27/12/15

O REI E O PAI (I)

Retirado do "O Escudo, ou Jornal de Instrução Política" (ano de 1823), do Pe. José Agostinho de Macedo:

ESTEJAMOS BEM

Este é o meu mais sagrado voto, se até aqui mereci a contemplação dos Portugueses, agora apenhorarei a vontade dos mesmos que discordam em sentimentos.

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§ 1

Pai, e Rei são palavras sinónimas: Filhos, ou súbditos têm a mesma significação - Pai é o legislador, que recebeu todo o poder para o governo, e direcção da sua família, por meio da razão, ou da Lei escrita no coração do homem.

§ 2

Este poder é transmissível, quando o requer o bem da família, ou seja pelo instinto social, ou pelo desejo de comunicar seus pensamentos uma alma racional, ou pelo medo, e temor dos adversários da vida, ou pela força, ou por qualquer outro motivo de atracção, sobre que são baldadas as disputas ou entretimentos. 

§ 3 

O certo é o poder dos Pais sobre os Filhos, e o poder dos Reis sobre os súbditos: não são diversos direitos, ou poderes; são idênticos; o Rei não pode mais que o Pai: estes poderes não foram concedidos, como privilégios, mas só ao fim da conservação das famílias.

§ 4

Nasceram os homens em dependência absoluta de seus progenitores, até ao tempo, em que possam trabalhar, e ganhar o pão com o suor de seu rosto: lei formidável! mas necessária para expiação, e regeneração da carne corrompida pelo pecado: o que não escapou ao Filosofismo natural de um Platão, e outros homens ilustrados pela revelação primitiva, ou por dom da graça, que não é tão restricta, como pensam muitos homens.

§ 5

Esta dependência peculiar do género humano não converteu em coisas as pessoas, mas produziu o direito paternal, o mais sagrado de todos os direitos, para criar, educar, e vigorizar a sua descendência, que deve crescer, e multiplicar-se, em quanto couber na terra: esta é a força da palavra "replete" escrita no Génesis, que deve entender-se por actualidade de propagar-se.

§ 6

Pode portanto o Pai pôr em prática todos os meios, conducentes a este fim, sem excepção, menos a pena de morte, que Adão não impôs a Caim: é verdade que este reconheceu o direito de o matarem, por haver perdido o juízo à vida pela morte de seu Irmão, mas não consta, ao certo, apesar da opinião dos Rabinos, que o matassem: e só Deus sabe se este foi o nosso Progenitor: ele foi assinalado para viver; e esta marca posta por Deus também prova que ele não devia existir.

§ 7

É indubitável que o Pai deve repreender, e castigar, mas com a mesma moderação, que a cada um compete reprimir rebeliões da sua carne, para se não confundirem os direitos da natureza, e da sociedade, tão ofendida pelo amor injusto, como pelo ódio criminoso contra a pessoa, e não contra o crime.

(continuação, II parte)

5 comentários:

Unknown disse...


Salve Maria!

Muito bom...Porém, tive uma dúvida ao entender aqui: Ele foi "assinalado" para viver mas "não devia existir",como assim?

anónimo disse...

Cara Cláudia Arruda,

Faz bem em perguntar. Agradecia que transcrevesse a frase em questão, para eu não ter de ir procurá-la. Obrigado. Aguardo.

Unknown disse...


Transcrevo o parágrafo, porém, minha dúvida está no final, entre colchetes:

"Pode portanto o Pai pôr em prática todos os meios, conducentes a este fim, sem excepção, menos a pena de morte, que Adão não impôs a Caim: é verdade que este reconheceu o direito de o matarem, por haver perdido o juízo à vida pela morte de seu Irmão, mas não consta, ao certo, apesar da opinião dos Rabinos, que o matassem: e só Deus sabe se este foi o nosso Progenitor: [ele foi assinalado para viver; e esta marca posta por Deus também prova que ele não devia existir]."

anónimo disse...

Cara Cláudia Arruda,

apenas posso opinar: Deus escolheu Caim para continuar a humanidade, contudo, mesmo assim, ele foi também um fraticida que deveria ter ser punido de morte.

Volte sempre.

Unknown disse...

Salve Maria!

Entendi.
Muito obrigada!

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