24/05/17

SEM VERDADE NÃO HÁ ENTENDIMENTO

Há demasiada falta de realismo nos meios conservadores católico, e até tradicionalistas ao referirem o lado que lhes desagrada (e não refiro nada do lado que lhes desagrada, porque aí o tipo de problema é outro). Sem verdade, não há entendimento; sem realidade nas premissas os juízos de nada servirão.

 
Agora, a respeito das comemorações do 13 de Maio de 2017, Roberto de Mattei escreveu:
"A difusão da prática dos primeiros sábados do mês nunca foi promovida pelas autoridades eclesiásticas (...). Mas, acima de tudo, desde cinquenta anos atrás, os clérigos não prégam mais o espírito de sacrifício e de penitência, tão intimamente ligado à espiritualidade dos dois pastorinhos (...)"

Como estas palavras foram dadas pelo autor a um meio de comunicação social italiano (Roma), podemos considerar que Roberto de Mattei dirigia-se apenas àquele público restrito a respeito das autoridades eclesiásticas locais, ou pelo menos italianas; porque é impossível assegurar que em toda a Igreja as autoridades locais nunca tenham veiculado a devoção dos cinco primeiros sábados.
 
Com base em comentários que usuários fizeram ao artigo, constata-se que este "nunca foi promovida" é imediatamente interpretado como se o autor se estivesse a referir a toda a Igreja. Dando o benefício da dúvida, informemos os desinformados: é certo que maioritariamente a devoção dos cinco primeiros sábados não é veiculada nas paróquias, mas é falso que em toda a Igreja nunca tenha sido veiculada oficiosamente.
 
Em Portugal, a devoção dos cinco primeiros sábados é praticada, tal como o é a das primeiras quintas-feiras (dada por Nosso Senhor a Alexandrina da Costa). Muito? pouco? em todas as paróquias? Não posso medir; certamente que antes mais, hoje em poucas paróquias, antes muitas. Relativamente a Fátima, é certo que em Portugal aquilo que poderíamos chamar de "tradição popular religiosa" manteve-se mais sobre o fenómeno aquém fronteiras (ficando a parecer que em Tuy Nossa Senhora foi dar um recado fora de casa). Nos escritos difundidos das aparições de Fátima a aprovação eclesiástica não parece ter colocado restrições à parte dos cinco primeiros sábados, e por isto mesmo podemos encontrar esta matéria divulgada ao longo de décadas.
 
O Santuário de Fátima sempre foi incumbido eclesiasticamente da difusão oficial das matérias relativas às aparições de Nossa Senhora em Fátima, e a devoção aos cinco primeiros sábados constaram durante 100 anos. A 13 de Março de 2007 o Santuário faz um comunicado, no qual se lê:
 
"No contexto da celebração dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora, o Santuário de Fátima entendeu divulgar com maior perseverança a devoção dos Cinco Primeiros Sábados, devoção confiada à vidente Lúcia em Espanha, aprovada pelo Bispo de Leiria a 13 de Setembro de 1939, em Fátima.
Assim, e desde o passado mês de Fevereiro, o Santuário tem vindo a levar a efeito, nos primeiros sábados de cada mês, um programa especial de incentivo à devoção dos Cinco Primeiros Sábados. Trata-se de uma jornada aberta à participação de todos os fiéis, com momentos de oração, uma palestra sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria nas aparições de Tui e Pontevedra (Espanha), a participação numa Eucaristia, a recitação do Rosário e a Adoração ao Santíssimo. Sendo que uma das condições para o cumprimento desta devoção é a prática do sacramento da Reconciliação, os fiéis são convidados a confessarem-se. (...) Alguns dos participantes deslocaram-se a Fátima por curiosidade, outros para acompanhar outras pessoas que entenderam participar. Muitos já conhecem, praticam e divulgam esta devoção. (...) Em declarações à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, no final do Encontro, João Lourenço, natural da Diocese de Portalegre–Castelo Branco, com trinta anos de idade, revela que conhece já há alguns anos esta devoção ao Imaculado Coração de Maria, que procura cumprir há um ano, embora venha “visitar Nossa Senhora de Fátima, de quem gosto muito, desde o ano 2000”. (...)"
 
Portanto, o comunicado é 10 anos antes daquilo que Roberto de Mattei escreveu, certamente não a respeito de toda a Igreja, mas sim de Roma, ou Itália (que é esta a abrangência do jornal Il Tempo onde vem o artigo).

Haja clareza.

(NOTA: neste artigo não se pretende fazer apologias, senão trazer dados necessários que andam em falta).

2 comentários:

Desconhecido disse...

Aí em Portugal é incentivada esta santa devoção, em contrapartida aqui no Brasil nunca tinha ouvido falar, nem em minha Paróquia nem em outras, senão que pela internet. Grande parte do Clero daqui é da maldita teologia da libertação, e não quer saber de penitência e oração, ficam horrorizados quando se fala nisso. Pelo visto Nossa Senhora cumpre a promessa de que o Dogma da Fé não se perderia em Portugal. Salve o Imaculado Coração de Maria!!

anónimo disse...

Caro Desconhecido,

obrigado por comentar.

Sim, aqui tb. não se ouve falar muito, porque acabou por ser uma coisa de devoção mais particular, e terá caído em esquecimento bastante. Com o artigo apenas se pretende dizer que as afirmações de Roberto Mattei não se aplicam a todo o lugar, mas sim apenas localmente na Itália. Em Portugal há de tudo um pouco, e acho que em parte é ignorância e fruto de ideias erradas que avançaram. Existe também gente modernista progressista que odeia a verdade, sente-se mal com ela, e tem prazer em lutar por um "catolicismo" que negue tudo o que a Igreja tinha afirmado, e não têm recta intenção... são maus.

As palavras de Nossa Senhora provavelmente referem-se a algum acidente mais concreto.

Volte sempre.

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