10/03/17

15 de MARÇO - AGIOLÓGIO LUSITANO (I)

Agiológio Lusitano

Catedral de Trento

MARÇO 15
a) Em Trento, nos confins da Itália, a solenidade de S. Magoriano [Bispo de Trento], ilustre Confessor de Cristo, natural da Lusitânica, na antiga cidade de Coria, como também o foram Sta. Maxência sua mãe, Claudiano Confessor, e Vigílio, Bispo, e Mártir, irmãos seus. Ao qual seguiram todos (ilustrados de superior luz) eleito pois nesta Eclesiástica, e preeminente dignidade, não lhe serviu pouco assistência de Magoriano, assim na administração da dita Igreja, como na conversão da gentilidade, tendo nele não só irmão, e companheiro fidelíssimo, mas coadjutor, e obreiro incansável no ofício pastoral, o qual achando-se presente a seu martírio (que lhe foi dado em ódio da pregação) sepultou seu sagrado corpo o melhor que pôde, ajudado de Claudiano. E perseverando depois em vigílias, jejuns, orações, e outras obras pias, esmaltado de heroicos méritos, e preclaras virtudes, impôs gloriosamente a corónide a sua feliz jornada.
 
- do comentário:
Na famosa cidade de Trento, nasceu para o céu o ilustre Confessor de Cristo Magoriano a 15 de Março no ano 415 em cujo dia lhe celebra festa solene sua antiga Catedral, que goza o penhor de seu corpo, como escreveu Ferrário, Geral da Ordem dos Servitas, no seu Martirológio dos Santos, que não andam no Romano (h. d. pág. 112) Tridenti in finibus Italiae S. Magoriani Confessoris, e nas notas página seguinte ex tabulis eiusdem Ecclesiae: Is, S. Vigilii Episcopi Tridentini, et S. Claudiani frater fuit, prout dictae Ecclesiae monumenta habent. Sua vida escreveu no Catálogo dos Santos de Itália (fol. 152) onde lemos: Acta S. Magoriani precípua desiderantur, quem admodum, et S. Claudiani eius fratris. Nam in verbis Tridentinae vastationibus, quas saepius passa est, deperiisse serventur. Da sua pátria Coria, cidade da Lusitânia, veja-se o que dizemos no Comentário de 30 de Abril lit. b. onde tratamos de Sta. Maxência, sua mãe.
 
 
b) Na cidade de Coria, a varonil constância de Sta. Vicência, estrénua defensora da Fé Católica, que padeceu (segundo S. Gregório Turonense) no tempo dos Arianos. Era esta santa donzela singular em gentileza, na riqueza opulenta, e avantajada em nobreza, por ser de Senatória linhagem; e o que é mais de estimar, mui verdadeira Católica, dada ao serviço de Deus, sem haver nela coisa que repreender, antes muitas, que louvar, e imitar; pelo que acusada diante do pérfido Arriano Trazimundo, cuidando ele que com promessas, e brandas palavras a persuadisse rebaptizasse, conforme seu falso rito. A santa Virgem de nenhuma maneira quis consentir em semelhante desatino. Irado então o tirano, e desenganado, lhe mandou confiscar seus bens, e riquezas para a Coroa: ela, como possuía as do céu, e estimasse em pouco as terrenas, senhorilmente zombava de tudo. Vendo pois o sanguinolento sua determinação, e fortaleza, a mandou atormentar com vários martírios; e como não pudesse com eles contrastar seu generoso peito, para que condescendesse em suas heréticas perfídias, foi levada por força a ser baptizada, e metida violentamente pelos infernais ministros na pia baptismal, bradava Vicência em altas vozes: Creio que o Padre, Filho, e Espírito Santo é uma mesma substância, e essência; que os Arrianos negavam. E dizendo isto maculou toda a água com um repentino fluxo, de que os presentes ficaram corridos, e envergonhados. Tornada outra vez aos tormentos, depois de haver tolerado variedade deles no equuleo, abrasada toda com lâminas de fogo, e rasgadas suas carnes com unhas, e pentes de ferro, conhecendo, que nada era bastante para lhe tirar a vida, levou do traçado, e a degolou, conseguindo o fim desejado, com este felicíssimo género de morte.
 
