30/06/14

CONGAR - A NOVA ECLESIOLOGIA (IV)

(continuação da III parte)

II
A Formação do Padre Congar

No seio da Ordem dominicana, duas personalidades tiveram uma grande influência sobre Congar: o Padre Boisselot (co-fundador da "Vie intellectualle" e de "Sept") e o Padre Chenu.

1. O Padre Boisselot e o espírito de "Sept".
1926 foi uma data chave na história da Ordem dominicana em França. A condenação da "Action Française" pelo Papa Pio XI provocou com efeito, uma verdadeira reviravolta na Ordem: os modernistas, que tinham sido condenados por S. Pio X como sendo os maiores inimigos da Igreja, aproveitaram a confusão para denunciar como sendo favoráveis à "Action Française", todos os anti-modernistas, para os afastar, e os substituir pouco a pouco. Não vamos examinar aqui as circunstãncias desta condenação. Mencionaremos no entanto algumas consequências características no seio da Ordem dominicana. (5)

"A leitura da "Action Française" era um sinal não equívoco de rectidão de espírito, de saúde intelectual, de pureza doutrinal, na ordem filosófica, moral, religiosa (não hesitava em escrever o pe. Pèuges, Superior do convento Saint Maximin). O acordo estabelecia-se por si próprio entre o mais autêntico pensamento aristotélico e tomista, e a mentalidade da Action Française (A. F.), e pelo contrário, tudo o que fosse suspeito de modernismo, liberalismo, anticatolicismo, laicismo, ou de democratismo funesto, era por instinto inimigo da A. F."

A Ordem dominicana abarca três províncias (Lyon, Paris, Toulouse), que possuem, cada uma, os seus conventos de estudo onde são formados os irmãos estudantes. Antes de 1926, a ordem era, na sua maior parte, firmemente anti-modernista. A crise de 1926 será a ocasião de colocar os liberais nos lugares-chave:

Charles Maurras, cabeça da
Action Française
- na província de Toulouse, o Pe. Pègues, que era superior (Mestre dos estudos) recebeu de Roma, no dia 7 de Setembro de 1927, a ordem de abandonar o seu cargo. A razão oficial fôra a sua simpatia por Maurras. Será interessante salientar que, já no dia 8 de Julho de 1926, e isto antes da condenação da Action Française, um grupo de professores de Saint Maximin tinha-se queixado da intransigência do seu director, pedindo que o seu mandato não fosse renovado. Os principais opositores de Pe. Pègues eram o Pe. Lajeunie, (o Pe. Bernardot tinha estado em Roma em Abril-Maio de 1927 para apresentar a Pio XI o seu projecto de fundação da revista "la vie intellectuelle" destinada a combater a influência de maurras nos católicos. Não existem dúvidas de que a retirada do Pe. Pègues fosse para ele uma vitória pessoal).

Um beneditino, comentando em 1927, o afastamento do Pe. Pègues: "Os modernistas erguem a cabeça. Quizeram quebrar o único dique que se opunha ao liberalismo religioso (...). Todo o liberalismo político vai tentar passar através da fenda. Eles vão chegar longe, muito longe, e provavelmente muito depressa."

- na província de Lyon, as coisas parecem ter acontecido de uma forma mais suave, mas alguns religiosos no entanto, parecem ter sido fortemente abalados pela condenação da A. F.. Salientemos o Padre Lebret, até então favorável a Maurras, e que se esforçou por se submeter, e anos mais tarde se tornou marxista. Fundador do centro "Economie et Humanisme", teve uma grande influência na sua província.

- e por fim, na província de Paris, o Pe. Janvier, que se submeteu no entanto totalmente à decisão de Roma, mas que, sendo acusado de permanecer favorável à A. F., se viu obrigado a abandonar em Setembro de 1928, a publicação das suas "Nouvelles Religieuses". "Lá Vie Spirituelle" dos padres Bernardot e Boisselot, veio substituí-las. O Pe. Réginald Berguer, Reitor dos estudantes no Saulchoir foi qualificado de "favorável à Action Française, mas sem proselitismo". Teve que ceder a seu lugar em 1927, ao Pe. Joséph Périnelle, antigo do "Sillon", e que aos 39 anos entrou para os dominicanos. As novas vocações tinham que estar conforme ao novo espírito, e para comprovar este facto, lembramos o Sr. Besançon, que em 1928, três meses antes da sua profissão solene no Saulchoir, foi dissuadido de a concretizar pelo Superior da província que lhe declarou que ele seria recusado pelo conselho do Saulchoir, por causa das suas ideias "de tendências integristas" (tinha passado pelo seminário francês de Roma, no tempo do Pe. Le Floch). No entanto, denota o Pe. Rettenbach "ele causava uma grande impressão no noviciado, pela sua regularidade".

Torna-se então evidente que o Pe. Congar, ao ter entrado em 1925 para a Ordem dominicana, foi formado dentro deste novo espírito, favorável às ideias do Sillon, e dos modernismo. Ele foi muito influenciado, no domínio teológico pelas teorias do Pe. Chenu.

(continuação, V parte)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES