02/01/15

CONTRA-MINA Nº 33: Última Esperança dos Pedreiros ... (I)

CONTRA-MINA
Periódico Moral, e Político,

por

Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Monge de Alcobaça.

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Nº 33
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O medonho Fantasma se esvaece,
O dia torna, e a sombra se dissipa;
Os Insectos feíssimos de chofre
Entram no poço do afumado Inferno:
Eternamente a tampa se aferrolha.
No meio do clarão vejo no Trono,
Cercado de esplendor, MIGUEL PRIMEIRO.
(Macedo, Viagem Estática ao Templo da Sabedoria, pág. 141)
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A Última Esperança dos Malvados Pedreiros Livres Deste Reino.

D. Miguel I, no exílio
"Não tem suado mais camisas os navegantes do ar, para que os seus balões tenham uma carreira certa, e segura, do que os Aeronautas Pedreiros Livres, para que o mui Alto, e mui Poderoso Senhor D. MIGUEL I chegue a cair do Trono, a que chamaram tantos, e tão incontestáveis Direitos. Assim como os primeiros, sem embargo de tentativas inúteis, de pernas quebradas, de miolos fora, e outros que tais desastres, nunca desistem da empresa começada, nem falta quem, pondo de parte as memórias da terrível cambalhota de Pilâtre Rozier, presuma, que facilmente poderá ter melhor sucesso, e longe de se escarmentar do passado, finja melhor sorte para o futuro; assim também essa matilha de foragidos, que, para nódoa eterna do nome Português, vagueiam, e ladram por toda a Europa, fazendo-se agentes, e procuradores de quem lhes não encomendou o Sermão, mas que lho pagará em boa moeda corrente de balas, e cacetadas, se por ventura os colhesse a passear, ou desembarcar nas Costas deste Reino; já fizeram a primeira tentativa,quebraram-lhes as pernas; fizeram segunda, e vazaram-lhes os miolos; mas para fazerem terceira meditaram seriamente o caso, e dando a todas as gerações presentes, e futuras o vergonhoso espetáculo da mais rematada vilania, chamaram os Estrangeiros, para que estes alcançassem, o que os Naturais por escravizados, e martirizados nunca poderiam alcançar. O certo é, que um Rei da condição, ardimento, e valentia do Senhor D. MIGUEL I nem para Regente pode servir a homens Pedreiros Livres, cujo intento é governar, e roubar; e portanto acordaram entre si a eleição de um Regente do seu molde, que os livrasse de todos os sustos de algum pontapé fatal, e atordoador, como foi o de 22 de Fevereiro de 1828, que ainda lhes faz trazer as veneráveis cabeças a razão de juro.

Antes deste novíssimo aresto já tinham batido a muitas portas, ainda que infructuosamente; e a neta de um Rei de Portugal, e de um Imperador de Áustria tem sido como posta a lanços, para quem mais der, assim por modo de Igreja, ou Benefício controverso, que se apresenta em sujeito, que o defende à sua custa, e não exija do Padroeiro outra coisas, agora os títulos de alguma doação, ou posso, em que se funde o seu Direito. A falarmos a verdade, uma Senhora, que promete um Título de Rei, a quem casar com ela, parece que deveria achar muitos Príncipes, que a quisessem para Consorte, porém não sucedeu assim, porque todos os Candidatos sentiram o perigo à espada, e não quiseram meter-se em camisas de onze varas.

(continuação, II parte)

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