- do comentário:
Traz um célebre Elogio da nossa Sta. Vicência V.&M. sem declarar nome, o glorioso S. Gregório Turonense (l.2 da hist. de França c.2) onde se contava com dizer, que foi V. Hespanhola: Virgo Hispana. A quem segue Padilha (tom. I ad ann. 423 cent.5 c.17). Porém Dextro (ad na.424) como tão versado na hist. Eclesiástica, não somente nos dá o nome, e a pátria, chamando-lhe: Lusitana de Coria, mas o dia, e ano de seu martírio por estas palavras: Cauria in Hisp. Virgo Lusitana, nomine Vincentia, Catholica, ab haereticis Arianis, immensis propemodum cruciatibus afficitur, immensis propemodum cruciatibus afficitur, quod semel Catholice tincta, nollet haereticorum intigi baptismate: quae hoc anno idibus Martii tandem gracisime torta, Virgo, et Martyr migrat in açlum. Querem dizer: Em Coria, cidade de Hespanha, foi afecta pelos hereges Arrianos com tormentos quase imensos, uma donzela Católica Lusitana, por nome Vicência, porque sendo baptizada uma vez catolicamente, não quis ser rebaptizada por eles, a qual em resolução gravissimamente atormentada passou ao céu V.&M. a 15 de Março do dito ano.
Dissemos no texto por autoridade do mesmo S. Gregório, que o tirano executor de seu martírio, foi Trazimundo, o qual não podia ser o Rei dos Vândalos, que lançado pelos Suevos de Hespanha /segundo S. Próspero) reinou depois em África, depois Sto. Isidoro na hist. dos Vândalos diz, que no ano 424 (no qual foi o martírio da nossa Santa) reinava em Hespanha Gensirico; logo havemos de dizer, que foi algum Régulo particular (assim chamado) da cidade de Coria, mas tão fino herege Arriano, que perseguiu totalmente aos Católicos de Hespanha, compelindo-os com vários tormentos, e atrozes mortes, a que consentissem, e confessassem sua pérfida seita. Vejam-se (de mais dos nomeados) Bivar, e Caro, Comentadores de Dextro, ad eudem locum; Fr. Luís dos Anjos no Jardim de Portugal (n.37); Carrilho nos Anais Eclesiásticos de Hespanha (ad na.424), e Camargo seu abreviador (fol.95); Basílio Sanctorum no Prado Espiritual, e outros.
 

c) Em Capua, cidade de Campania em Itália, passou desta penosa vida às delícias daquela, em que não há tristeza, ou dor, a gloriosa Virgem S. Matrona, filha de um Rei Suevo da Lusitânia, a qual vendo-se de doze anos, sem ter hora de saúde, por causa de um fluxo de sangue, que continuamente padecia, consagrou a Deus a margarita [?] da castidade, se a livrasse de tão prolixa, e penosa enfermidade. Neste comenos, desconfiada já dos remédios humanos, implorando os divinos, foi amoestada em sonhos por um Anjo, para que deixada a pátria, se fosse à dita cidade, onde duas vacas lhe mostrariam o lugar, que encerrava as sagradas relíquias de S. Prisco B.&M. (um dos 72 discípulos de Cristo) por cujo mérito, e intercessão cobraria perfeita saúde. Rompendo Matrona então por todas dificuldades, e inconvenientes, por logo a jornada em efeito, acompanhada de doze donzelas. A vista da Capua, lhe saíram ao encontro as duas vacas, que o Anjo do Senhor lhe tinha dito, as quais guiaram ao posto, onde indecentes jaziam as ditas santas relíquias. Prostrada ante elas em fervorosa oração invocando ao Santo Bispo, conseguiu a desejada saúde. Lembrada então do voto, que fizera, edificou ali convento, em que se recolheu com suas companheiras, e Igreja, em que as colocou honorificamente. Certificado de tudo S. Gelásio, Primeiro do nome (que neste tempo governava a Igreja de Deus) tomando-a debaixo de sua protecção, a enriqueceu de copiosas graças, e indulgências. Nele passou a santa Infante o restante da vida religiosamente à sombra destas sagradas relíquias, até que esclarecida com maravilhas, entregou seu cândido espírito nos braços do Esposo divino, e celestial. Foi sepultada em monumento, que ela havia feito em sua vida, de espelhado pórfido, estribado sobre quatro colunas de finíssimo alabastro, do qual dizem, que corria um precioso licor, que obrava muitos milagres cada dia, experimentando principalmente a virtude de sua intercessão, as mulheres que padeciam molestos fluxos de sangue.
 
