, leva as suas queixas aos Supremos Conselhos Nacionais,
são tomadas em consideração, descem ás Comissões, sobem à Suprema Assembleia;
mas qual é a resolução??... A mesma que se deu ao burro, cortem-se-lhe as
orelhas, isto é, tire-se-lhe alguma cousa que ainda possui, e tire-se a todo
daí para cima até ficarem sem camisa: e em quanto à albarda, isto é, aos
tributos que o Povo paga, e o jugo que sofre, diga-se que estas são coisas mui
patrióticas, que é necessário que todos concorram para a manutenção da
República, e que longe disto ser desairosos, é ao contrario uma sinal
característico de patriotismo; por tanto, em lugar de uma albarda, três, e uma
que valha por três: faça-se empréstimos para nós comermos, e concertarmos nosso Palácios; e o Povo que pague com os tributos, ou albardas, que ele não sente,
porque lhe dizemos que é igual a todos, e ainda que atire alguns coices pouco
importa, com tanto que traga a albarda.
Nada mais prodigioso nas Revoluções, que a brevidade, e a destreza, com que a ínfima plebe, principalmente das Capitais, aparece de repente ilustrada, sábia, e doutora!! Faz-se uma Revolução, publica-se a igualdade, e num momento aparecem os Cafés, e as Barbearias transformadas em Liceus, e Academias; e aqueles, que há muito deviam estar em galés, que começaram pela caixa do açúcar, fizeram seus ensaios na arte de furtar lenços, e calção muitas vezes à custa do Senado, estes são os Lycurgos e os Solons do nosso Século: enchendo as boca de Rousseau e Voltaire, que nunca leram, nem entendem; falam de Religião e Teologia, como se eles fossem Julianos, Celsos, e Profírios; falam de Governo, como se fossem outros Joães das Regras: a Religião é taxada de fanatismo, as Ceremonias de superstições, as Leis antigas de despotismos, etc. etc. Mas triste sorte é a do burro, sempre traz albarda encima de si, e a sua maior proeza é empinar as patas, e atirar coices!... Eis-aqui a vossa pintura, filibusteiros, e bandidos! falais de tudo, mas em tudo sois asnos, e perfeitamente burros, só obrais alguma cousa digna de vós, quando atirais redondos coices; mas muitas vezes vos saem caros; porque vossos irmãos também vos dão o pago.) D. Tr.
(continuação, II parte)
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