01/06/17

IMAGEM PEREGRINA - MARAVILHAS NA DIOCESE DA GUARDA - 1950 (III)

(continuação da II parte)
 
 
Entre tanta nobreza de alma e piedade nas acções encontramos em Celorico da Beira um das várias entregas de Chave a Nossa Senhora, durante esta peregrinação pela Diocese da Guarda, no ano de 1050. Escolho Celorico como poderia ter escolhido outra terra. Mas, antes de irmos ver como passou, olhemos ao Concelho de Celorico da Beira os dados populacionais daquele ano, e outros.

Eram ao todo 16732 habitantes em 1950; em 1960 baixaram para 14930, eram depois 11386 em 1970, e vieram a decrescer sempre até aos 7693 no ano de 2011 (porque os dados que tenho param aqui). Tomando as fontes dos anos anteriores, constata-se que a década de 50 teve o máximo histórico de população no Concelho, mas que não eram muito menos nas décadas anteriores. Na década de 50, dos 16732 habitantes apenas 1345 tinham mais de 65 anos (hoje são mais de 2268); entre os 25 a 65 anos havia 7125 habitantes (hoje 3758), eram 2765 dos 15 aos 24 (hoje menos de 729), e dos até aos 14 anos eram 5521 (hoje menos de 938).
 
Vamos a Celorico da Beira ver das Chaves:
 
"À entrada, junto ao arco triunfal, o Ex.mº Presidente da Câmara, com todos os vereadores, Juiz da Comarca, com todo o funcionalismo de Justiça, Professores e crianças das escolas, todo o Clero do Arciprestado, todos os organismos da A.C., muitas centenas de raparigas empunhando ramos de brancas flores, e a massa incontável de muitos milhares de pessoas de todas as qualidade e condições.
No meio de cânticos repassados de entusiasmo, aparece a Virgem Peregrina. Uma salva de vinte e um tiros saúda a Excelsa Rainha.
Feito, a custo, silêncio, S. Ex.ª o Sr. Presidente da Câmara saúda em nome da Vila a Excelsa Visitante, e entrega-lhe uma rica Chave de prata e com ela esta Vila com todos os seus moradores. Momento indescritível. Chuva de flores, não cessa de cair sobre a veneranda Imagem da Virgem, a cujos pés se aninham as simpáticas pombinhas [milagre das pombas], que levantam vôo, para logo voltarem a acolher-se junto ao manto da Imaculada.
Põe-se em marcha o grandioso cortejo em direcção ao monumento, que a piedade e a devoção dos filhos de Celorico levantou a tão carinhosa Mãe. O primeiro turno é formado pelas primeiras Autoridades, seguindo-se centenas de turnos durante o caminho para a igreja de Santa Maria, sob cujas abóbodas de maravilha passou o resto da noite.
Era uma hora quando a Imagem foi colocada em alto trono de luzes e flores.
Começa a adoração solene. No altar do Trono, é Exposto o Santíssimo Sacramento, o Rei Imortal dos Séculos, à direita a Rainha Imaculada, e grande, incontável multidão, cantando, rezando e chorando. (...) Assim se passa a noite mais no Céu do que na Terra.
Às 8 horas, celebra a Santa Missa o venerando Prelado. Muitos sacerdotes distribuem a Sagrada Comunhão a mais de três mil comungantes.
(....) Às doze horas, reorganiza-se de novo a procissão para o monumento, onde é celebrada a Missa dos doentinhos. S. Ex.ª Rev.mª fala à imensa multidão, lembrando-lhe a mensagem que a Virgem de Fátima trouxe aos portugueses e ao mundo inteiro. Canta-se, reza-se e chora-se.
Em volta do monumento, os doentinhos esperando a bênção do Santíssimo, Passados momentos, a Hóstia Sacrossanta eleva-se no ostensório para os abençoar; é o silêncio e a oração repossada de esperança e resignação cristã.
A Virgem Peregrina, alçada em alto trono de flores, lá fica até à despedida por ser cantada, louvada e engrandecida pela incontável multidão presa ao doce sorriso dos seus lábios de Mãe. E à tarde, lá vai a caminho de Vale de Azares, ficando nos corações e levando-nos no seu terno coração.
As autoridade do concelho de Celorico, acompanhadas da população, vão até ao terminus do concelho fazer entrega às autoridades do concelho de Trancoso do precioso Tesouro. Celorico da Beira acabara de escrever a página mais bela da sua história.

[veremos depois como em Almeida as casas foram ornadas à antiga]

(a continuar)

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