- do comentário:
Nasceu a gloriosa S. Matrona (segundo a melhor opinião) em Braga (côrte naquele tempo dos Reis Suevos) foi filha (ao que julgamos) de Remismundo, ou de Teódulo, seu sucessor, ambos professores da Arriana seita, que reinaram pelos anos de Cristo 480. Esta fresca rosa, nascida entre as espinhas Arrianas, passou à Itália de doze anos, e na antiga cidade da Capua (cofre de suas sagradas relíquias) erigiu Igrejas a S. Prisco, no Pontificado de Gelásio I e Império de Zenon, como se vê de uma inscrição, que está no sepulcro da mesma santa em caracteres Longobardos, que reduzida a Latim diz assim:
Anno Domini D. VI. Indictione XIV. Regnante Imp. Zenone, in Constantinopolitana urbe: Gelasio PP. in Rom. urb. B. Matrona fieri fecit istam Basilicam, in honorem B. Prisci, cum autoritate supradicta PP. et aliorum Praelatorum constituit, et ordinavit, ut amnis qui hanc Basilicam devote visitaverit, na. M.CC. Indulgentiam suorum peccatorum acciperet.
Contrai esta inscrição manifesto erro, se não atribuímos o ano 506 ao trânsito de S. Matrona, porque o Imperador Zenon morreu (segundo os fastos Romanos, e tábuas Cronológicas) quase dois anos antes, que o Papa Gelásio fosse assumpto ao Pontificado, que foi no de 492 por 4anos, e 8 meses. Pelo que havemos de dizer, que S. Matrona no Império de Zenon principiou a dita Basílica, e no Pontificado de Gelásio aperfeiçoou, o que lhe concedeu 1200 anos de indulgência, e remissão de pecados às pessoas, que devotamente a visitarem. Fica esta Igreja uma légua da nova Capua, onde esteve a antiga, que destruída pelos Romanos, e reedificada neste sítio, querendo trazer o sepulcro desta nossa santa para ela, foi achado milagrosamente no primeiro lugar, e é certo que não se abriu até hoje, pelo medo, e temor, que os naturais têm de tocarem tão santas, e milagrosas relíquias.
Da regra que professou, e hábito, que vestiu no Cenóbio, em que viveu com suas companheiras, não falam os Autores, somente o Pe. Fr. Luís dos Anjos no Jardim de Portugal (n.38) a quem seguiram depois Fr. António da Purificação na p.1 da Crónica de S. Agostinho desta Província (l.1 tít.10 §5), Fr. Tomás Herrera (no tom.2 do seu Alphabético lit. m. fol.47), e Elssio no Encomiástico Augustiniano (pag.475) querem que fosse a sua de S. Agostinho, mas se assim fora como eles publicam, seria debaixo do hábito Canónico, que professava S. Gelásio, o qual tomou o dito mosteiro debaixo de sua protecção.
Também estes próprios autores a fizeram Mártire, equivocados com outra S. Matrona Barcelonense, atribuindo à nossa muitos de seus milagres, e levando parte de suas relíquias (sem fundamento algum) a Barcelona. E nós fundados na grande autoridade do dito Mestre Anjos, o publicamos assim a 25 de Janeiro, tratando a Dedicação de sua Igreja (pág.243)sendo ela somente Virgem, como tem a tradição da Catedral de Capua, a antiquíssima pintura de sua história, e o ofício, que se reza neste dia de communi Virginum, e non Martyrum, em que a traz Ferrário no Martirológio: Apud Capuam veterem S. Matrona Virginis. Proseguindo nas notas (fol.113)
  Ex quodam m. s. quod legimus ibi, et ex epitáfio in Ecclesia S. Prisco ibidem dicata, extante: ex quo illam Lusitani Regis filiam fuisse, et zenone Imperatore, ac Gelasio PP. vixisse liquet, et apriore diversam esse (aludindo à célebre de Barcelona, de que tem falado acima) apparet.
Sua vida escreve o mesmo Ferrário no Catálogo dos Santos de Itália (fol.153) onde nas notas atribue a muita antiguidade a pouca notícia, que têm os nossos historiadores Lusitanos desta sua Santa: Nec de hac Matrona apud Lusitanos scriptores, illa (quod sciam)extat memoria, antiquitatis tamen deferendum videtur. De onde veio a dizer o Cardeal Baronio nas notas ao Martirológio Romano h d.lit.c. que foi Africana, não dando inteiro crédito aos monumentos, e tradições da Igreja Capuana, as quais abralou o Reverendo Pe. Bollando da Companhia no II tomo de Sanctis (fol.611. S. Matrona Virgo Lusitana in Ecclesia S. Prisci dioceses Capuana, duplicem obtinet celebritatem, prior agitur die 25 Januarii, est quae illus Ecclesiae Dedicatio: altera Natalis est ipsius Virginis, celebraturque 15. Martii). Pelo que conforme esta memória, a festa desta nossa S. Infante, se faz na Igreja de S. Prisco (além da de 25 de Janeiro, que sendo o dia da sua Dedicação, se lhe não sabe outro nome mais que o da Festa de S. Matrona, com grande concurso, e ofertas daqueles contornos) a 15 de Março, em cujo dia traz o Matirológio Romano a V.&M. de Barcelona, de que se não devem admirar os eruditos, e versados nas lendas dos Santos, pois não é cousa desusada, antes mui comum ocorrerem dois dos mesmo nome num dia. E para que não saiamos do reino, sirvam-nos de prova domésticos exemplos; a 16 de Abril se festeja em Braga a S. Frutuoso, Abade daquela Igreja, e a 20 de Julho S. Vilgeforte em Siguença, e em Maguncia outra do mesmo nome, ambas Portuguesas: e assim não é muito que em dia de S. Matrona M se solenize a nossa Virgem, cuja imagem se pinta em traje de Infante, com palma na mão, e coroa na cabeça, entre duas vacas.
Por remate nos pareceu acertado para prova do que temos dito, referir aqui o prelúdio à vida desta Santa, que faz poucos dias imprimiu o Cónego D. Miguel Mónaco na p.1 do seu Santuário Capuano (fol.143) onde refuta a Baronio, e a outros Autores, que escreveram dela menos advertidos: In Ecclesia S. Prinsci Capuana dioceses colitur S. Matrona Virgo. Agitur festum die Martii 15 et noc ipso die notatur in Martyriologio Rom. S. Matrona V. et M. et illa diversa est a nostra Matrona. In Kalendario Thesauri m. s. reperi notatum charactere nigro, et Longobardo: Idus S. Matronae Virg. Huius acta habuimus in muris expessa, quae ex muris in chartas ita traduximus. Matrona Portugallie Regis filia duodennis, etc.
Temos escritos até aqui de S. Matrona, será força, que digamos alguma coisa de Capua. É cidade preclaríssima, metropolitana de Campania, e antiga Colónia Romana, da qual se lembra Plínio, Estrabão, e Ptolomeu, mas devia ser da velha, que distava da nova dois mil passos, segundo colheu das suas ruinas, e monumentos Leandro Alberto. Semprónio escreve, que se chamou primeiro, Osca; Livio, Vulturna; Frontinio, Júlia Félix; e Suetónio, Capua, de Capys, seu fundador. É cidade Arcebispal, cujo nome retém, situada na raiz do monte Tifata, banhada do rio Vulturno, entre Nápoles, e Seffa, em distância quase igual. O clima ali é salutífero, o sítio oportuno, o terreno fertilíssimo, como grande amenidade, e em resolução são tantas suas excelências, e prerrogativas, que por vezes estiveram os Romanos para deixarem Roma, e se passarem a viver nela.


