08/07/16

CONTRA-MINA Nº 48: Anti Aurora (a)

CONTRA-MINA
Periódico Moral, e Político,

por

Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Monge de Alcobaça.

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Nº 48
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O medonho Fantasma se esvaece,
O dia torna, e a sombra se dissipa;
Os Insectos feíssimos de chofre
Entram no poço do afumado Inferno:
Eternamente a tampa se aferrolha.
No meio do clarão vejo no Trono,
Cercado de esplendor, MIGUEL PRIMEIRO.
(Macedo, Viagem Estática ao Templo da Sabedoria, pág. 141)
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Anti Aurora

Houve  tempo, com que os E[?] do Grande Oriente de Lisboa me regalavam de preciosos mimos, como eram sem dúvida os Papeis incendiários contra este Reino, e o seu Príncipe, que em tanta profusão, e só para benefício da estampa, há feito gemer, há três anos a esta parte, os prelos de Londres, e Paris. Um dos tais Papeis chamava-se Palinuro, que me pareceu digno de levar uma tunda. Assim o fiz, para dissipar as névoas, de que ele podia cercar o entendimento de alguns Leitores, tendo-se-me seguido a mais dolorosa de todas as perdas. Nunca mais fui brindado com os ditos Papelinhos; nem Palinuros, nem Pilotos, nem Chavecos me tornaram a aparecer, ficando eu assim como o espargo no monte, e sem aquela consolação, que sempre me trazia a leitura de uns Papeis, tão fáceis de analisar, e combater. Já eu tinha perdido quase de todo as esperanças de haver à mão os meus encantos, os meus caros Papelinhos da Fábrica já Parisiense, já Londrina, que além de outros bens me faziam o de instruir-me dos gigantescos progressos da Literatura Constitucional, a que os Medrões, e os Girões do Ex-Soberano Congresso deram o impulso mais forte, quando imprevistamente me luziu certa Aurora, não aquela, que costuma abrir com os seus dedos de rosa as portas do Oriente; porém outra mais baixa, que foi trazida num barco de vapor, e que muito lhe convinha, por ser um agregado informe de vapores, e miasmas revolucionários, tendentes a seduzir, e perverter a Nação Portuguesa, e nomeadamente os Chefes, e Soldados, que se empenham na Justa, e Santa defesa do Trono, e do Altar; e que vista a qualidade dos agentes autorizados, e invulneráveis, que se incumbiram de a espalhar, talvez cause gravíssimos danos em uma, ou outra cabeça oca, e das que vulgarmente se chamam cabeças de minhocas: e já que estas luzes Maçónicas devem apagar-se a todo o custo, onde quer que despertem, julguei acertado opor as luzes verdadeiras, que são as do raciocínio, e da experiência, aos fogos fatuos, que de contínuo, porto que badaladamente, emprega a Seita Maçónica, que até moribunda, e ao ponto de exalar o último suspiro, fingirá, mentirá, e caluniará, por ser esta a sua índole, que o berço lhe deu, e que somente a sepultura lhe roubara, ou destruirá completamente.

Aurora! Que formoso título! Que bem achado nas presentes circunstâncias! Quase dá a entender, que é precursora do nascer do Sol, quando somente o é de um Eclipse total da honra, da fama, e da legislação, da felicidade, e da antiga Crença dos Portugueses, que felizmente abriram os olhos por uma vez, para conhecerem o que é o Sistema Constitucional, e os seus péssimos resultados. E haverá ainda quem se esmere, e quem se canse, e forceje por mostrar, que o tal Sistema, já por duas vezes prostigando, e expulso com infâmia, mudou a pele, e vem agora feito um Satarrão, para nos edificar, e instruir com os seus bons exemplos, e doutrinas...

