22/07/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LXXXVIII)

(continuação da LXXXVII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Thomas de Kempis

IV Livro
O Augustíssimo Sacramento do Altar


Cap. II
Neste Sacramento Manifesta Deus ao Homem a Sua Bondade e o Seu Amor

1. Alma – Confiado, Senhor, na Vossa bondade, na Vossa misericórdia infinita, chego a Vós, como enfermo ao seu médico e salvador; como faminto e sequioso à fonte da vida; como pobre ao Rei do Céu; como escravo ao Senhor Soberano; como criatura ao meu Criador; como aflito Àquele que, por sua piedade, me consola em todas as minhas penas.
Mas de onde me vem, meu Deus, a graça de virdes a mim? Quem sou eu para que Vós mesmo Vos entregueis a mim? Como se atreve o pecador a aparecer na Vossa presença? Como Vos dignais chegar a um pecador?
Vós conheceis o que eu sou e sabeis que em mim não há bem algum que Vos obrigue a dar-me a graça. Confesso a minha vileza; reconheço a Vossa bondade; louvo a Vossa misericórdia; rendo graças à Vossa caridade infinita.
Certamente, por Vós mesmo o fazeis, e não por meus merecimentos, para que eu compreenda mais clara e sensivelmente a grandeza da Vossa bondade, a extensão do Vosso amor, o excesso da Vossa humildade neste grande mistério.
Pois que assim Vos agrada, mandais que assim se faça, recebo com alegria o favor com que me honrais e desejo que os meus pecados não me façam indigno dele.

2. Ó Jesus, cuja doçura é inefável! Que respeito, que louvores, que acções de graça não devemos dar-Vos pela participação do Vosso santo corpo?
Não há homem sobre a Terra que possa dignamente explicar a excelência deste sacramento.
Mas que posso eu pensar nesta comunhão, chegando-me a Vós, meu Senhor, para quem não posso ter o devido respeito e a quem desejo, entretanto, receber dignamente?
Que posso eu pensar melhor e mais saudável do que humilhar-me profundamente diante de Vós e adorar a Vossa bondade infinitamente elevada acima de mim?
Louvo-Vos, ó meu Deus, e desejo que sejais bendito para sempre. Desprezo a mim mesmo e humilho-me diante de Vós, até ao profundo abismo da minha vileza.

3. Vós sois o Santo dos santos e eu sou a escória da escória dos pecadores. Vós não Vos dedignais de abaixar-Vos até mim, que não sou digno de levantar os olhos a Vós.
Vindes a mim, quereis estar comigo; convidais-me à Vossa mesa; quereis dar-mea comer o manjar celeste; quereis dar-me o pão dos anjos, que não é outra coisa senão Vós mesmo, pão vivo, que descestes do Céu e que dais a vida ao Mundo.

4. Eis aqui o excesso do Vosso nome, do vosso abatimento e da Vossa bondade. Quem poderá, por tão grandes benefícios, dar-Vos as graças e louvores que Vos são devidos? Oh! Quão salutar e proveituoso foi vosso desígnio, ao instruirdes este sacramento! Suave e delicioso banquete em que Vós mesmo Vos deste em alimento! Como são admiráveis as Vossas Obras! Quão grande o Vosso poder, queão inefável a Vossa palavra! Falastes e tudo foi feito. O que mandastes, executou-se logo.

5. É maravilha que transcende o conhecimento humano, mas digna de todo o crédito, que, sendo Vós verdadeiro Deus e verdadeiro homem, estejais todo inteiro nas pequenas espécies de pão e vinho, sendo comido por quem Vos recebe, sem que sofrais a menor destruição. Vós, Senhor de todas as coisas, e que de nada necessitais, quisestes habitar connosco, por meio deste Vosso sacramento.
Conservai, pois, sem mancha, o meu coração e o meu corpo, para que, com alegre e pura consciência, possa celebrar, frequentemente, os Vossos mistérios e recebê-los para a salvação da minha alma, visto que os instituístes e ordenastes, principalmente para Vossa glória e memória do Vosso amor.

6. Alegra-te, alma minha, e dá a Deus graça por um dom tão grade e por esta consolação tão singular que Ele te deixou neste vale de lágrimas.
Todas as vezes que celebras este mistério e recebes o corpo de Jesus, renovas a obra da tua redenção e participas de todos os merecimentos do Salvador.
A caridade deste Senhor não padece diminuição alguma e as riquezas da redenção que Ele adquiriu, em nosso benefício, jamais se esgotam. Prepara-te, pois, para este acto, com uma renovação espiritual constante e considerando este mistério com uma renovada atenção.
Todas as vezes que celebres, ou assistas à missa, faz como se fora pela primeira vez e como se Jesus Cristo, nesse momento, baixasse à Terra e encarnasse no sei da Virgem, ou então, que estivesse sofrendo e morrendo na cruz pela salvação de todos os homens.

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