d) No convento de S. João de Tarouca, território de Lamego, partiu para as eternas moradas o B. Alberto, por pátria Francês, não menos esclarecido em virtude, que em sangue, discípulo do me[?] lifuo Bernardo, escolhido, e mandado por ele de Claraval com Boemudo, e outros santos Monges a este reino, para fundarem, e propagarem nele a sagrada religião Cisterciense. Chegados a Portugal, no lugar revelado, muito antes pelo sagrado Precursor, e designado pelo céu com soberanos esplendores, erigiram o dito convento, onde constituído Prior, juntou ao cargo, suma humildade, voluntária pobreza, estremada austeridade, e perpétua oração, comprovando o céu tantas excelências de perfeições com gloriosos milagres. Porque o Infante D. Henrique, havendo de entrar em batalha, o levava sempre consigo; e sendo talvez o seu exército menor em número, que o do inimigo, em quanto o valeroso Josué pelejava, orava o B. Aldeberto à vista dos soldados, abertos os braços como outro Moisés, e à força de sua oração eram os infiéis vencidos, e desbaratados, e os Cristãos vencedores, e triunfantes. Era isto tanto assim, que uma vez faltando-lhe as orações do santo Monge, conhecendo-se a victória pela parte dos Sarracenos, com grande vantagem, chamado logo Aldeberto, prostrado em oração, voltando o Infante sobre eles, miraculosamente saíram victoriosos, os que já se choravam prisioneiros. Passando desta vida Boemudo, primeiro Abbade desta casa, lhe sucedeu na dignidade por comum sufrágio de todos, a qual exornou com egrégias, e miraculosas obras. Porque para perpetuar a herança de sua santidade, e celestial doutrina, lançou o hábito a 14 noviços, o primeiro dos quais foi São João Cerita, a quem por suas orações, enfermando depois gravissimamente, restituiu Deus a saúde. Assim mesmo alcançou tão perfeita vista um moço cego de nascimento, que acabou na Ordem santamente. E outrossim a Rainha D. Teresa, mãe do Infante D. Afonso Henriques, foi milagrosamente por sua intercessão livre da morte. Resplandecendo pois este singularíssimo varão nas monásticas virtudes, sendo versado bastantemente na Sagrada Escritura, e lição dos Santos Padres, carregado de anos, e actos religiosos, acompanhados de contínuos milagres felizmente deixou a terrena habitação pela celeste, onde em companhia dos Abades santos da Ordem goza o lugar, e prémio devido a tantos méritos. Chorado seu trânsito, como a razão pedia, entregue o cadáver às entranhas da terra, não faltou nunca concorrência de devotos a seu sepulcro, invocando sua poderosa intercessão. Por cujo intuito a piedade Cristã andou tão liberal, que em prevê cresceu a dita casa em bens, e rendas temporais, com que hoje abundantemente se sustenta.
 
