24/08/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XCVII)

(continuação da XCVI parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Thomas de Kempis

IV Livro
O Augustíssimo Sacramento do Altar


Cap. XI
O Corpo de Jesus Cristo e a Sagrada Escritura São de Grande Necessidade à Alma Fiel

1. Alma – Ó Jesus, dulcíssimo Senhor, que delícias inundam a alma fiel admitida ao Vosso banquete, onde Vós, mesmo sois o alimento e o mais caro objecto de seus desejos! Quão suave seria para mim derramar na Vossa presença copiosas lágrimas de amor e com elas regar os Vossos divinos pés, como fez Madalena! Mas onde se achará esta devoção tão viva, esta efusão tão copiosa de lágrimas santas?
Na verdade, o meu coração deveria arder e desfazer-se em lágrimas diante de Vós e dos Vossos anjos, pois que no Vosso sacramento Vos tenho verdadeiramente presente, posto que oculto debaixo das sagradas espécies.

2. Meus olhos não poderiam suportar-Vos se me aparecêsseis na divina luz que Vos é própria; e todo o mundo junto não poderia subsistir na presença da Vossa gloriosa majestade.
É por uma graça, concedida à minha fraqueza, que Vos escondeis neste sacramento.
Eu possuo e adoro verdadeiramente na Terra Aquele que os anjos adoram no Céu; mas eu O possuo, por obra, debaixo de véus, ao passo que eles O possuem vendo-O claramente. Contudo, devo contentar-me com o lume da verdadeira fé e caminhar com Ele até que amanheça o dia da claridade eterna e se dissipem as sombras das figuras.
Quando chegar esse perfeito estado, cessará o uso deste sacramento, porque os bem-aventurados, na glória celestial, não necessitam desta medicina sacramental. Eles gozam sem fim da presença de Deus, contemplando, face a face, a Sua glória; penetrados da Sua luz e como que abismados em Sua divindade, gozam do verbo de Deus encarnado, como foi no princípio e será eternamente.

3. Ao lembrar-me destas maravilhas, até mesmo as consolações espirituais me causam fastio, porque, enquanto não vejo o meu Deus e Senhor no resplendor de Sua glória, me nada estimo tudo o que neste mundo vejo e ouço.
Vós, meu Deus, sois testemunho de que nada me consola e de que não acho descanso na criatura, mas somente em Vós, a quem desejo contemplar eternamente. Isto, porém, não me é possível, enquanto me durar esta vida mortal. Por isso, devo ter muita paciência e sujeitar-me a Vós em todos os meus desejos. Porque, também, Senhor, os Vossos santos, que exultam agora, Convosco no reino dos Céus, quando viviam neste mundo esperavam, com grande fé e paciência, a vinda da Vossa glória.
Eu creio o que eles creram; espero o que eles esperam; e confio que pelo Vossa graça chegarei algum dia aonde eles chegaram. Entretanto, caminharei com fé, confortado com os seus exemplos.
Os livros sagrados serão minha consolação e o espelho da minha vida; o Vosso corpo santíssimo será o meu refúgio e o meu soberano remédio.

4. Conheço que duas coisas me são necessárias, sem as quais esta miserável vida me seria insuportável. Preso no cárcere deste corpo, confesso que necessito de duas coisas: alimento e luz. Vós destes a mim, enfermo, a Vossa sagrada carne para ser o sustento da minha alma e do meu corpo; e destes-me a Vossa divina palavra para me servir de luz a guiar os meus passos.
Sem estas duas coisas não poderia eu viver; porque a palavra de Deus é a luz da alma e o Vosso sacramento o pão da vida. Também as podemos considerar como duas mesas, colocadas de um e outro lado no tesouro da Santa Igreja. Uma é a mesa do altar sagrado, onde se encontra o pão do Céu, isto é, o precioso corpo de Cristo. A outra é a mesa da lei divina, que encerra a doutrina sagrada, ensina a verdadeira fé, levanta o véu do santuário e nos leva, com segurança, ao Santo dos santos.

5. Graças Vos dou, Senhor Jesus, resplendor da luz eterna, por nos terdes favorecido, pelo ministério dos profetas, dos apóstolos e dos doutores, com a mesa da santa doutrina. Graças Vos dou, ó Redentor dos homens, porque, para manifestar ao mundo a Vossa caridade, preparastes um grande banquete, no qual nos ofereceis, como alimento, não o cordeiro, que Vos figurava, mas o Vosso corpo e o Vosso sangue.
Neste banquete, do qual participam os anjos, mas de cuja suavidade gozam mais vivamente, alegrais a todos os fiéis e os inebriais, dando-lhes a beber do cálice da salvação, que contém todas as delícias do Paraíso.

6. Oh! Quão grande e honroso é o mistério dos sacerdotes, aos quais é concedido consagrar com palavras santas o Deus da suprema Majestade, bendizê-Lo com os seus lábios, tê-Lo em suas mãos, recebê-Lo, em sue peito e distribui-LO, a todos os fiéis! E quão limpas devem estar as mãos do sacerdote, quão pura a sua boca e como deve ser casto e santo o seu coração, para receber tantas vezes em sua alma o Autor da pureza!
Da boca do sacerdote não deve sair palavra que não seja santa, honesta e útil, pois tão frequentemente participa do sacramento de Cristo.

7. Sejam, pois, simples e castos os olhos que contemplam habitualmente o Corpo de Cristo. Sejam puras e levantadas aos Céus as mãos que tantas vezes tocam Aquele que criou os Céus e a Terra. Aos sacerdotes é que se dirigem particularmente estas palavras da Lei: "Sede santos, porque eu, Vosso Deus e Senhor, sou santo."

8. Ó Deus todo poderoso! Ajude-nos a Vossa graça, aos que somos revestidos do sacerdócio, para que Vos possamos servir digna e devotamente, com exemplar, piedade e consciência pura.
E já que não podemos viver com tanta inocência como devemos, concedei-nos, ao menos, a graça de chorar sinceramente as nossas faltas e formar, em espírito de humildade, o firme propósito de Vos bem servir, daqui por diante, com mais fervor e devoção.

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