02/06/14

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (VII)

(continuação da VI parte)


Capítulo 3º
De como procedeu o Ex.mº Bispo do Algarve, hoje Confessor de Sua Majestade, à solene Sagração de onze sinos para a Real Basílica, no dia 17 de Agosto de 1788, tendo para isso faculdade de S. Em.ª

Os desvelos, e cuidados de todos eram em que esta obra se concluísse com a maior brevidade, para deste modo se ver satisfeito o Santo e ardente desejo de S. Majestade, no inteiro cumprimento do seu voto; isto fez que a obra não só andasse mas que voasse de tal modo, que correndo o ano de 1788, ela se achava tão adiantada, que as torres já estavam acabadas de todo, e os sinos para elas também fundidos: pareceu que os mesmos deviam logo ser sagrados, e elevados aos seus lugares: determinou-se o dia para a sua sagração, e S. Em.ª ordenou, que da Sta. Igreja Patriarcal se conduzisse tudo o que era necessário, para que S. Ex.ª procedesse a esta função, com a maior grandeza; e para que tudo correspondesse, a armação foi tão luzida, como se vê da fiel atestação que nos deu o mesmo armador da Sta. Igreja Patriarcal, Fernando António, que foi o encarregado da mesma, a qual é do teor seguinte:

Interior da basílica, nas exéquias de D. Fernando
"Ornou-se de portas de cortinas de damasco, e sanefas de veludo, guarnecidas de galões e franjas de ouro o átrio junto à portaria, por onde entraram Sua Majestade e Altezas, e formou-se do dito átrio, até ao cruzeiro da Igreja um corredor toldado de damasco, com as paredes cobertas de tapeçaria, guarnecidas de sanefas de veludo lavrado, e cortinas nas portas, que faziam frente dos confessionário, e de várias mais que se fingiram, e todo alcatifado: e no fim do dito corredor do lado direito se fez uma casa toldada de damasco,armada da mesma sorte, alcatifada com uma alcatifa da Índia, e com uma credência coberta de damasco, para se paramentar o Ex.mº Senhor D. José Maria, Bispo do Algarve.
Seguiu-se a serventia por todo o cruzeiro da parte esquerda, e pelo meio da Igreja com uma teia de cada lado, coberta de tapeçaria, até à distância em que principiava a escada, daí para cima era coberta de damasco, e tudo alcatifado com alcatifas da Índia: e logo se via um plano espaçoso, onde se formaram três portais para as tribunas, as quais davam serventia pelas mesmas portas da Igreja; o do meio ornado com um reposteiro de veludo guarnecido com galões de ouro, e com as Armas Reais bordadas; por este se serviu S. Majestade e Altezas para a tribuna em que estiveram assistindo, e os dois dos lados com Reposteiros de damasco, por onde se serviram as Ex.mas Damas para as duas tribunas, fazendo nas engras do mesmo plano dois repartimentos em volta armados também de damasco, que o faziam mais vistoso, e tinham o destino retretes, se fossem precisos.


A tribuna de S. Majestade e Altezas, estava armada de cetim carmesim bordado de espiguinha de ouro todo em xadrez pelos centros, e com cercaduras também bordadas por todas as divisões, e com um pavilhão na entrada, que depois ficou servindo de espaldar, guarnecido de sanefas de damasco de ouro e também serrada a dita tribuna com duas cortinas do mesmo, que correram ao tempo em que S. Majestade e Altezas entraram na tribuna, e ficaram por baixo de outras de veludo bordado de ouro com que se guarnecia geralmente a tribuna, em todas as divisões da frente com sanefas irmãs e guarnecidas com galões de ouro e franjas de cachos, e da mesma sorte o cobertor do parapeito pela parte de fora, que por dentro era de damasco de ouro, igual às cortinas de correr, e alcatifada de alcatifas da Índia.
As tribunas das Ex.mas Damas armadas de damasco, e guarnecidas de sanefas de veludo com galões e franjas de ouro, também alcatifadas.
Ficaram as referidas tribunas colocadas na frente do átrio da igreja, no qual estavam dependurados os sinos, e cobertos todos os tectos de damasco guarnecidos de galões entrefinos, igualmente correspondendo a obra das paredes, com as divisões de veludo, e no tecto do meio um grande apainelado de cetim branco bordado de ouro, e veludo cingido de uma cercadura do mesmo também bordado, que o guarnecia, e nas mais o mesmo de damasco de ouro branco, arrematando geralmente tudo em roda junto à cimalha de sanefas de veludo bordadas de galões de ouro, de onde pegavam cortinas também de veludo, que guarneciam todos os intervalos da pedraria dos lados; e todas as vigas, e mais aparelhos que suspendiam os sinos estavam cobertas de damasco, guarnecidas de galão entrefino: por baixo das tribunas se armou de veludo de xadrez, e o pavimento de tudo coberto com alcatifas de França.
Na casa da portaria foram as paredes cobertas com tapeçaria, e as portas todas com sanefas de veludo guarnecidas de galão e franja de ouro, com cortinas de damasco, e alcatifada de alcatifas da Índia.
E assim se fez o conteúdo, que satisfazendo à minha obrigação, recordei em 21 de Agosto de 1788. (Fernando António Fidié)"


Preparado assim tudo, se procedeu na maneira seguinte à sagração dos onze sinos.

(a continuar)

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