04/05/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LXXIX)

(continuação da LXXVIII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações
 

Cap. LII
O Homem Não Se Deve Julgar Digno De Consolações Mas Somente Merecedor De Castigo

1. Alma - Senhor, eu não sou digno de que me consoles e me visites algumas vezes; por isso me tratais com justiça quando me deixais na indigência e desamparo em que me vejo.
Ainda que eu derramasse lágrimas que igualassem as águas do mar, mesmo assim não seria digno da Vossa consolação. Portanto não mereço outra coisa senão ser castigado, porque Vos tenho ofendido praticando pecados em grande número e qualidade. Quando isto considero, acho-me indigno da menor das Vossas consolações.
Vós, porém, Deus clemente e misericordioso, que não quereis que pereçam as Vossas obras, a fim de que demonstrem as riquezas da Vossa bondade sobre os vasos da Vossa misericórdia, Vos dignais de consolar, de modo sobre-humano, a Vosso servo, ainda que ele não mereça tamanha graça.
E não há comparação, entre as Vossas consolações e os discursos frívolos e inúteis dos homens.

2. Que fiz eu, Senhor, para que me concedais a consolação celeste?
Não me lembro de ter feito bem algum; lembro-me, entretanto, de que sempre estive pronto para o pecado e preguiçoso para a emenda. É verdade que não posso negar. Se dissesse o contrário, estaríeis contra mim e não haveria quem me defendesse.
Que tenho merecido pelos meus pecados, senão o Inferno e o fogo eterno? Confesso que sou digno do maior desprezo e que não mereço colocar-me entre aqueles que se dedicam ao Vosso serviço. Ainda que me custe ouvir isto, todavia, por amor à verdade, falo contra mim mesmo, para que mais facilmente alcance a Vossa misericórdia.

3. Que direi, cheio de culpas e de confusão como me encontro? Não posso abrir a boca senão para dizer esta só palavra: Pequei, Senhor, pequei; tende piedade de mim, perdoai-me, e concedei-me algum tempo, para que eu desafogue a minha dor antes que chegue o momento de descer para a terra cheia de trevas e envolta nas sombras da morte.
Que mais exigis de um culpado e mísero pecador, senão que tenha contrição e se humilhe pelos seus pecados.
Do verdadeiro arrependimento e da humildade do coração nasce a esperança do perdão, reconcilia-se a consciência perturbada, recupera-se a graça perdida, defende-se o homem da ira futura; e Deus, saindo ao encontro da alma penitente, recebe-a com paternal abraço e ósculo da paz.

4. A humilde contrição dos pecadores, ó meu Deus, é para Vós, uma oferenda mais agradável do que outro qualquer sacrifício e recende odor mais suave do que os perfumes e o incenso.
É o bálsamo com que Madalena ungiu os Vossos pés, pois nunca desprezastes um coração contrito e humilhado.
Na contrição encontramos  refúgio contra o inimigo; nela se lavam as manchas algures contraídas.

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