- do comentário:
Reconhece a sagrada Religião Cisterciense sua dilatação neste reino ao B. Aldeberto, II Abade de S. João de Tarouca, e ele sua investidura, e título real, pois foi o que por mandado DelRei D. Afonso Henriques escreveu a S. Bernardo sobre esta matéria, recomendando-lha mui de propósito. Os núncios foram Fr. Rolando, seu companheiro, e D. Pedro Afonso, irmão do mesmo Rei, cujo importante negócio agenciou o santo Abade excelentemente, conseguindo em breve o que se pretendia do Papa Inocêncio II ano 1142 e daqui veio fazer DelRei feudatário o reino a S. Maria de Claraval. Chegados os mensageiros com tão feliz despacho, não se fala mais em Alberto, parece que já era falecido, se bem Gaspar Iangelino in notit. Abb. Cist. (l.6 in reg. Portug. c.1 fol.25) lhe estende a vida até ao ano 1152 que concorda belissimamente com o Memorial da fundação deste convento, que se acha em seu Cartório, no qual se lê, que foi chamado a Coimbra, quando ElRei D. Afonso Henriques instituiu a Ordem de Avis no ano 1147 & que dali a 5 anos faleceu: Itum est ad Colimbriam, ubi Dominus Rex cum Abbate, et reliquis constituit Ordinem de Elbora sub instituitis Cistercii, et ipsi novi milites dederunt ei obedientiam, et ab illo acceperunt regulam, et usus nostri Ordinis, vixit postea Aldebertus quinque annis in bona senectute, et permansit in multa inedia, et propter illum dederunt multi milites, et boni viri haereditates, et multa boa monasterio S. Ioannis. E para que se veja o grande caso, que o dito Rei fazia de suas orações, daremos aqui a cópia de uma original Escritura, que se conserva no mesmo Cartório:
In Dei nomine, quoniam unicuique conventi de propriis bonis propriam explere voluntatem, sicut scriptum est in legibus Gothorum, indicirco ego Infans D. Alphonsus, filius illustris Comitis Henrici, et Reginae Tharasiae, Magni quoque Alphonsi nepos, cernens beneficia, quae a Deo accepi per bonas orationes D. Aldeberti Abbatis S. Ioannis, qui monasterium est in valle montis Curui, discurrente rivo Barosa, et quia suis ordationibus vicimus Aguim Regem de Badalhouce, orante ipso dum nos pugnaremos apud Trancosum, et Ciloricum, idicirco ego supradictus infans desiderans inmplere vota quae Domino Deo voui, et volens in melius erigere praesatum monasterium, do, et concedo vobis Abb. Aldeberto, et fratibus vestris totam terram quae addisset inter montem Curum, villam planam, et ipsam serram de Seixas, ut exredditibus eius possitis constituere monasterium melhor atum, et insuper quingentos morabitinos auri optimi, et quindecim pesantes de argento, ut faciatis unam Crucem pro illa quam amistis in bello iuxta Trancosum. Etsi aliquis homotam de nostris, quam de extraneis hoc sactum ad rumpendum venerit, in primis sit maledictus, et cum luda traditore in inferno damnatus, et insuper periet quingentos solidos. Facta charta firmitudinis apud Viseum idus Septemb. E. ::::::: Ego Alphonsus gloriosissimus Infans, Portugallensium Princips, própria manu roboro.
Tratam do B Aldeberto Brito na Chr. de Cister l.2 a c.I usque ad 6 e l.3 c.I e 4; Yepez na Benedictina (tom.7 ad na. Christi 1120 c.3); Manrique in Annalibus Cist. tom.I variis in locis, praecipue ad an 1119 e 1123; Henriquez in Menol. Cist. h. d. e in Fasciculo (l.I dist.10); Brandão na p.3 da Monarch Lusit. (l.9 c.9 e 21); F. Elias a Sta. Teresa in leg. Eccl. triunmphantis (l.2 c.27 n.25); o Pe. António de Vasc. in Anaceph. Reg. Portug. c.2 fol.14; Francisco Soarez Toscano nos Paralelos c.2; António Pais Viegas no livro intitulado Princípios de Portugal; Faria no Epitome, e outros.
 
