02/06/14

CONGAR - A NOVA ECLESIOLOGIA (III)

(continuação da II parte)

3. O Padre Couturier, ou a "espiritualidade ecuménica".
O Pastor Gunner Rosendal afirma que o Padre Couturier foi "o maior apóstolo da oração para a unidade, que alguma vez passou por este mundo"(4). O Padre Couturier aplicou-se em fazer mudar de sentido a semana de oração de 18 a 25 de Janeiro. Através de dois artigos publicados em 1935 e 1937 na "Revue Apologetique", tentou esclarecer o sentido da oração para a unidade. E começou por colocar-se a si próprio uma questão: como poderão católicos e protestantes rezar juntos quando não têm a mesma concepção da unidade? Para um católico, com efeito, a unidade já existe no seio da Igreja católica, tratava-se pois de conseguir que os protestantes e os cismáticos integrassem esta unidade. Como rezar então em união com os protestantes que, é evidente, não pedem a mesma coisa? O católico parece estar preso num dilema: ou não é sincero, ao esconder a sua convicção de estar na verdadeira Igreja de Cristo, ou então já não é católico, ao deixar de acreditar na divindade da Igreja.


Para esta dificuldade que ele próprio levantou (porque realmente ninguém obriga os católicos a esconder que rezam para o regresso dos tresmalhados à Fé única), o Padre Couturier esforçou-se por encontrar uma solução: é necessário, dizia ele, ultrapassar este problema mergulhando nos desígnios insondáveis do Coração de Jesus. Não devemos negar as diferenças de visões, é necessário simplesmente ultrapassá-las para nos reencontrarmos todos, lado a lado, (anglicanos, católicos, ortodoxos, protestantes...) no Coração de Jesus, pedindo a "unidade tal como Cristo a quer, no tempo, e através dos meios que Ele desejar". A união mística de todos os homens rezando, formará um imenso mosteiro invisível e "nesta oração realmente humilde, sussurrante de Confiteor produzir-se-à uma intercomunhão das almas onde cada um começará a olhar os outros dentro do Coração de Jesus".


Linda ilusão sentimental-mística que parece resolver o problema abandonando a doutrina católica: como imaginar então que as intenções do Coração de jesus possam ser diferentes das da Santa igreja? Debaixo de um pretexto muito louvável (a oração) reencontramos a tática do falso ecumenismo: dissimular a realidade por meio de bonitas e vagas fórmulas vagas, sobre as quais toda a gente esteja de acordo.

Abundantemente difundida entre os católicos, como também entre os protestantes, a espiritualidade do falso ecumenismo do Padre Couturier não podia senão conduzir os católicos a perderem a Fé na Igreja (visto que eram conduzidos, na sua própria oração, a fazer abstracção do Dogma católico!); ela entregava-os sem resistência, a uma problemática sem resolução, porque falseada desde a origem: como conseguir assegurar a unidade dos cristãos sem que ninguém abandone as suas convicções?

Desde os anos 30, o Padre Congar contactava com o Padre Couturier, participando assim com ele, nos encontros com ortodoxos ou anglicanos.

(continuação, IV parte)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES