09/10/15

CAPELA MÓR DA SÉ DE ÉVORA (I)

SÉ DE ÉVORA

CAPELA MÓR

Ast intogressae miratur Marmora Gentes
Maravilhosos Mármores! diz quem entra.
Aplicado a uma Capela de Nossa Senhora o Exquilíno

História

Ao uso da Espanha o Altar estava no meio da Capela Mór antiga. Em 1570 o Arcebispo D. João de Melo o fez recuar para trás acomodando-o à nossa moda; não obstante esta mudança, e algumas ouras porque passou sempre a memorar, a dita Capela Mor antiga era estreita, curta, falta de luz sem capacidade para as funções Eclesiásticas de mais pompa, enfim acanhada cabeça do corpo da Igreja, que se não elegante é mui grandioso ao menos. No Corpo Capitular havia quem notasse estes defeitos, e os estranhasse, e sentisse: havia igualmente quem os desejava emendar; mas o Cabido carecia de meios, ou faltava-lhe o dinheiro preciso para as despesas da obra, nem é possível acumular-se dinheiro numa corporação constituída tal como um Cabido, que administra, e reparte entre si o que administra; sabe que perde o que entesoura quando o não reparte.

Príncipes de sangue reconhecidos, e jurados, Príncipes Parentes destes foram os Prelados que desde 1526 até 1610 governaram a Diocese de Évora, e tais senhores por influências místicas, e devotas quiseram antes semear a novidade na Igreja, do que dar crescimento ao que já havia, e frutificar, estimaram antes plantar de novo do que restabelecer, e melhorar o que já havia plantado, preferiram o título de "assim o fez" ao de "melhor o fez". Falo desta sorte, e falo com segurança no que digo não porque considere o Bispo D. Afonso de Portugal, o Cardeal Infante D. Afonso, ou seu Irmão o Cardeal o Senhor D. Henrique, ou D. Teotónio de Bragança seu sucessor pouco largos em liberalidades para com a sua Igreja de Évora, falo assim porque daquele tempo data a vida dos Jesuítas a Portugal, e deve saber-se que da Igreja de Évora saíram as grandes rendas do Colégio do Espírito Santo (hoje Casa Pia) fundado em 1553 e 42 anos depois isto é em 1595 já tinha de renda anual "dez contos vinte um mil cento e vinte e dois réis" (pela estimação actual (..., espanta por enorme!) tirados das Mesas Arcebispal, e Capitular. ainda mais se gravaram aqueles senhores com as pensões, que ou impuseram a si, ou lhes impuseram as exigências do Estado, e consideração por certas Pessoas, o que tudo junto reduziu as rendas da Mitra de Évora a um pouco mais do preciso para o seu tratamento ordinário.

Desde 1610 por diante os negócios não correram melhor a bem dos Cofres Eclesiásticos, cada dia apareciam de novo necessidades públicas, a que era preciso acudir, havia quebras de fidelidade na Côrte, ou nas Províncias que precisavam reparar-se com a Solda da força armada, e isto fazia que se repetissem as Colectas, ou subsídios novos, e de toda a ordem lançados, e logo dispendidos sem nunca se dar ocasião de sobejos, e verificar-se a regra vulgar "Obras das Sobras". Assim foram os anos correndo, uns Prelados sucedendo a outros sem nenhum deixar de reconhecer a prcisão que havia da nova Capela Mor, nem decidir-se a dar-lhe princípio.

D. João V
Em 1703 morreu o Arcebispo D. Luís da Silva, e deixou em Testamento dezassete mil cruzados para a obra da Capela Mór; seu sucessor D. Simão da Gama, nem gastou consigo este dinheiro, nem o despendeu na obra para que fora designado, dele fez menção em suas últimas disposições, e o declarou propriedade não do Arcebispo sucessor, mas da Igreja de Évora, cujo era. Morreu D. Simão da Gama em 1715 e a Mitra de Évora não foi mais provida até 1741. Em 1716 (Outubro) veio a Évora o Senhor Rei D. João V de passagem para Vila Viçosa, e o Cabido como familiar à benevolência do Rei não aguardou para muito longe este negócio, mas logo aos primeiros ensejos de acatamento propôs a reedificação da Capela Mór. Do Paço Arcebispal onde veio pousar saiu o mesmo Senhor Rei a ver, e examinar a Capela Mór, assim como também os riscos, e planos de construção que dela havia desenhados, e prontos. Nem um mereceu a aprovação Real nenhum Lhe agradou, e disse ElRei que Lhos mandassem todos remetidos a Lisboa. Assim se fez, e a ocasião serviu belamente de dar impulso à obra porque em Lisboa então achava-se já João Frederico Ludovice Arquitecto de Mafra, vindo de Alemanha donde era natural a executar o seu Risco já preferido aos mais por aparatodo, e conforme à Munificência do Senhor Rei. Frederico foi consultado a este propósito, e a obra desenhada pelo modelo da de Mafra de quem ficou sendo Filha unigénita em enfeites, e donaires muito mais bela, e engraçada que sua própria Mãe Carlos Baptista Arquitecto quando se tratada de abrir os Alicerces à fundação de Mafra veio de Lisboa a Évora em 1717 mandando a examinar se podia tirar-se palmo e meio em volta das paredes da Capela Mór antiga a fim de se alargar com esse acréscimo a moderna, que o Senhor D. João V quis que tivesse vinte palmos mais de comprido, e assim o mandou dizer a Frederico para lhos acrescentar no risco.

A 13 de Fevereiro de 1718 veio o Aviso do Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte-Real para dar começo à Obra pelo risco de Frederico. A 6 de Setembro começou-se naquele mesmo ano Superintendentes dela os Cónegos Sebastião de Mira Coelho, e António Rosado Bravo. Olheiro para a vigiar Manuel Gomes. Director do arranque da Pedra em Estremoz o Padre António Franco da Congregação do Oratório, por cujas mãos passaram os dinheiros todos despendidos na Compra da Pedra, na condução, no arranque, desbaste, e outros preparos dela. Comprou-se a maior parte da Pedra a António Bernardo de Lucena da Vila de Estremoz, Proprietário e Senhor de uma Herdade; que a continha junto daquela Vila. Cinco ou seis anos sustentou Lucena o contrato da venda da Pedra pelo preço ajustado, que não devia ser o mais baixo no fim deste prazo lembrou-se de subir a maiores lucros, e levantar o preço requereu ao Cabido para isto mesmo alegando estragos, e prejuízos imaginários nas tiradas, e transportes da Pedra foi ouvido o Padre Franco conhecedor da matéria, e na sua informação respondeu como um Anjo.

(continuação, II parte)

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