 
e) Na cidade de Granada (côrte noutro tempo do bárbaro Ismaelita) triunfou da Matemática seita, e de seus malditos sequazes, o Pe. Fr. Bernardino de Sta. Maria, Português, glória da sagrada Religião da Santíssima Trindade, de que foi meritíssimo aluno, o qual depois de sofrer com ânimo constante, e jucundo rosto, pelas redenções, e resgates, trabalhos, afrontas, e cárceres, sem limite, foi apedrejado (como outro Sto. Estevão) em ódio de nossa Ortodoxa Fé, cuja bendita alma no meio do conflito se despediu do venturoso corpo, partindo veloz, e voando ligeira no alcance da prometida coroa da justiça, que Deus tem reservado para seus escolhidos, deixando a torrente das pedras todo manchado o cândido hábito Trinitário, que tão doces, e suaves lhe foram.
 
- do comentário:
No governo do Pe. Fr. João de Trecis XXIII Geral da Ordem de SS. Trindade, reinando Maomé o Esquerdo em Granada, padeceu o Pe. Fr. Bernardino de Sta. Maria, Português, cuja pátria [local do nascimento] se ignora até agora, como também o convento de que foi filho, acha-se porém dele menção nos Anais do de Burgos, de onde o Pe. Fr. João Figueiras, Provincial titular de Inglaterra, o tomou para sua Crónica da Ordem, ubi fol.175 F. Bernardinus a S. Maria Lusitanus lapidibus oppetitus Granata in odium sidei orthodoxe pro redimendis captivis. E posto que este Autor não especificou o ano de seu triunfo, mais que o Generalato, contudo Nós o pomos no de 1427 porque no princípio dele o dito bárbaro Rei, ambicioso de dinheiro, pela mesma causa mandou afetear a Fr. Pedro de Perpinhão Mercenário, Redentor geral de sua Ordem. De Granada veja-se por ora Marieta (l.22 das fundações das cidades de Hespanha, Cobarruinas no Tesouro da língua Castelhana, verbo: Granada fol.447; Rodrigo Mendes Silva em sua Poblacion General de Hespanha, e mais copiosamente (com grande erudição, e luz da antiguidade) o Doutor Bermudez de Pedraça em sua hist. Esteve esta cidade debaixo do jugo Maometano sempre com sucessão Real, desde que os Mouros senhorearam Hespanha, até ao tempo dos Reis Católicos, que a conquistaram em 1492.

(continuação da II parte)

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