Tirano o Senhor D. MIGUEL I!! E de mais a mais insaciável de sangue! É certamente a mais atroz de quantas imputações falsas, e caluniosas se tem excogitado, para fazer odioso um Príncipe, que se fosse justiceiro, como D. Pedro, chamado o Cru, já teriam caído, pelo menos, 40$ [40 mil?] cabeças de traidores... É desnecessário todavia procurar, ou insistir nestes exemplos de Justiça, a que outros chamam crueza; bastaria que hoje reinasse D. João I, para terem caído, pelo menos, 20$ cabeças; que se reinasse D. João II, que não era parenteiro, e que não perdoava nem a Duques, nem a Bispos, quando os achava traidores, já não apareceriam neste Reino os mais pequenos restos da Maçonaria, que o tem flagelado, e reduzido à última decadência Moral, e Política... Levanta-se um Regimento infame, desenrola as Bandeiras da Sedição, e assassina de passagem os Cidadãos tranquilos, e que nem presumiram a cruel sorte, que os aguardava... Que Rei da Europa deixaria os seus membros? Fizesse um Regimento da Prússia, ou da Rússia uma galantaria destas, e eu prometo, que nenhum escaparia, ou de ser fuzilado, ou de ser enterrado na Sibéria, castigo talvez superior ao da morte.

Tirano, a quem já perdoou a um Réu convencido do mais punível, e horroroso dos crimes políticos que só esperava algumas horas de vida... que já tinha entrado no Oratório, que pode ser que já estivesse vestido de alva, para caminhar ao suplício!! Tirano, quem no primeiro impulso de coibir os excessos de uma Revolução, que por bem pouco não arruinou para sempre a Monarquia Portuguesa, não duvidou contentar-se apenas com o suplício de dez criminosos... Quando talvez fosse necessário castigar, pelo menos 500 pela então rigorosa necessidade de dar um exemplo terrível; e que sem um ou mais deste jaez, aumenta-se o número dos criminosos, e periga consideravelmente o repouso, e a prosperidade dos inocentes... São impreteríveis as sagradas máximas da justiça; quando se absolvem os maus, castigam-se os bons; porque aqueles tornam ao vómito, e aguilhoados pela impunidade abalançam-se a cometer novos, e cada vez mais atrozes crimes; e estes, quero dizer, os bons são forçados a viver em contínuo sobressalto, a guardarem-se continuamente de ciladas, e perigos, e a esmorecerem... no seu amor à Pátria, pois vêm declaradas à face do mundo as suas verídicas asserções, e inconstatáveis depoimentos, o que os põe na dura necessidade de se esquivarem, quanto neles seja, a comparecerem diante dos Juízes, e a contibuírem para o bem da Monarquia, por ser um acto não só inútil, porém danoso, e prejudicialíssimo...

Universidade de Coimbra
Acaso deverá ele chamar-se tirano, porque tem castigado severamente os assassinos de Condeixa? E poderia ele haver-se de outra maneira? Perdoar a semelhantes facinorosos, vinha a ser o mesmo, que dar por acabado o exercício da Justiça, e desterrá-la para sempre da Monarquia Portuguesa. Mil vidas, que tivessem aqueles parricidas seriam uma fraca expiação do seu crime, que foi o primeiro desta classe, que se perpetuou neste Reino, e que somente os Reinos empestados da Maçonaria pode ter lugar... O estudante Sand, assassino de Notsebue não corre parelhas com os Estudantes Pedreiros de Coimbra: aquele desfez-se de um Escritor, que impugnava a Seita, estes desfizeram-se de seus Mestres, sem haver a mais pequena antecedência de ódio, ou má vontade. Decretou a Seita, que fossem mortos, nada mais foi preciso: a obediência cega os levou a cometer o parricídio, que até o propriamente dito eles cometeriam, se a própria Seita lho determinasse; o que é tão certo, que não faltam receios, ou suspeitas, de que um filho sabedor da morte, que havia de infligir.se a seu Pai, teve a constância de guardar segredo, de o ver partir com olhos enxutos, e talvez de receber com a mesma frieza os primeiros anúncios da sua morte!

Porém estes mancebos eram de grandes esperanças para a Seita... Neste primeiro lance de obediência mostraram claramente, que seriam outros tantos Brutos, e Cássios.... e como os interesses da Seita são os que devem regular o mundo, é claro, que foi um tirano, quem não deixou crescer à vontade estas plantas venenosas, e veio atalhar por este modo os progressos da Maçonaria "Lusitana"...

(continuação, parte b)

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