24/07/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XC)

(continuação da LXXXIX parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Thomas de Kempis

IV Livro
O Augustíssimo Sacramento do Altar


Cap. IV
São Concedidos Muitos Bens Aos que Comungam Devotamente

1. Alma – Senhor Meu Deus e meu Senhor, preveni o Vosso servo, com as bênçãos da Vossa doçura, para que possa chegar com devoção e dignamente ao Vosso grande sacramento. Excitai o meu coração a que Vos ame e livrai-me da tibieza em que vivo. Derramai em mim a Vossa graça saudável para que goste, em espírito, da doçura celeste, cuja abundância se encerra neste sacramento, como em sua fonte.
Alumiai também os meus olhos, para que contemplem tão grande mistério. Fortalecei-me para que eu o creia com uma fé firmíssima.
Este mistério é obra de um poder não humano, mas divino; não foi o pensamento do homem, mas a Vossa sabedoria que o instituiu. Não há homem capaz de compreender, por si mesmo, a excelência e grandeza deste mistério. É objecto que excede a própria luz e penetração dos anjos. Que posso conceber de um segredo tão sublime e sagrado, eu que sou um pecado indigno e um punhado de terra e cinza?

2. Senhor, meu Deus, eu chego a Vós, na simplicidade do meu coração, com uma fé firme e sincera. Chego, porque Vós me mandais que chegue com confiança e respeito; e creio verdadeiramente que estais presente, como Deus e como Homem, no Vosso divino sacramento. Vós quereis que Vos receba e que me una a Vós pelos laços da caridade. Imploro, pois, a Vossa bondade, e peço-Vos a graça especial de que a minha alma seja absorvida por Vós e se abisme de tal sorte no Vosso amor, que jamais cuide em procurar consolações senão em Vós.
Este sacramento tão sublime é a salvação da alma e do corpo e o remédio para todas as enfermidades espirituais: ele cura os nossos vícios; refreia as nossas paixões; vence ou enfraquece as tentações que nos combatem; infunde em nós maiores graças; faz crescer a virtude nascente; firma a fé; fortalece a esperança; activa e dilata o fogo da caridade.

3. Ó meu Deus, que sois o salvador da minha alma, o recuperador da fraqueza humana, o distribuidor de todas as consolações do espírito, Vós tendes dado, e dais ainda, muitas vezes, neste sacramento, muitas graças àqueles que Vos amam e Vos recebem dignamente. Estas graças, que neles infundis, servem-lhes de consolação nas diferentes atribulações em que se acham.
Vós tirais do fundo das suas amarguras para a esperança da Vossa protecção e, derramando, neles uma nova graça, os encheis de luz e alegria.
Assim, aqueles que, antes da comunhão, se achavam inquietos e aflitos, sem devoção e sem afecto, depois de nutridos por este alimento celeste tornam-se melhores e mais fervorosos. Vós que tratais assim os Vossos escolhidos por uma ordem admirável da Vossa sabedoria, para que reconheçam verdadeiramente, por sua própria experiência, quanta é a sua fraqueza e quais são as graças e as virtudes que não podem ter senão vindas de Vós.
Eles experimentam que, de si próprios, são frios, duros, indevotos, e que de Vós é que recebem o fervor, a piedade e a alegria.
E, com efeito, quem é aquele que, chegando, com humildade, à fonte das delícias celestes, não recebe dela, ao menos, uma pequena doçura? Quem é que, estando junto a um grande fogo, não recebe calor algum? Vós sois, ó meu Deus, esta fonte cheia e superabundante; sois este fogo, que sempre arte e nunca se extingue.

4. Se, pois, não me é concedido beber da abundância desta fonte, até saciar-me, ao menos permiti que chegue a minha boca à corrente dessa água divina, para que me refrigere e não morra de sede.
Se eu ainda não posso ser tão celestial como os querubins e os serafins, procurarei, contudo, animar-me por movimentos de piedade e preparar o meu coração para que, recebendo humildemente este sacramento de amor, sinta ao menos em mim algumas faíscas do divino incêndio.
Dignais-Vos, meu bom Jesus e Salvador Santíssimo, suprir pela vossa bondade infinita tudo o que me falta para receber-Vos condignamente. Vós Vos oferecestes para isto mesmo, quando chamastes todos os homens, dizendo-lhes: "Vinde a mim todos, os que trabalhais, e estais oprimidos, e eu vos consolarei."

5. Eu, na verdade, trabalho com o suor do meu rosto. Sinto penas que me atormentam o coração; pecados que me oprimem: tentações que me inquietam; paixões que me prendem nos seus laços; e não vejo quem, no estado em que me encontro, possa ajudar-me, ou livrar-me, ou salvar-me, senão Vós, meu Deus e Salvador. Eu me ponho, com tudo o que me pertence, entre as Vossas mãos, para que me guardeis nesta vida e me conduzais à eterna. Recebei-me favoravelmente, já que preparastes o Vosso corpo para alimento e o Vosso sangue como bebida da minha alma. Ó meu Salvador e meu Deus, fazei-me a graça de que, à proporção que eu chegar a esta santo mistério, cresça em mim o afecto da devoção e da piedade.

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES